Recomeçar

O poder de partir da experiência acumulada

Daniel Covas
5 min readOct 5, 2023

É este um tema que cada vez mais se apresenta na atualidade. Com o ganho de consciência, especialmente no que toca à saúde mental, mais e mais pessoas trocam caminhos, trabalhos, cidades, parceiras/os… Recomeçar parece sempre trazer consigo a conotação de frescura, de um novo arranque e novidade. Ainda que assim seja, recomeçar é um conceito poderoso, quando bem usado. Várias vezes temos aquele medo de “voltar a começar do 0.”

Não tem necessariamente de acontecer dessa forma. Recomeçar, no que quer que seja, é mais do que isso. É voltar aos passos iniciais, sim. E acima de tudo, não é um começo do nada, é um (re)começo baseado na experiência prévia.

Motivações para um recomeço

A vontade de recomeçar não surge, por norma, do nada. Pode ser proveniente da curiosidade de explorar, sim. No entanto, isso implica, por norma, um estímulo inicial que desperte essa vontade e curiosidade de experimentar o novo.

O maior motivador de recomeços, na atualidade, acredito eu que seja a consciência. Cada vez mais pessoas estão a despertar. A entender a importância do seu autocuidado. Em muitos ambientes laborais, infelizmente, a cultura promovida não é saudável e vemos por isso os índices globais de satisfação e felicidade no triste patamar em que se encontram. A harmonia parece estar associada à calma e aparentemente, a calma não se associa a resultados (apesar de que, a calma traz resultados altamente sustentáveis no longo prazo). Portanto, a crença presente é a de manter um ambiente competitivo, para que sejam gerados resultados. No entanto, algo muito comum que os ambientes competitivos rapidamente revelam como subproduto é a agressividade, por excesso de estímulo de competição. Numa competição saudável, existe espaço para a dicotomia entre harmonia e competição. Em que uma favorece a outra. No entanto, criámos socialmente este estigma de despertar os resultados necessários por meio de uma perspetiva de medo. Que gera stress desnecessário. Apontamos a manter os trabalhadores leais e produtivos através deste método. É mais fácil? No curto prazo, sim. No entanto, com o acumular destes dois fatores, a mente pessoal e o ambiente coletivo envenenam-se gradualmente, como se de uma bomba-relógio se tratasse, prestes a explodir a qualquer momento. Esta bolha que se cria, e que tem gerado a maioria (para não dizer todas) as crises que temos experienciado desde a viragem do milénio é a notória expressão da desvalorização do ser humano enquanto ele mesmo.

A habilidade de recomeçar

Enquanto temos sido treinados e ensinados a viver em sociedade, começámos a cair no extremo de viver para ela. Temos vindo a perder mais e mais a identidade individual e fortalecido mais e mais a identidade coletiva. Com isto, o ser deteriora-se em prol de um bem-maior que não é necessariamente mau e sim que está assente em alicerces frágeis: desconhecemos o porquê de fazermos o que fazemos, os valores em que a sociedade em que vivemos assenta (e nem estão alinhados entre as classes sociais), o que torna tudo uma gigante nuvem de confusão mental, que novamente favorece o nosso estado altamente instável e pronto a estourar.

A parte boa, que eu acredito que está a começar a melhorar a passos sólidos, ainda que curtos, é a consciência individual da necessidade de respeitar e valorizar a identidade própria sobre a identidade coletiva, de forma a que a primeira contribua para esta segunda. Isto sim é o que determina a habilidade (e sobretudo, a coragem) de recomeçar. De nos mudarmos, quer seja o ambiente a nível de pessoas quer seja o ambiente a nível de espaço físico. Quer seja o que somos, o que fazemos e o que temos. O tempo mostra-nos que nunca é tarde nem é cedo. Estamos sempre a tempo de uma mudança. Uma decisão distinta. Uma escolha diferente. Um novo recomeço.

A vida — Os recomeços como parte da jornada

Na realidade, toda a vida que não apresenta mudanças, que de alguma forma se tornam recomeços, é apenas e só uma repetição da mesma coisa numa panóplia de diferentes cenários. Como se diz, “não queiras viver um ano repetido oitenta vezes e chamar a isso vida”.
A cada nova fase que vivemos, é necessário que mudemos algo. Tomemos uma decisão diferente. Isso apresenta-nos um recomeço. Neste processo, que é a melhoria contínua, o recomeço é apenas a forma de voltar à fase 0 de uma nova dimensão da vida. Começando de uma posição de experiência e de conhecimento, em que podemos transmutar vivências de coisas que já sabemos, de forma a facilitar e alavancar este novo processo de aprendizagem.

Recomeçar não é bom nem mau. É necessário. A vida precisa do novo. Nós precisamos do novo. A curiosidade que carregamos precisa ser estimulada. Revitalizada. Explorada. Temos de ir atrás do que nos apaixona e descobrir porque isso nos faz sentir da maneira que faz. Atrás do desconhecido mora algo mágico que só quando nos dispomos aos recomeços, saltos de fé, (o que seja que lhe queres chamar), conseguimos efetivamente atingir novas dimensões, patamares e níveis na vida, de forma a chegar a novos locais, novos ambientes, novas pessoas e viver novas experiências.

Vou estar, a partir da próxima quinta-feira e até domingo, num evento. Espero arranjar tempo para vos escrever aqui pelo meio de tudo o que está a acontecer na minha vida.

O importante aqui, é que o evento se chama, precisamente, Restart. A segunda edição de um imersão de três dias, liderada pelo maravilhoso e incrível mentor que é o Jorge Coutinho.
A primeira, em março deste ano, participei, como VIP, devido a um programa de mentoria experimental em que participei. Desta feita, irei fazer algo novo. Estar no evento, não enquanto participante e sim enquanto voluntário da equipa de organização. Uma nova experiência. Uma forma de recomeçar, a partir de uma nova perspetiva. Ver um destes eventos pelo outro lado.

Vou terminar esta publicação de forma direta, dizendo-te que todos nós tememos recomeços. É inato. Uma parte da nossa mente, aquela que quer garantir a nossa segurança, vai sempre tremer face ao desconhecido. Deixo-te o lembrete que a coragem não é agir sem medo. É sim, agir para além do medo!
O medo é uma emoção que carrega uma mensagem. De preparação. Um aviso de que vai ser desconfortável. Bem lá no fundo, através da nossa intuição, nós sabemos que se nos faz tremer, ainda que seja desconfortável, certamente a recompensa do outro lado, qualquer que ela seja, valerá a pena obter. Porque no mínimo, vamos crescer. Aprender algo novo. Descobrir mais força dentro de nós. Experimentar a novidade. Expandir os nossos horizontes. E descobrir uma nova faceta do nosso ser, que nos vai abrir mais portas do que alguma vez imaginámos possível!

(Se pelo meio quebrarmos um par de crenças e conceções que nos estavam a limitar, tanto melhor!)

Vai. Arrisca. Recomeça. Na realidade, deves ter mais a ganhar do que a perder com isso. Já para não falar que, o arrependimento do que não fizeres, lá à frente, vai doer sempre mais do que as experiências que viveste…

Qual o passo que podes dar hoje rumo àquele recomeço que tens estado a adiar?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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