Relação com o tempo
A forma como olhamos para a variável da vida que menos controlamos
O imediatismo que vivemos na atualidade tem contribuído mais e mais para formalizar uma relação cada vez mais tóxica com esta variável que inevitavelmente faz parte da nossa vida. É importante saber relacionar-nos com ele, uma vez que vai eternamente estar presente na nossa vivência diária. Ter uma boa lidação com o tempo é extremamente importante, pois não respeitar isso vai fazer com que acabemos por, de alguma forma, não saber viver. O que, por consequência, vai influenciar tudo aquilo que somos, tudo aquilo que fazemos e tudo aquilo que temos.
O que é o tempo?
Muitas brilhantes mentes, ao longo do tempo, fizeram tentativas para definir este conceito. Enquanto variável, enquanto grandeza física, enquanto perceção. Não acredito muito que o dicionário seja o local indicado para procurar esta definição, em especial pela forma como quero trazer este tema para aqui hoje. Não tanto de forma lógica e sim filosoficamente, mais reflexivo. Podemos encontrar várias referências de definição sobre tempo, várias associações ao tema e frases extremamente interessantes.
Quem nunca quis voltar atrás no tempo sabendo aquilo que sabe hoje? Contudo, esquecemo-nos que só sabemos e somos nós mesmos por termos passado por tudo o que passámos e exatamente do modo que o passámos. Olhemos para o futuro, o passado já está em nós, incrustado até aos ossos.
O tempo é aquilo que é — ele passa, irremediavelmente. Em termos de grandeza física, ele está diretamente associado a outras grandezas, como a velocidade, por exemplo. Ao longo dos anos, o tempo era subjetivo, tendo por base as movimentações de astros, como o sol e a lua. Apenas quando os comboios surgiram se começaram a considerar intervalos de tempo padrão. Com o desenrolar da evolução humana, surgiu a necessidade de medir mais precisamente esta variável. Sendo as oscilações terrestres não tão exatas, essa medição começou a ser feita através das ocilações do átomo de Césio 133 (que é utilizado nos relógios atómicos), nos quais se baseia o Tempo Universal Coordenado, a partir do qual se estabelecem os fusos horários das diferentes regiões do globo.
Para que nos serve?
A variável tempo, em si, bem como a sua medição, servem para nos mantermos orientados, de alguma forma, no continuum espacial. Isto porque o tempo está concretamente associado ao espaço. Na cronologia da nossa vida, medimos os anos que passam ao longo da nossa jornada. Isto para controlarmos de alguma forma aquilo que passa por nós e aquilo por que nós passamos. A medição e a nossa consideração dela varia consoante aquilo que vivemos e é valorizada de forma diferente, consoante aquilo que é a experiência que passamos e o que nos faz sentir.
Serve-nos para as coisas mais simples: encontrarmo-nos com alguém a uma determinada hora; reservar uma mesa para jantar num restaurante; qualquer tipo de combinação que fazemos, marcamos uma hora. Por mais simples que pareça, poucas vezes nos questionamos sobre o tempo em si. Desde como surgiu, ao que ele é e aquilo que representa. É uma reflexão que diria útil, especialmente para gerar mais valorização sobre a vida, no mínimo. Não que se cheguem a conclusões absolutas, porque é um conceito de interpretação subjetiva. E sim porque é importante que, nos momentos em que nos sentimos menos capazes, menos presentes, menos merecedores, menos o que quer que seja, é o dar valor ao nosso tempo, à vida, à forma como estamos a usar esta variável dentro do espetro temporal que nos foi atribuído.
No fundo, aquilo que se pode concluir sobre o tempo, como disse ali pelo meio, depende daquilo que estamos a viver, a sentir, a fazer, a pensar. Depende de tantos fatores. O nosso estado de espírito influencia aquilo que é a nossa perceção do próprio tempo. Aquela sensação familiar de estarmos à espera de algo, naquela ansiedade aprisionante, que parece que nos faz sentir cada segundo que passa de forma sofrida é o total oposto daquele momento em que estamos a aproveitar ao máximo a situação que estamos a vivenciar e que dá aquela sensação de que o tempo passa a voar.
Na harmonia por entre estes extremos há uma perspetiva conceptual geral em que abordamos o tempo de uma forma mais stressante ou mais fluida, perante aquilo que for a forma como nos permitimos começar o nosso dia. Fugindo ao tema, interagindo e integrando com ele, a forma como passamos o nosso tempo diariamente e nos relacionamos com ele está diretamente ligada à forma como o nosso dia se inicia. Isto porque o nosso estado e a forma como vamos abordar tudo aquilo que nos irá surgir pela frente vai ser influenciado pelo estado que gerámos e nos permitimos colocar em quando saímos da cama pela manhã. Sobre rotinas, fica para outra publicação.
Já observaste a forma como te estás a relacionar com o tempo e o valor que lhe estás a dar hoje?