Velocidade
Vai sem pressa, vai com direção. Demorar é diferente de estar parado
Um tópico que podemos associar à nossa atualidade, que já várias vezes abordei e toquei, o de “querermos tudo para ontem”. Esta extrema necessidade de obtenção instantânea, intrinsecamente ligada à disrupção da produção de dopamina, é um dos fatores que mais nos desorienta face à conquista de metas, objetivos e a atingir algum tipo de harmonia vital. Queremos viver à velocidade do mundo, quando devíamos simplesmente assistir à evolução dele, fazendo-o viver à nossa velocidade. Tornamo-nos tão dependentes de um determinado ritmo, que ficamos viciados em fazer, em ir mais rápido. Só para no final perceber que estamos a cair na armadilha de nos tornarmos velocistas de não chegar a lado nenhum, porque a ocupação a que nos dedicámos a nível de aceleração não tinha clareza de intenção, para começar.
Proposta de direção
O início de qualquer caminho, implica a definição de um destino. A definição de um destino, pressupõe a existência de um caminho, ou várias hipóteses de caminho. Esse caminho dá-nos aquilo que é a direção.
A direção é efetivamente algo importante, pois permite que não andemos à deriva pela vida, seja dentro da área que for. Devemos antes de qualquer início, estabelecer a meta de forma a definir o caminho. Jim Rohn tem uma frase interessante, que demorei algum tempo a integrar e compreender na totalidade. Porque a princípio, não me fazia grande sentido:
“Não comeces o dia até o teres terminado. Não comeces a semana até a teres terminado. Não comeces o mês sem o teres terminado. Planeia o teu dia.”
Esta citação remete para o facto de, mentalmente, termos presente a capacidade de visualizar o final, antes mesmo do início efetivo. Ou seja, a direção torna-se tão clara que, na nossa cabeça, já terminámos (estabelecemos o caminho até ao que queremos atingir) mesmo antes de termos começado. Aqui, vemos refletida a importância de mais um aspeto chave…
Planeamento
Ao imaginarmos a representação dos passos, desde o nosso estado atual até ao nosso estado desejado na mente, conseguimos estabelecer uma linha temporal com as ações necessárias que nos vão impulsionar a chegar até lá. Depois desse estrategema mental, é benéfico trazer esse modelo de pensamento para a realidade, nomeadamente através do planeamento.
Atualmente, com a digitalização, alguns de nós passam ao lado do papel. Eu aprecio ainda bastante pegar na caneta e trazer para a folha (ou quadro, no meu caso específico) aquilo que tenho desenhado no interior da minha cabeça. Está provado que essa ligação neural entre a escrita como meio de desalfandegamento de pensamentos é mais benéfica à exploração e estimulação da criatividade do que usar aplarelhos tecnológicos para o mesmo efeito. A minha primeira fonte de ideias é escrita. Depois disso, sim, uso o Google Calendar para tirar o maior partido de ambas as formas de planeamento:
- A escrita manual, pela criatividade e processo de criação
- O calendário digital, (para guardar o potencial da memória para as tarefas verdadeiramente importantes), pelos lembretes
O planeamento deve ser o mais estratégico, e sobretudo, o mais acionável possível. Um plano que é demasiado ponderado, pensado, que é adornado e tentado tornar perfeito, acaba por se tornar numa perda de tempo mais do que numa prática eficaz de alcance de objetivos.
Execução
Após a conclusão do planeamento, vem a fase mais importante: a ação. Fazer é a única coisa que comprova a efetividade do plano, a razão do propósito, a vontade de atingir o objetivo final e tudo o que a isso está associado. Deparei-me há um tempo com um vídeo que dizia o seguinte:
“Preparar para fazer uma coisa, não é fazer essa coisa. Agendar tempo para fazer uma coisa, não é fazer essa coisa. Fazer uma lista de tarefas para fazer uma coisa, não é fazer essa coisa. Dizer às pessoas que se vai fazer uma coisa, não é fazer essa coisa. Enviar mensagem a amigos que possam ou não estar a fazer uma coisa, não é fazer essa coisa. Escrever um cartaz ou um tweet sobre como se vai fazer a coisa, não é fazer essa coisa. Odiares-te a ti próprio por não estares a fazer a coisa, não é fazer essa coisa. Odiar outras pessoas que fizeram a coisa, não é fazeres essa coisa. Odiar os obstáculos que surgem pelo caminho entre ti e alcançar a coisa, não é fazer essa coisa. Fantasiar sobre toda a apreciação que vais receber após fazeres essa coisa, não é fazeres essa coisa. Ler sobre como fazer a coisa, não é fazer essa coisa. Ler sobre como outras pessoas fizeram a coisa, não é fazer essa coisa. Ler um trabalho não é fazer a coisa. A única coisa que é fazer a coisa é fazer a coisa.”
Sobre agir e executar, não há nada mais a dizer. Não se descreve, faz-se. Como está nas palavras acima.
Avaliação, reajuste, adaptação
Este passo é de extrema importância, pois muito raramente os planos, quando postos em prática, sobrevivem às condições do mundo real. Por esta razão, é tão importante ter métricas estabelecidas que permitam adaptar a utopia perfeita de um plano às ferozes e imprevisíveis circunstâncias da realidade. Manter estes parâmetros presentes e controlados de forma contínua e consistente permite ajustar, seja nos detalhes ou no grande plano, de forma a que a execução vá de encontro aos resultados pretendidos e esperados.
Por vezes até, os ajustes não são suficientes. Ou porque o plano foi completamente irrealista na sua concepção ou porque, com o passar do tempo de execução, descobrimos que o objetivo que temos em mira afinal não é assim tão importante ou tão alinhado com o nosso propósito como no início acreditávamos que estava.
Assim, a adaptação é o próximo passo necessário. Esta capacidade, fundamental ao ser humano para sobreviver à evolução dos tempos, é o que faz com que sejamos capazes de, após percebermos que as coisas não estão a funcionar, alterar o rumo, o planeamento, a ação e criar algo novo.
Um lema que me interessa bastante é um proveniente do Jocko Willink:
“Get up. Dust off. Reload. Recalibrate. Reengage.”
Uma tradução literal seria algo como: “Levanta-te. Sacode a poeira. Recarrega. Recalibra. Realinha.”
Vindo de alguém com um passado militar, daí as expressões específicas usadas, identifico-me bastante com o pragmatismo, simplicidade e dureza da mensagem.
Considerações finais
Não desvalorizando a importância de realizar ações e produzir resultados rapidamente, a velocidade muitas vezes esconde as pequenas lacunas que se revelam grandes quando esssa velocidade se torna insustentável.
Começar rápido raramente é útil para criar algo que tenha bases sólidas. Já o contrário, demorar o devido tempo a definir a direção, saber o que se quer verdadeiramente, ter isso alinhado com a identidade de ser e depois trabalhar a partir disso. Tornando as ações concisas e intencionais. Otimizar e rentabilizar processos. Automatizar. Tudo isto aumenta a eficácia e eficiência que numa fase posterior, dão velocidade ao crescimento do que quer que seja que fazemos.
Na mesma medida, não digo que façamos as coisas lentamente. Devemos entender o que cada fase precisa, a nível da nossa entrega e agir de acordo com isso.
Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.