When it hurts…
Estamos de regresso após um largo período de ausência. Hoje trago algo que retrata os tempos de afastamento, mais do que tudo o resto: dor. Os benefícios que vêm daí. O ódio que cresce. Não por alguém, mas por situações. O tipo de ódio que é bom ter, porque evita tolerâncias desnecessárias.
Independentemente da origem, tudo o que nos faz afastar provém de um efeito nefasto que nos confunde, deturpa ou elimina a nossa identidade. Quando tudo aquilo que somos e fazemos perde todo o sentido (ainda que seja temporário), a nossa reação natural é repudiante. É afastamento. Criamos aquela mítica “bolha”, com a qual todos nós somos familiares, e aí ficamos. Não a viver. Nem sequer a sobreviver. Simplesmente a existir. E isso é possível de descrever com tantas palavras e sobre tantas perspetivas, que não vou sequer usar o meu tempo e a minha capacidade a fazê-lo. Porque nenhuma publicação aqui, até hoje, mais ou menos técnica, mais ou menos específica, tem conteúdo que não seja percetível e dedutível. Simplesmente precisamos de ouvir ou ler, de uma fonte diferente da nossa cabeça, diferente de nós mesmos, para conseguirmos ver a mesma informação com um novo e maior nível de clareza. Porque é sobretudo isso que sempre procuramos. Mais do que a certeza, é a clareza. Porque ainda que seja certo, se não for claro não nos conforta. Enquanto que, se for claro, mas um pouco incerto, o risco parece sempre menor e a paz parece bem maior.
Quando nos afastamos, mais uma vez, fazemo-lo porque tudo ficou escuro. Perdemos a clareza sobre tudo à nossa volta. O que significa que precisamos voltar a encontrar o botão que acende a nossa luz para voltarmos a ver com clareza tudo o que está a acontecer e tudo o que estamos a fazer. É assim que curamos a nossa dor. Com clareza sobre aquilo que a originou, para podermos enfrentar e superar o desafio em questão da melhor forma possível. O que me leva à segunda questão: ódio.
Ódio é uma palavra com um grau conotativo altamente negativo. E com toda a razão, porque tudo o que provém desta palavra, raramente é positivo para alguém, especialmente quando aliamos este sentimento e escolhemos nutri-lo por alguém. No entanto, em situações bastante específicas, quando escolhemos odiar as coisas certas, podemos usar o ódio como força motriz para a nossa mudança.
Quando decidimos odiar a preguiça, a procrastinação, o lazer sem sentido… Quando escolhemos odiar tudo aquilo que está a atrapalhar a nossa vida, ganhamos um novo poder: a vontade de controlo. Tudo aquilo que não odiamos, eventualmente toleramos. É uma frase muito sábia, que nos permite reconhecer que, se existe algo na nossa vida que nós deixamos simplesmente existir, vamos deixar que isso continue a ficar, de uma forma ou de outra, tornando-se um hábito involuntário e pouco saudável e a partir daí, instalou-se na nossa vida, contra nós próprios. O que é bom e positivo, é que podemos decidir a qualquer momento, odiar algum aspeto da nossa vida com o qual não estamos satisfeitos. E esse é, certamente, um dos caminhos mais rápidos para o alterar.
Portanto, quando dói, significa que o nosso canal de clareza está entupido. Ou seja, temos de encontrar aquilo que está a viver em nós contra o nosso desejo e a nossa vontade. Depois, direcionar a nossa frustração e impaciência para esse aspeto. Transformar isso em ódio e encontrar o hábito de substituição que merecemos incluir na nossa jornada vital. Quem me dera que fosse tão simples fazer o que acabei de descrever como o foi escrever esta publicação. Adivinhem só? Pode não ser assim tão fácil, mas é tão simples como tomar a decisão de o fazer e seguir esse caminho até funcionar. Tudo o que é fácil não vale a pena. Tudo o que vale a pena vem mascarado de um bom desafio de crescimento. Aqui está escondida a felicidade e a realização. Tudo é simples, quando escolhemos ignorar o ruído à volta.