Xadrez

Daniel Covas
7 min readDec 14, 2022

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Hoje, para abrir mais uma semana, trago um tema que, apesar de ser um jogo, dos mais antigos conhecidos pela humanidade, é mais do que isso. É um de onde podemos retirar princípios e analogias que servem para a nossa vida quotidiana e para a tomada de decisões em momentos importantes também. Um jogo que me acompanha desde há bastante e pelo qual voltei a renovar a minha paixão há relativamente pouco tempo. No entanto, as regras e princípios adjacentes a ele e que posso transpor para a vida, essas acompanham-me desde que o conheci.

· O jogo da vida: A analogia do xadrez

Xadrez: A analogia da vida

Como disse, mais do que um jogo, para os amantes deste considerado desporto, o xadrez torna-se um hobbie bastante consumidor de tempo e bastante enriquecedor da mente e da capacidade lógica e de raciocínio. Num breve resumo, para quem pode estar menos familiarizado com o jogo, deixem-me colocar-vos a jogar em casa:

O xadrez teve as suas raízes num outro jogo, que remonta à Índia, entre o século VI e VIII. À medida que foi sendo adaptado pelos países europeus, evoluiu para o formato que conhecemos hoje como xadrez. Um tabuleiro, dividido em 8 linhas e 8 colunas, em que as colunas têm uma denominação com letras (de “a” a “h”, da esquerda para a direita) e as linhas uma numeração (de 1 a 8, de baixo para cima), perfazendo um total de 64 quadrados, chamados “casas”. Relativamente a estas casas, 32 são claras e 32 são escuras (a coloração alterna, de forma que ao lado de casa clara existe uma escura e vice-versa). O tabuleiro está devidamente orientado quando a casa que corresponde a h1 é branca (casa no extremo inferior direito, na perspetiva do detentor das peças brancas, que é o iniciador do jogo). Relativamente às peças, temos 16 para cada lado. Brancas e pretas. Da esquerda para a direita, colocamos uma torre, um cavalo, um bispo, a rainha, o rei e novamente, em espelho, um bispo, um cavalo e uma torre. Em frente a cada uma destas colocamos um peão. Esta é a disposição inicial e a partir da qual se inicia qualquer jogo comum, com a primeira jogada a ser sempre do jogador com as peças brancas (após cada jogo, alternam-se as peças, para que ambos os jogadores tenham a hipótese de iniciar). O objetivo do jogo é capturar o rei adversário, encurralando-o de forma a que seja impossível escapar — a isto se chama xeque-mate.

Isto é tudo muito engraçado, mas não estou aqui para vos aborrecer com uma aula de introdução ao xadrez. Estou aqui para vos falar e mostrar o quanto este jogo nos ensina sobre a vida. Vamos começar do início. Em qualquer situação, podemos escolher ser ativos e dar um primeiro passo antes de tudo (escolhemos ser as peças brancas) ou podemos esperar que algo aconteça para que ponderemos melhor as nossas ações (escolhemos as peças pretas). Na primeira jogada feita, existem 20 movimentos diferentes possíveis para ambos os lados. A partir daí? As possibilidades são quase infinitas. É quase impossível ver dois jogos de xadrez totalmente iguais, pois os milhões de combinações possíveis é precisamente o que torna este jogo fascinante. De lembrar que é um jogo sem solução, sem uma metodologia perfeita para vencer. No entanto, existem várias jogadas que se reconhecem claramente como vantajosas e outras que claramente são movimentos desperdiçados — Curiosamente, tal como a vida, não sabemos de que forma vai terminar. Não existe uma forma perfeita ou 100% certa de se viver. Existem ações que nos beneficiam e existem ações que nos prejudicam (quer seja no curto prazo quer seja no longo prazo) — No xadrez funciona de igual modo. Oferecer uma peça valiosa ao adversário é um erro a curto prazo que dói. Uma estrutura mal construída é um erro a longo prazo que vai custar, provavelmente, a vitória. A partir do momento em que o jogo se desenrola, tudo se torna possível.

Tal como na vida, existem aqueles que parecem nascer num “berço de ouro” — consideremos o rei, a rainha e as duas torres. — Outros que estão bem posicionados — Olhemos para os cavalos e os bispos — E ainda, aqueles que lutam de qualquer forma para se fazerem notar — os peões, claro. Temos aqui, representado no jogo, as nossas classes sociais, as diferenças de potencialidade que existem que, se forem mal interpretadas, custam caro e se forem bem utilizadas, até a peça mais fraca se torna numa grande arma. Um dos lemas mais nobres que existe dentro de qualquer organização de competição de equipa é que “a equipa é tão forte quanto o seu elemento mais fraco”. Aqui é igual, pois um peão desvalorizado e ignorado pelo adversário, caso consiga chegar ao lado contrário do campo, pode ser promovido a uma rainha, a peça mais forte em campo. Lição: não desvalorizes aquilo que não conheces. Tudo e todos têm uma força, qualquer que seja ela.

Os bispos e os cavalos são peças de ameaça média, com maior mobilidade que os peões. São bastantes importantes no desenvolvimento do jogo e são por norma as peças de recurso para ataques compostos, que permitem fazer a diferença. São os trabalhadores. Os que estão na frente, que dão o sangue, suor e lágrimas pela equipa, por assim dizer. Numa fase de desfecho e para forçar conclusão, só aí surgem a rainha e as duas torres (o rei é a peça a ser protegida, só entra na fase de ataque em último recurso). Estas peças “pesadas”, de mais valor, importância e capacidade de movimento, proporcionam diversidade, dinamismo e expansão de movimento, variando e aumentado a amplitude do ataque. Podemos olhar para estas peças como os líderes, aqueles que indicam o caminho, que permitem que outros vão à frente ou que eles próprios o façam. Como vêm, inicialmente a analogia foi sobre as classes sociais, agora foi diferente. Podemos adaptar isto da maneira que desejarmos. Outra lição: aquilo que é o nosso bem mais precioso tem de ser protegido a todo o custo (defender o rei, enquanto capturamos o do adversário).

No entanto, a analogia que mais me apraz fazer neste jogo é imaginar que o adversário do outro lado somos nós. Outra versão de nós. Seja uma anterior ou uma posterior. No primeiro caso, se estivermos a defrontar uma versão anterior, devemos ganhar. Pois a nossa capacidade tática evoluiu. A nossa estratégia está mais refinada. Em suma, estamos melhores. E por isso, conseguimos ser melhor que antes.

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Por outro lado, quando somos confrontados com uma versão de nós que ainda não conhecemos, o mais pequeno erro cometido vai fazer-nos sangrar. Vamos perder. E a derrota significa aprendizagem. Qualquer bom jogador de xadrez revê os seus jogos, quer tenha ganho ou perdido, pois ele sabe que ali há lições para tirar. — Tal como na vida, quando nos deparamos com uma nova situação, algo desconhecido. Ao mais pequeno erro, falhamos. Isso não significa que somos maus. Significa que ainda não aprendemos a fazer bem aquela tarefa ou que ainda não dominámos competências ou capacidades para executar a tarefa da melhor forma. — Voltando ao xadrez, podemos ter de afinar o nosso ataque, fortalecer a nossa defesa, melhorar a nossa estrutura de desenvolvimento de jogo. Alguma coisa está dentro do nosso controlo para podermos fazer de forma diferente para que o resultado do próximo jogo seja diferente.

O xadrez, como a vida, é imprevisível. Na vida, ela própria acontece. A natureza faz das suas, surgem acontecimentos de fontes que não controlamos. No xadrez, é igual. Tudo aquilo que o nosso adversário faz está fora do nosso controlo. Na vida, aquilo que podemos controlar são as nossas ações. O nosso estudo. O nosso trabalho diário. O nosso treino. A nossa evolução. Vejam só, no xadrez é igual! Podemos controlar a forma como fazemos a nossa abertura. Podemos controlar o nosso desenvolvimento, quer estejamos a atacar ou defender. Na vida, conquistamos algumas coisas, falhamos noutras e podemos seguir em frente na mesma. No xadrez, ganhamos jogos, perdemos outros e podemos seguir em frente na mesma.

Existem mais lições que podemos extrair do tabuleiro e das peças para a vida. E ao contrário. Podemos implementar estratégias da nossa vida a jogar xadrez. Tudo se interliga. E, até mesmo num tabuleiro de xadrez, nem tudo é preto no branco.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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