Relações

O que damos aos outros e o que recebemos de volta

Daniel Covas
5 min readNov 3, 2023

Num passado que já conta com quase 1 ano, deixei neste novo blog uma publicação que tinha escrito no anterior sobre “O Poder das Pessoas”. Onde abordei assuntos variados sobre a influência de um círculo próximo de pessoas que nos potenciam, a forma como somos instigados pelas pessoas à nossa volta a fazer (ou não fazer) algo. Hoje, a partir de uma nova posição, de um novo local mental e de uma fase diferente da minha vida, deixo-vos uma publicação especificamente sobre relações, no geral. Não falo de amizades, de relações com familiares, de relacionamentos íntimos apenas. Todas as pessoas que temos na vida, temos uma relação com elas. Mais ou menos forte, de naturezas diferentes e ainda assim, é uma relação, com as suas partes intrínsecas associadas, dependendo do seu tipo.
Ainda que possa ser um pouco vago e generalista, o ponto de importância a que quero chegar não são necessariamente as relações em si e sim as suas origens, as causas e as bases em que devem assentar para se demonstrarem sustentáveis.

Photo by Maël BALLAND on Unsplash

Amor como base relacional

Este é um conceito que não é tão claro ou tão percetível assim. Usualmente, associamos o amor apenas e só aos relacionamentos íntimos. No entanto, o que sentem um pai e uma mãe por um filho ou filha? É amor. O que sentimos, na essência, por aqueles amigos que nos importam? É amor. Esta foi uma lição basilar que aprendi e que transformou todas as interações que tenho tido desde esse momento em algo muito mais puro e genuíno. E sobretudo, com mais valor.

Quando escolhes, incondicionalmente, dar amor às pessoas, toda a vida se torna mais fácil e mais leve. Isto porque, a nossa essência mais pura é precisamente isso: Amor. Não, não precisas amar todas as pessoas da mesma forma. Não precisas de amar todas as pessoas com os mesmos gestos, os mesmos carinhos e as mesmas ações. É isso que diferencia a qualidade e o propósito das relações: conhecidos, amigos, familiares, parceira/o…
Agora o amor, em doses diferentes e em atitudes variadas, está lá. É inegável. E enquanto lhe resistires, ele vai persistir. Não o aceitar é simplesmente criar uma barreira contra uma das partes mais puras e essenciais da natureza humana: relacionar genuinamente.

Importância dos outros

As pessoas que nos rodeiam são o elo que cria as nossas relações. O estabelecimento delas só é possível porque essas mesmas pessoas existem e socializam connosco. Estas interações permitem não só que entreguemos amor, como também permitem que o recebamos. Amar e ser amados (por esta ordem) é um mantra de vida bastante interessante de se levar, sobretudo no que toca às nossas relações.

Apesar das tendências daquilo que é divulgado pelos meios de comunicação despertar o medo e a época de isolamento da pandemia terem contribuido grandemente para o sentimento de solidão, e de que cada vez mais a mensagem extremista de que “estamos bem sozinhos” é levada a um patamar tão radical que inviabiliza as nossas interações sociais e nos atira para uma zona física, mental, emocional e espiritual que não contribui em nada para a nossa sanidade.

As pessoas importam. Cada uma delas. Estejam ou não presente na nossa vida. Há pessoas a viver no planeta, neste momento, que provavelmente nunca na vida iremos conhecer. Ainda assim, não sendo importantes para nós, por serem completamente desconhecidas, são importantes para alguém. E são valiosas, enquanto pessoas, mesmo que nós não as conheçamos. É extremamente curioso como muitas vezes conseguimos demonstrar mais compaixão por completos estranhos e nem tanta por pessoas mais perto de nós, porque com confiança vem conforto e, de forma inconsciente, tomamos as pessoas como garantidas e os recursos que usamos na manutenção dessa relação diminuem para os mínimos, assim como a consideração que demonstramos, simplesmente porque essa pessoa é próxima de nós e está nas nossas graças e boas considerações.

Somos realmente seres peculiares, com todas estas controvérsias formas de lidar com coisas antagónicas e com estes dilemas, quando decidimos aliar as emoções aos processos lógicos e considerar a lógica do processamento emocional.

Carência Emocional

Para lá de toda esta pureza, a necessidade de criar relações pode provir de posições diferentes e mais desconcertadas do que esta simples conjugação natural de interação social. Acabamos por criar relações também a partir de posições de fragilidade e debilidade emocional, de forma a procurar no outro algo que ainda, por alguma razão, não encontrámos ou resolvemos em nós. Isto causa aquilo a que normalmente chamamos ou conhecemos como carência emocional. Quando procuramos no outro, seja uma relação de piedade familiar, amizade ou pior, uma relação íntima, para colmatarmos uma falta que estamos a sentir dentro de nós. Acreditamos que encontramos fora o que nos falta dentro, quando na realidade apenas o que temos dentro nos pode preencher e causar um transbordo para fora.

O que provoca isto? Aprofunda ainda mais o vazio que existe no interior, porque continuamos a exteriorizar o que temos dentro, aumentando ainda mais aquilo que já está em falta. Para o outro, drena em excesso a energia que coloca na relação, uma vez que não é possível atingir um equilíbrio numa relação em que uma das partes não está totalmente saudável para contribuir de forma benéfica.

Tudo começa e acaba em nós. Uma relação não dá felicidade. Aumenta-a. Uma relação não dá paz. Aumenta-a. Uma relação não dá tranquilidade. Aumenta-a. Uma relação não alivia angústia. Aumenta-a. Uma relação não alivia a frustração. Aumenta-a. Uma relação não alivia o vazio interno. Aumenta-o.

Uma relação, qualquer relação, tem como base o amor. Ainda que não seja reconhecido, ele existe e está lá. E o amor expande tudo o que é construído com base nele. Deposita boas sementes, terás uma excelente colheita. Deposita más semente, terás uma péssima colheita.

Relaciona-te com quantas pessoas possas. Aprende com isso. Mantém as que fazem sentido e deixa ir as outras. Trata ambas com todo o teu amor. As que não te servem, servirão alguém. Aquelas a quem não serves, serão de serviço para alguém. Todos temos um lugar no mundo. Uma mensagem para transmitir. Todos merecemos amar e ser amados por aqueles que o aceitarem e assim o desejem. Todos temos pessoas para nós.

Já decidiste amar hoje? Já te permitiste ser amado/a hoje?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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