Vitimização

O amor da atenção e a dor da libertação

Daniel Covas
4 min readJun 6, 2024

“Antes de curar alguém, pergunta-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer”, Hipócrates

Esta frase (que inclusive acredito já a ter utilizado em outras publicações) surge hoje para abrir esta que estava já há umas boas semanas nos rascunhos. Existe alguma possibilidade de me tornar aqui um pouco agressivo, dado a natureza do assunto, uma vez que é importante ser assertivo nestas temáticas, de forma a criar separação entre a empatia e o reconhecimento do “coitadismo”. Diz também um dos livros mais aclamados do mundo, a Bíblia, em João, 8:32 “E conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará”.

O caminho

Mais uma vez, repetindo novamente este pequeno grande princípio que remete a um dos nossos primordiais modos de comunicação, chorar. Quando em bebés, ao chorar, chamamos a atenção. O choro, por si só, é uma manifestação de libertação, por norma, de um mal-estar. Isto porque, em estágios iniciais da vida, não temos desenvolvida a vertente emocional que nos permite chorar por motivos inspiradores ou de felicidade (a tal libertação). O que gera em nós, de forma inconsciente, uma equação que governa uma grande parte do nosso sistema mental automático: DOR = AMOR. É para esta equação que vamos “fugir”, quando as coisas sairem do nosso controlo “Porque não nos levantamos para a ocasião, caimos para o nosso nível de preparação”. Essa é a verdade. E este é um dos mecanismos mais enraizados que temos. Logo, um dos mais complexos e trabalhosos de desmontar e reconhecer. O primeiro passo dessa jornada, é reconhecer e aceitar que temos este mecanismo, esta equação, presente em nós.

“Ah, mas eu cá não choro”. A verdade é que, depois de crescermos, já não é sobre chorar. É sim, sobre os dois lados da equação: Dor ou Amor. Cada um destes aspetos pode ser manifestado de diversas e variadas formas. A dor, por um lado, pende muito para a sua associação com o vitimismo. Que leva a toda a vertente de fazermos com que sintam pena de nós, fazendo-nos passar por coitadinhos, que precisam ser ajudados. O amor, por outro lado, é uma das expansões máximas do nosso ser. É honrar quem somos, verdadeiramente e essencialmente. É algo incondicional, que está para lá do que fazem (ou não) por nós, porque nós decidimos o que fazemos, por nós, para quem quer que seja.

As condicionantes

Em dor, estamos limitados. Presos, normalmente numa jaula mental que criamos e em que ficamos (demasiado) confortáveis. Fazendo questão que todos saibam e reconheçam esse nosso estado. Isto porque, ao não sabermos, e sobretudo, não estarmos dispostos a abandonar essa condição, alimentamo-nos a permanecer nela. E pior, começamos a acreditar que é aí que estamos bem e devemos continuar (a frase de abertura da publicação, lembras-te?)

Deixa-me dizer-te, ou melhor, escrever-te isto: ninguém merece ser vítima de si próprio. Ninguém merece ser coitadinho. Ninguém merece ser o seu próprio prisioneiro. A realidade é que é fácil de entrarmos nesta espiral, porque basta que comecemos a culpar alguma coisa, qualquer que seja, exterior a nós, por um determinado resultado que obtivemos. Isso é o colocar do pé na armadilha. Quando desviamos a responsabilidade de nós próprios, afastamos a possibilidade de viver em amor e aproximamo-nos da vivência em dor. Isto porque, ao não assumir a responsabilidade, vamos apontar o dedo a alguma coisa. Sendo assim, vamos reclamar. E quem reclama, é vítima das circunstâncias da vida. Torna-se, passo a passo, cego às oportunidades e visionário apenas dos problemas.

Os maximizantes

Viver em amor não é ter uma vida perfeita, em que tudo o que acontece é bom — É sim ter uma vida plena, de aceitação. De fluidez. Para lá da aceitação (que é, certamente, um dos primeiros passos-chave para uma vida em amor), assumir a responsabilização total pelos resultados e acontecimentos da nossa vida é o que cria o escudo “anti-vítima”. A decisão de o fazer, ainda que não seja agradável, é a necessária para viver em paz no longo prazo. Deixo-vos um exemplo, para mim, que resume o que é responsabilização total, em 2:20 minutos, e contribui para enterdermos como ressignificar a responsabilidade. Não é controlar tudo, é fazer tudo o que podemos que está no nosso controlo: criar os nossos pensamentos, gerir as nossas emoções, escolher as nossas ações.

Observações finais

Nada é tão linear assim na vida. Cada situação é uma situação, eu sei. E se fosse abordar especificamente todas as complexidades de cada tema, escrevia um livro por semana, não uma publicação num blog. A ideia é dar o conceito, observações e acreditações gerais. De forma a que tu, desse lado, possas identificar alguma coisa de forma mais superficial, e decidas, por ti, pela tua consciência e através do teu pensamento crítico, se vais ou não querer investir tempo e/ou dinheiro a trabalhar esse determinado aspeto, por fazer sentido para ti e não porque eu o referenciei.

Vitimização é, acredito eu, um dos piores estados em que podemos permanecer. Claro que, nem que momentaneamente, todos passamos por ele. É instintivo. E com o devido treino, podemos também passar cada vez menos tempo quando ele se nos sobrepõe, porque a nossa consciência está alerta e reconhece esse estado, permitindo que, também de forma consciente, saiamos dele e o alteremos. Passar por ele não é uma escolha, permanecer nele é uma decisão.

De que forma já assumiste a responsabilidade em treinar o teu estado de responsabilização perante a vida hoje?

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Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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