Solitude

Aprender a abraçar o tempo a sós

Daniel Covas
4 min readMar 14, 2024

Quer seja aqueles que são mais introvertidos ou extrovertidos, falemos no âmbito de uma vida social ou profissional mais ou menos ativa, todos sem exceção lidamos com momentos em que estamos sozinhos, seja por vontade própria ou por necessidade forçada. Por qualquer dos motivos, estamos nós, connosco apenas. Saber o que fazer com esse tempo, como o usar e aceitar, ao invés de o recusar, é algo de extrema importância. Isto porque, sabendo de antemão que vamos ter este tipo de momentos, é realmente valioso estar minimamente preparado para tirar o maior partido deles.

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A sós

Estar sozinho, a ação e estar sozinho, a sensação, são obviamente aspetos bem diferentes. Quando estamos, efetivamente e na prática, sozinhos, significa que temos apenas e só a nossa própria companhia. Quando nos sentimos sozinhos, podemos estar rodeados por pessoas e ainda assim, sentir esta sensação. A sensação é o que normalmente damos o nome de solidão. Por outro lado, solitude será o ato de passar tempo sozinho, por qualquer que seja a razão. Estas são as definições com que vamos trabalhar ao longo desta publicação.

É de extrema importância distinguir os conceitos porque é deles que vai partir todo o fundamento para desmistificar porque um dos aspetos é algo que nos afeta brutalmente e nos leva para estados mentais e físicos lastimáveis, enquanto o outro nos pode ser bastante útil para refletir, ponderar e tomar decisões mais sábias, perante situações e acontecimentos fulcrais da nossa jornada vital.

Solidão — O compatriota depressivo

A solidão é um estado do ser que pode ser caracterizado como o sentimento subjetivo de ausência de contacto, pertença ou de estar isolado. Está também associada com a falta de identificação, compreensão e compaixão, daí podermos facilmente sentir-nos sós, mesmo em espaços em que existem muitas pessoas. Quando deixamos esta solidão crescer e tomar conta de nós, quando de alguma forma se torna um sentimento automático, estamos provavelmente a cruzar a ténue linha que nos leva a campos como a depressão, o stress crónico e outras perturbações clínicas associadas ao equilíbrio psicológico do nosso ser. Desta feita, há que prestar bastante atenção a como nos estamos a sentir interiormente, para connosco e interiormente, para com os outros. Sim, porque os sentimentos que exteriorizamos muitas vezes são apenas uma fachada, um máscara, para ocultar algo que se passa dentro e que não pretendemos transparecer. Aí, reside a nossa verdade. Se é escolha própria que ninguém saiba dela? Sim, é. Ainda, assim, escolher não a mostrar aos outros é um risco, uma vez que não a assumir a mais ninguém coloca-nos como a última e única defesa entre o nosso estado são e a nossa quebra, a nível emocional, mental e físico.

Solitude — A fortaleza individual

Do outro lado temos o estado de isolamento e privacidade em que nos colocamos de forma voluntária ou forçada. Porém, a principal diferença entre os dois termos está relacionada com uma emoção básica que experienciamos com uma frequência moderada: tristeza. A solidão é um estado que quando experimentado implica de alguma forma a presença de tristeza, ao passo que a solitude não está associada de forma alguma a emoções de mau-estar ou sofrimento.
Os períodos que decidimos ter de solitude são os que nos permitem ser mais fortes e resilientes em situações quotidianas banais. Quando nos afastamos de tudo, conseguimos ter uma perspetiva externa, como que uma dissociação de qualquer situação ou contexto, que nos permite encarar o que quer que seja de forma imparcial, capacitando-nos de enfrentar dita situação sendo o mais fiéis possível a nós próprios. Quando ainda temos algumas questões no que toca ao que acreditamos ser ou valorizar (identidade individual) estes períodos de solitude são também o ideal para decifrar e ir à profundidade do nosso ser, para irmos encontrar as respostas a essas dúvidas existenciais que insistem em nos assombrar superficialmente.

A ideia desta publicação não foi mostrar-te como ultrapassar a solidão. Não foi dizer-te como viver momentos de solitude. Foi sobre comparar e distinguir ambos, de forma a que te tornes mais consciente de que tipo de momento estás a viver quando estás só contigo.

Considerações finais

Nem os momentos de solidão são absolutamente maus nem os momentos de solitude são estritamente benéficos. Encontrarmo-nos num estado de solidão pode acontecer. É importante que tenhamos o discernimento de o identificar rapidamente, aceitar as condições que nos fizeram chegar até ele e depois transformar isso num momento/estado de solitude, de forma a superá-lo. Quando escolhemos ter momentos de solitude, é importante não descurar que enquanto seres sociais, temos necessidades a suprimir neste campo, o que implica interação com outras pessoas. Quando o fazemos, há que demonstrar quem somos, da mesma forma que fazemos connosco próprios. De que adianta um excelente trabalho em solitude, se não o transparecemos quando estamos expostos aos elementos? Provavelmente é uma evidência que, ou não estamos devidamente aptos nas nossas capacidades de comunicação ou o nosso trabalho em solitude está a ser demasiado perfeito na teoria, o que o torna inexequível na prática.

É o que fazemos quando ninguém está a ver é o que nos vai destacar quando o holofote estiver sobre a nossa cabeça. Escolhe sabiamente, decide eficazmente e treina brutalmente tudo aquilo que te fará tornar em quem desejas ser.

Já planeaste o teu momento de solitude hoje?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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