Simplicidade

Daniel Covas
6 min readDec 14, 2022

--

Surpreendeu-me quando pesquisei a já interessantemente preenchida lista das minhas publicações e reparei que não tinha um com um título relativo a “simples”. É este um tema tão basilar para mim, o desmistificar das ações, da realidade, das tarefas, das situações até à sua forma mais crua, para terminarmos com um produto simples e puro, que não mais é que a raiz e essência daquilo que seja que estamos a observar e desconstruir.

· Simples vs Fácil

· O poder de simplificar

Simples vs Fácil

Dois termos tão associados naturalmente e com uma diferença tão substancial e importante. Começo pelo fácil, porque é mais fácil (redundância propositada). Fácil é algo que não gera preocupação, algo que é compreensível sem grande esforço e que não exige muito a fazer. Por exemplo, andar é fácil. É uma tarefa que não exige grande profundidade, não exige grande esforço e é de aprendizagem rápida. Estas são algumas das características que identificam o quanto algo é fácil. Agora, fecho o fácil com este simples raciocínio: Tudo o que é fácil é simples, mas nem tudo o que é simples é fácil.

Olhando agora para o simples. Simples é aquilo que não é complexo. Tem apenas um elemento constituinte. É natural. Pode resolver-se com facilidade (a parte fácil do simples). Simplicidade vem, obviamente, do simples, da arte de simplificar. Simples é diferente de fácil precisamente porque podemos ter algo, por exemplo o mais alto nível de desempenho de uma tarefa. Que não é fácil de atingir, porque requer todos aqueles aspetos que temos vindo a falar aqui: disciplina, entrega, consistência, determinação, compromisso, ação e execução e a passagem do tempo. No entanto, ao chegar a esse nível, nunca se torna fácil desempenhar ao nível de exigência de excelência. No entanto, torna-se simples, pois acaba por se tornar num hábito natural. Aqui reside a primária diferença entre o que é simples e o que é fácil. Simples é a raiz. É a essência. Não significa fácil, significa que é o que é e que naturalmente e puramente, é aquilo o mais real que existe. Fácil é aquilo que fazemos com um nível de esforço baixo.

O poder de simplificar

Aqui, entramos realmente naquilo que é a minha filosofia de simplificar, que basicamente é nada mais nada menos do que revertermos a nossa linha de pensamento natural. Começando pelo início, existem dois brilhantes princípios, provenientes do grande Tony Robbins, que constatam o seguinte:

1 — “Olha para as situações como elas são, não piores do que elas são.”

Aqui, aquilo que devemos retirar da mensagem é precisamente ganhar a consciência do nosso processo de pensamento quando algo acontece. Especialmente quando não vai de acordo ao que é o mais desejável para nós. Quando algo acontece, qual é a nossa tendência? Imaginar os cenários possíveis e as repercussões que podem advir. E imaginamos uma ou duas? Não, não. Imaginamos todas as hipóteses que nos surgem na mente! E todas as variantes que cada cenário ou hipótese podem criar (e as pessoas ainda dizem que não são jogadoras de xadrez. Estar à frente das jogadas executadas é um dos melhores recursos de um bom jogador). Piadas de parte, é precisamente aquilo que nós fazemos, em diferentes intensidades. E usamos muito ou pouco tempo nesta linha de pensamento, dependendo da nossa consciência e vontade de superar a situação. Qual é o desperdício aqui? É que a maior parte dos cenários que desenhámos na nossa mente não vão sequer estar perto de acontecer. Gastámos o nosso recurso mais precioso (tempo), que podíamos ter usado a criar soluções e oportunidades, ao invés de pensar e imaginar coisas tão longe da realidade. Já sei, não é assim tão fácil. Porém, é tão simples como alterar o nosso foco. Praticar. Ganhar nova consciência.

Voltando à frase, não é uma facilidade, é uma simplicidade. Como comecei por dizer, tem tudo a ver com o inverter do nosso processo de pensamento. Ou seja, em vez de pegarmos no que acontece e magicar cenários possíveis e improváveis, vamos antes pegar na mesma original situação e em vez de criar algo a partir daí, vamos desconstruir a situação até à raiz. Assim, tornamos as coisas simples. Porque olhamos para as coisas como são. Não piores do que são.

2 — “Olha para as coisas melhores do que elas são.”

Aqui, é o próximo nível. Especialmente a nível de liderança, pois também remete para a criação de uma visão que promova a obtenção de resultados positivos. Isso fica para aprofundar na temática de liderança, para outro dia. Voltando à questão da simplicidade, aqui promove-se uma linha de pensamento que parte da anterior, após simplificarmos a situação. Quando temos a raiz e a origem pura, podemos partir daí e criar algo que seja de acordo ao que desejamos alcançar. Desta forma, podemos influenciar o resultado daquilo que nos acontece e transformar isso naquilo que seja que mais queremos.

O que acontece, acontece. É regra imperial, está fora do nosso controlo e é superior a nós. O que nos cabe e nos resta, em todo o nosso poder e grandeza, é pegar na situação e transformá-la com o melhor que é o nosso engenho e capacidade, naquilo que seja que é nosso desejo e objetivo. É isso que a arte de simplificar nos permite. Sobretudo, ganhar calma sobre nós próprios e reconhecer a situação objetivamente, por aquilo que ela é. Até aí, foi a jogada suprema. Daí em diante, é a nossa jogada. Essa é a que temos de fazer valer, todos os dias, a cada acontecimento e a cada momento.

Photo by Kelly Sikkema on Unsplash

Simplificar é, da forma mais simples, encontrar a parte mais original e essencial de algo, de forma a que a nossa reação seja: “É isto?”, numa vertente de espanto, pela simplicidade daquilo com que nos deparamos. A realidade só é exacerbada se nos deixarmos levar pelos acontecimentos da vida e permitir que a nossa reação instintiva nos guie. É a intuição e não o instinto, que guarda a chave da vida. Mantenham-se puros, mantenham-se essenciais, mantenham-se intuitivos e mantenham-se simples. E tudo vai fluir, de uma forma ou de outra, na direção desejada.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

--

--

Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

No responses yet