Seletividade universal e específica
Saber o que usar e quando o usar
No seguimento do descritivo da semana passada, nesta venho aprofundar a seletividade de informação, em perspetivas macro e micro e de que forma o seu uso pode ser feito. De forma a providenciar uma maior leveza naquilo que é a nossa vida em geral, neste mar de sobre estimulação que é a sociedade (excessivamente) tecnológica do século XXI. Como falei no último artigo, a vida é muito pouco sobre absolutos e muito mais sobre intermédios. O que quero dizer com a universalidade e a especificidade presente no título é precisamente isso. Dependendo do assunto que estejamos a abordar, do controlo que temos sobre ele e da importância que ele tem na nossa vida, podemos e devemos agir de forma diferenciada perante cada nível que existe, tendo em conta a quantidade presente de cada fator nele.
A importância da seletividade
Se caíste neste artigo de para-quedas, sê bem-vindo a este cantinho que mais do que meu, é teu. E é para ti. Convido-te a que cliques aqui e leias o artigo anterior, de forma a teres um maior contexto na mensagem que te quero transmitir hoje.
Ser seletivo, mais do que importante, está a tornar-se cada vez mais necessário. Sobretudo, com a informação que consumimos. A nossa atenção está cada vez mais descontrolada. Mais automática e mais dispersa. Estamos perdidos num mundo em que todos clamam que precisamos de nos encontrar. Diria que antes de nos encontrar, precisamos de parar de nos perder.
Perder-nos é o resultado desta falta de seletividade. É o produto de uma vida excessivamente estimulante, que demonstra o quanto estamos dependentes de tudo aquilo que temos à nossa volta e é exterior a nós. Quando colocamos o foco fora, por demasiado tempo, de forma tão desequilibrada e desmedida, lá se vai o caminho que queremos trilhar.
Selecionar aquilo que entendemos que faz parte do nosso percurso é o que permite que continuemos a segui-lo. Daí a seletividade ser importante. Agora, como conseguimos efetivamente fazê-lo?
O processo seletivo
Usar a seletividade a favor, com cada vez mais e mais estímulos, a surgir de fontes tão diferentes, apresenta uma dificuldade cada vez maior de executar. No entanto, podemos e temos a capacidade de agir perante estas condições, usando a capacidade intelectual que todos temos de escolher dizer “sim” ao que é verdadeiramente importante e dizer “não” ao que é opcional, por mais tentador que possa parecer (porque sendo opcional, nunca será verdadeiramente tentador).
Para efetivamente colocarmos em prática o processo seletivo, podemos considerar alguns passos:
- Saber quais são as nossas prioridades vitais
- Entender as ações que vão de encontro ao colmatar das necessidades que preenchem essas prioridades
- Compreender qual a informação que contribui para o melhoramento da eficiência e eficácia de ditas ações
- Selecionar o consumo dessa informação
- Restringir a variedade de fontes ao mínimo
- Criar limites pessoais para o consumo de conteúdo de entretenimento
De forma simples, através destes passos, conseguimos criar um breve mapa de atuação para a nossa seletividade pessoal de informação, conteúdos e estímulos. Com um plano de ação traçado conseguimos eliminar as desculpas e agir de forma mais consciente e sábia, para sermos comandantes dos nossos dispositivos e não escravos deles.
Deixo-vos então um exemplo de situações práticas diárias, de forma a refletir mais facilmente cada um dos pontos enumerados anteriormente.
Prioridades vitais: Aquilo que consideramos ser de total importância na nossa vida. O que nos preenche, que nos faz saltar da cama de manhã (seja a que horas for, preservem o vosso sono) que nos rejubila e deixa felizes. Seja o trabalho, hobbies, área de estudo ou outras atividades de índole pessoal. Há coisas que são essenciais à nossa vida e que escolhemos não viver sem elas. São as nossas prioridades vitais. E convém que tenham algum tipo de hierarquia, para que na eventualidade de alguns imprevistos, saibamos qual colmatar primeiro e qual nos podemos dar ao luxo de dar menos atenção. As minhas prioridades na vida, neste momento, por ordem de importância, são:
- Cuidar da minha saúde
- Gerar conteúdo de valor, estudar, aprender e garantir que tenho um trabalho que me preencha
- Nutrir a minha relação
- Padel
- Xadrez
- Tudo o resto
Não significa que tens de seguir esta linhagem. Significa que tens de estabelecer qual a tua hierarquia de prioridades, para saberes que “tanque interno” tens de encher primeiro, para que possas ter a vida que mais queres. Deixando um exemplo contínuo:
Cuidar da minha saúde, com boa alimentação, hidratação, sono e treino funcional permite gerar energia e lidar com o dia e a vida de forma proativa. Aprender algo novo, estudar o que sei, criar conteúdo que inspire e contribua e entregar um trabalho de excelência em qualquer coisa que faça é o passo seguinte, para me sentir pleno e para que consiga dar tudo de mim a quem me rodeia. Só após preencher esses dois aspetos, por mais que ame a minha namorada, consigo contribuir para uma relação saudável e de qualidade. Após cuidar destes três pilares, os meus dois hobbies de eleição chegam para me dar um boost físico e mental, respetivamente, a tudo o que sou e faço.
Ações: Este é o parâmetro mais simples de explicar, um vez que é o de executar. Com perguntas diretas a cada prioridade, descobrimos facilmente o que vamos fazer.
Exemplo:
- O que preciso fazer para cuidar da minha saúde de forma excelente?
- O que preciso fazer para me sentir realizado, pleno e em harmonia?
- O que preciso fazer para nutrir e continuar a construir e desenvolver a minha relação da melhor forma?
- O que preciso fazer para jogar o meu melhor padel e melhorar neste desporto?
- O que preciso fazer para jogar o meu melhor xadrez e melhorar neste jogo?
Informação eficaz e eficiente: Aqui é a sequência do ponto anterior. Com as ações delineadas, fazemos o que sabemos. O que não sabemos, procuramos aprender para conseguir fazer. A informação atualmente está por toda a parte, por isso é tão importante começar quer pelas prioridades quer pelas ações. Para que o passo de selecionar a informação ser muito mais intencional e menos disperso.
Recorrendo novamente a exemplos:
Se queremos tratar da saúde e não sabemos, podemos ler livros sobre saúde em geral, sobre alimentação saudável, sobre exercício, sobre sono. Quem diz ler livros, diz também ouvir podcasts, assistir a vídeos. O que seja. O importante deste passo é: Qual a fonte de informação que prefiro? De que forma aprendo melhor?
Pessoas diferentes têm processos de aprendizagem diferentes. Alguns são visuais e aprendem melhor com imagens e vídeos. Outros, mais auditivos, vão preferir podcasts. Alguns escolherão livros. Podemos até usar vários métodos. Atentando que, temos de ser seletivos. Escolher um dos temas de cada vez. Imaginando, basear o fundamento inicial na alimentação. Não vamos procurar saber tudo sobre o tema. Vamos fazer uma breve pesquisa. Encontrar uma ou duas pessoas de referência na área que possamos seguir e aprender com. Focar aí. E só depois passar a outra fase. Senão, estamos a cair na armadilha do excesso de estímulo novamente, sem dar conta. Acabamos ocupados e nada produtivos. (O que resume o passo de seleção de informação e restrição da variedade de fontes. Três em um.)
Limites para conteúdo de entretenimento: Conteúdo de entretenimento importa. Quem não sabe parar de trabalhar, não está a viver a vida. Está a ser escravo de um trabalho. O lazer faz parte e é o extremo oposto do aspeto laboral. O que o harmoniza e equilibra. Trabalhar importa e lazer importa. Porém, em quantidades diferentes. Ser um membro produtivo da sociedade é mais importante do que o entretenimento próprio. No entanto, este segundo é necessário para nos manter sãos e garantir que o primeiro é feito da forma mais produtiva possível. Sendo o prazer mais facilmente viciante que a dor, devido à libertação de dopamina e recompensa instantânea, temos de moderar o tempo dele, para novamente não nos vermos escravos do nosso momento de divertimento.
Considerações finais
Tudo isto, é a parte que podemos considerar como seletividade universal. Como as fórmulas mágicas não existem, nem sempre vai ser assim tão fácil e claro aplicar este processo. Por isso existe a outra parte que apelidei de “seletividade específica”. Que é como dizer, vamos pegar nos aspetos universais e perceber como os conseguimos encaixar e adaptar a uma situação específica, na qual não parece tão natural ou fluído simplesmente usá-los dessa forma.
A vida é um ajuste contínuo em que nada é permanente. Isso implica que, aquela escala de prioridades vitais que traçarem, vai alterar-se. Em situações pontuais e com a passagem do tempo. Alguns aspetos vão oscilar para cima e para baixo. Uns vão deixar de fazer sentido e sair. Outros começarão a fazer mais sentido e vão entrar. É o crescimento natural em que, com novas informações que obtemos, tomamos novas decisões. Diferentes.
Conto ter conseguido dar algumas luzes e sobretudo despertado mais a consciência da necessidade de não sermos levados pelo vórtice que são as redes sociais e as “notícias soltas” que nos atraem para uma toca funda de um loop infinito de scroll sem propósito. Mantenham-se atentos e em questionamento constante, quando derem por vocês simplesmente a consumir informação aleatória. Lembrem-se do porquê de o estarem a fazer. Se a razão não for válida, útil ou benéfica, larguem e vão viver a vida de forma mais intencional, verdadeira e harmoniosa. Não usem a felicidade artificial, criem a felicidade verdadeira.
Já usaste o teu poder para viveres uma vida segundo os teus princípios hoje?