Resultados
Entre o fazer e o ficar satisfeito…
Hoje, quase no seguimento do que escrevi na semana passada (de alguma forma estará relacionado, porque é sobre a nossa vida), venho falar de resultados. Não de resultados em específico, porque cada um alcança aquilo para que trabalha. E sim do balanço entre trabalhar para atingir algo e, de alguma forma, responder à pergunta: “Quando é que fiz o suficiente?”
- Preguiçosos fazem um pouco e pensam que deviam estar a ganhar algo. Vencedores fazem tudo o que podem e ainda se preocupam se estão a ser preguiçosos
- O poder do equilíbrio
- A chave da não-comparação
Preguiçosos e vencedores
Não quero, em primeiro lugar e de forma alguma, que te categorizes binariamente com um destes dois rótulos. Todos nós, sem exceção, temos momentos de preguiça e momentos de vitória. Ser vencedor é uma coisa, ter comportamentos de vencedor é outra. Ser preguiçoso é uma coisa, ter comportamentos preguiçosos é outra. Identidade e comportamento são dimensões bastante diferentes do nosso ser e devem ser tidas em atenção, num aspeto específico: cada vez que, após uma ação, dizemos “Eu sou isto” estamos a atribuir a nós próprios aquela identidade. E, repetindo essa ação vezes suficientes, acreditamos nela.
Dando um exemplo: quando falhamos, dizer “sou um fracasso” não representa a realidade. Se após falharmos dissermos algo como “tive um comportamento que fracassou” estamos a atribuir a responsabilidade do resultado à nossa ação (comportamento) e não a quem somos (identidade). Uma pequena grande diferença!
Com esta premissa em mente, quero esmiuçar um pouco a frase introdutória: “Preguiçosos fazem um pouco e pensam que deviam estar a ganhar algo. Vencedores fazem tudo o que podem e ainda se preocupam se estão a ser preguiçosos”.
Estas palavras podem remeter-nos para várias dimensões. Podemos abordar esta frase pela perspetiva do síndrome do impostor. Olhar da tal forma binária que descrevi acima ou ainda pensar sobre o facto de que fazer “tudo o que se pode” é um extremo pouco saudável, que nos leva à tal insatisfação e frustração, que nos desequilibra, como descrevi a semana passada.
Numa pequena nota, obrigado a todos os que difundiram, partilharam e apreciaram o conteúdo da semana passada. A publicação teve o maior alcance de qualquer outra, desde que escrevo nesta plataforma. Obrigado, a vocês!
- Sobre o síndrome do impostor:
É um mecanismo interno que possuímos, que se reflete, acredito eu, quando aquilo que são os nossos medos e crenças limitantes nos dominam, de alguma forma. Perdemos a capacidade de nos reconhecer e de admitir ou acreditar nas características positivas que nos apontam. Vários aspetos que podemos associar a este síndrome são, por exemplo, baixa autoestima e baixa autoconfiança. Um pensamento comum é acharmos que somos uma fraude. Todos nós somos suscetíveis a ter episódios deste género. Acontecem naturalmente há medida que evoluímos e nos vamos transformando e aprendendo novas capacidades e habilidades, ao longo da vida. - Olhar de forma binária:
Deve ser ser das palavras e temas que mais repito (e continuarei a repetir) neste blog. Binário. A base da lógica. Feliz ou infelizmente, enquanto humanos, o nosso raciocínio, poder de pensamento, ponderação não se pode basear inteiramente na lógica. Porque estaríamos a ignorar toda uma outra parte e dimensão de quem somos. Há momentos, claro, em que tomar decisões desta forma pode ajudar a simplificar o processo. Mas raramente a vida é “preto ou branco”. O mais comum é que a maior parte das coisas com que lidamos seja “cinzenta”. Algo ali pelo meio, que requer o uso do tal equilíbrio. - Fazer tudo o que posso:
Raramente partimos de uma perspetiva de leveza quando aplicamos esta frase. Costuma sim, vir de um ponto de luta. De remar contra a maré. De estarmos a dar demais de nós a algo, sem repor essa energia através do nosso autocuidado. Passo a passo. Começamos a quebrar. Somos teimosos e acreditamos tanto que aquele é o único caminho que seguimos. Baixamos a cabeça e continuamos a bater. A fazer “tudo o que podemos”. Chegamos ao fim do dia a acreditar nisso, mas chegamos derrotados. Esgotados. De que nos está a valer o esforço então?
Não é algo que me apraz, escrever durante muitas linhas sobre aspetos menos positivos, sem apresentar algum tipo de método ou dica para lidar com ele e, eventualmente, ultrapassá-lo. Para resolver um desafio, começamos, impreterivelmente, pela raiz. Pelo que o criou em primeiro lugar. Tendencialmente, somos seres superficiais. Olhamos para a profundidade com a conotação de um mundo escuro, denso, fundo e desconhecido. Acreditamos que se fizermos o suficiente para nos manter à tona, nunca vamos precisar de mergulhar. Entretanto, nessas mesmas profundezas, tudo o que escolhemos evitar, continua a acumular-se, a cada momento que decidimos ignorar a importância da profundidade.
Como ia dizendo, somos tendencialmente seres superficiais. E o que fazemos tendo isso em conta? Olhamos para o resultado das ações e questionamo-nos sobre o porque de as coisas acontecerem de uma determinada forma. O que é bom, questionar a validade e importância do resultado. No entanto, falando em específico dos desafios que passamos que nos forçam a um determinado curso de ação, acontece algo curioso: mantemos esse mesmo raciocínio. No entanto, existe aqui uma grande diferença — Se somos forçados num determinado caminho de ação, temos de questionar a origem do desafio, o que o criou, e não o resultado que está a gerar.
Exemplo prático:
Começo a correr. Surgem dores no joelho. Paro de correr = Reação. Decido correr mais devagar da próxima vez. As dores continuam. Decido parar de correr. SUPERFICIAL!
Começo a correr. Surgem dores no joelho. Ouço o corpo. É desgaste? Excesso de treino? Dor muscular? Falta de hidratação? É um estímulo diferente? = Avaliação. Decido olhar para a situação de forma pontual. Volto a correr. Surge novamente a dor. Paro e decido ir a um especialista, de forma a obter uma opinião profissional sobre possíveis causas para o desafio. Ataque à origem. PROFUNDIDADE!
Deixo-vos um exemplo ligado à saúde física porque é simples de entender. Agora, transponham-no para outras vertentes da vossa vida. Quantas vezes, ao longo do dia, da semana, do mês, lidamos com situações, a nível da nossa saúde emocional e mental, de forma superficial?
O poder do equilíbrio
Já sei. Tudo muito bonito. E de que forma é que isto está ligado a ser um vencedor ou um preguiçoso? Como está isto ligado aos nossos resultados e a fazer ou não o suficiente?
Equilíbrio. Lá vamos novamente entrar nesta toca. Equilíbrio não é a resposta para tudo. Aliás, não é a resposta para nada. É o reflexo da nossa capacidade de lidar com as situações com que nos deparamos.
Ser um vencedor ou um preguiçoso. Ter comportamentos de. Obter resultados satisfatórios ou fazer mais. Tudo se resume a entendermos uma resposta: O que é verdadeiramente importante para a minha vida?
Não há pergunta que mais me tenha potenciado nos últimos tempos. Para lhe responder, temos efetivamente de ter clara a nossa identidade. Somos ou queremos ser vencedores, com tudo o que isso acarreta? Somos ou queremos ser preguiçosos, com tudo o que isso acarreta?
- Deixar o lembrete que um vencedor vai continuar a ter comportamentos preguiçosos em algum momento e um preguiçoso vai continuar a ter comportamentos vencedores em algum momento. A identidade é escolhermos aquilo que queremos acreditar que somos, a maioria do tempo, de forma a que isso se reflita nos comportamentos conscientes que temos, na maioria do tempo.
Em que é que isso influencia os nossos resultados? Bem, ser um vencedor vai forçar-nos a termos um maior nível de exigência sobre nós. Fazermos mais sacrifícios, sempre alinhados com as nossas intenções, objetivos, crenças, valores e importância de ação.
O oposto é também verdade. Ser um preguiçoso carrega consigo níveis de exigência diferentes para connosco.
Apontar que, não subestimem um preguiçoso só pelo que a conotação da palavra acarreta. Um preguiçoso é a pessoa que tem a maior capacidade de eficiência para gerar um resultado. Uma vez que vai fazer o estritamente necessário para obter o produto desejado, de forma a preservar a maior quantidade de energia.
Ser um vencedor tem prós e contras. Ser um preguiçoso tem prós e contras. Um não é melhor que o outro. O que conta, na vida, é o que faz mais sentido e o que nos dá aquilo que queremos sem prejuízo para terceiros. Ponto.
A chave da não-comparação
Porque queres ser um vencedor?
Porque queres ser um preguiçoso?
Porque queres ser alguma destas duas coisas e não outra completamente diferente?
Conheces aquela voz que tens dentro e que fala contigo? É a tua intuição. É uma das coisas mais poderosas que temos. Ela sabe, perfeitamente e puramente aquilo que tu és. Não queiras ser um vencedor só porque sim. Não queiras ser um preguiçoso só porque sim. Sê quem tu és!
Não tens de chegar ao fim desta publicação e escolher uma destas identidades, só porque gostaste e te fez sentido o que escrevi. Acima de tudo, o que mais quero depositar em ti, que me lês semanalmente, é consciência e clareza.
Vemos quase um “chamamento social” a que todos sejamos vencedores e denegrimos a preguiça. O tal mundo binário. Onde está afinal a nossa liberdade, se influenciamos outro a que seja de uma determinada forma? Nenhuma é certa nem errada. Ninguém disse que uma pessoa preguiçosa não treina. Isso é uma pessoa sedentária. Uma pessoa preguiçosa pode ter simplesmente de aplicar mais força de vontade e, ainda assim, treinar.
As redes sociais não são uma grande ajuda neste tópico, se não filtrarmos o conteúdo que conseguimos. Certamente, haverá sempre alguém que parece fazer mais do que nós, produzir mais do que nós e ter mais do que nós. O contrário existirá sempre, também. Cada um segue, na sua jornada, ao seu ritmo.
O que importa é mesmo, como diz o título deste último tópico, não nos compararmos. Podemos ver estilos de vida incríveis. Corpos de sonho. Fortunas gigantescas. Viagens maravilhosas. Isso impele-nos, de alguma forma, a perseguir esses aspetos(está inserido na nossa natureza e as redes sociais alimentam-se disso). Agora, se tivermos o discernimento de, ao ver isso, pararmos e usar a pergunta mágica: “É verdadeiramente importante para mim atingir isto, a este nível?”, começamos a ter um tipo de controlo diferente perante o conteúdo que consumimos. Mais importante do que isso, sabemos o que ignorar, por não estar alinhado com os nosso objetivos. Sobretudo, ganhamos a nova perspetiva de observar de uma posição de inspiração e não de influência e comparação. Voltando a reforçar, cada um na sua jornada, no seu momento, ao seu ritmo.
Quando ganhamos este estado de clareza do nível em que estamos e do nível que queremos atingir, associado ao passo anterior de termos uma identidade consciente, o rumo da nossa vida torna-se mais definido.
Os resultados que obtemos provêm das nossas ações. Após tudo isto, não é tanto uma questão de estar (ou não) a fazer o suficiente. Essa questão é uma fonte geradora de frustração… A vida vai acontecer até ao fim e vamos executar algum tipo de ações até ao nosso último suspiro. Chegar ao fim do dia com a consciência de que, perante os fatores e condições apresentadas, executámos as ações necessárias para gerar os resultados que eram verdadeiramente importantes para nós, é tudo o que precisamos. Tudo o que faz sentido e tudo o que verdadeiramente importa. Dormir com a tranquilidade, leveza, equilibrio e felicidade de que fizemos o que tinha de ser feito. E se não acontecer assim? Bem, analisamos, vamos às profundezas e acreditamos que o amanhã chegue para podermos ter a oportunidade de fazer diferente e de fazer melhor.
Já tornaste claro para ti o que é verdadeiramente importante?