Quando tudo falha

Daniel Covas
6 min readDec 12, 2022

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E quando tudo falha? Vou sempre dar os dois lados da moeda. Não vou falar só e apenas do que é bom, nem falar só e apenas do que é mau. Vou mostrar o que há em cada lado e cabe a cada um escolher onde se quer manter ou para onde quer passar. Desta forma, se na última publicação vos apresentei um pouco do poder de criação que possuímos, hoje quero dizer-vos que, por existirem fatores não controláveis na nossa vida, por vezes, as coisas falham. Pode falhar apenas uma coisa ou então pode falhar tudo ao mesmo tempo.

· Lei de Murphy

· A conotação do falhanço

· A importância da falha

Lei de Murphy

Designa-se como lei de Murphy algo que pouco tem de base cientifíca. É mais aquilo que podemos considerar como um adágio, referente às preversidades do universo, que se reflete nesta frase: “Qualquer coisa que possa correr mal irá correr mal, no pior momento possível”. Podemos resumir da seguinte forma: “Se pode correr mal, vai correr”. A título de curiosidade, existem referências a este princípio desde há dois séculos. Ganhou fama e nome nos anos 50, nos Estados Unidos, numa experiência de tolerância à gravidade, onde alguns sensores foram instalados de forma errada. A experiência foi conduzida pelo engenheiro espacial major Edward A. Murphy, daí o nome. Para vos referir alguns exemplos de generalidades culturais quotidianas que suportam esta lei:

- O pão cai sempre com a manteiga para baixo.

- A fila do lado anda sempre mais rápido.

- A informação mais importante de qualquer mapa está na dobra ou na margem.

- As meias entram na máquina a duas e duas e saem a uma e uma.

Uma breve explicação para o porquê de esta lei ser considerada no mundo como algo viável está diretamente relacionado com a nossa memória seletiva, pois nós temos uma facilidade muito superior em reconhecer e lembrar daquilo que corre de forma inesperada e maior dificuldade em lembrar daquilo que corre da maneira habitual, porque essa é sempre a maneira que esperamos que corra. Quando correspondemos às expetativas que criamos, raramente reconhecemos aquilo que fazemos.

A conotação do falhanço

Pegando na ideia final do ponto anterior, a nossa educação está desenhada em redor do acerto e do erro. Quando acertamos, somos recompensados. Quando erramos, somos punidos. Isto não está totalmente errado, nem está totalmente certo. Devemos recompensar-nos quando acertamos, claro que sim. No entanto, quando erramos, não temos de nos punir necessariamente. Um erro merece, em primeiro lugar, ser visto como uma aprendizagem. Como se costuma dizer, ninguém nasce ensinado. Especialmente quando tentamos algo novo pela primeira vez, a possibilidade de errar é relativamente elevada.

Por exemplo, na escola (que é mesmo aí que começam a instaurar no nosso sistema esta nossa aversão ao erro), cada vez que nos ensinam algo novo, esperam que nós já não cometamos mais erros naquele assunto. Pelo contrário. Porque um assunto só é fácil para quem o domina. Para quem aprende algo novo, existe uma série de processos, a nível neurológico, de forma a que esse novo assunto seja integrado no sistema. Nós somos seres curiosos por natureza. E esta curiosidade faz com que exploremos as várias hipóteses que na nossa cabeça fazem sentido, para perceber o enquadramento do novo assunto naquilo que é a nossa visão do mundo.

Claro que todos devemos ter bases mínimas nas várias áreas comuns da nossa vida. Saber escrever e falar é importante. Ter noções básicas de matemática e raciocínio lógico. Ter algumas noções científicas e biológicas. E aqui a escola até contribuí bastante. E depois? Existe toda a vertente menos racional e mais emocional da nossa vida. Inteligência emocional, aceitação de comportamentos e atitudes, respeito pela opinião alheia, crenças e valores, importância da identidade… e tantas outras coisas das quais nem sequer ouvimos falar durante o tempo de escola.

Chegamos ao momento em que temos de enfrentar a vida e aquilo que sabemos chega-nos para enfrentar a lógica da situação e não temos recursos para enfrentar a emocionalidade da vida e as suas interações. Existem vários tipos de inteligência e a escola parece apenas preocupar-se com um deles, que é a inteligência lógico-matemática. Porque até linguísticamente, somos estimulados de forma lógica e não de forma criativa. Na brilhante citação atribuída a Einstein, temos a analogia perfeita: “Todos somos génios. Mas, se continuarmos a julgar um peixe pela sua capacidade de subir uma árvore, ele vai passar a vida inteira a acreditar que é estúpido.”

Com tudo isto, apesar da divergência em relação ao tópico original deste ponto, a realidade é uma: aquilo que nos ensinam na escola é insuficiente para encarar todas as vertentes da vida. E para além disso, ainda saímos de lá com anos e anos a martelar na conotação errada da falha, de que é uma coisa má, de que não pode acontecer. Desta forma, ganhamos um medo real em relação à falha.

Photo by Mahdi Bafande on Unsplash

A importância da falha

Agora sim, vamos clarificar isto. Errar, falhar, como quiserem, é algo necessário para aprender. Especialmente, aprender o que não funciona. Aprender algo novo exige de nós estarmos dispostos a passar por um processo de entender algo de que não possuíamos conhecimento, de forma a incorporar isso na nossa vida. Primeiro, demora tempo. Segundo, exige estudo. Terceiro, vamos falhar. Porque na teoria as condições são as que nós quisermos. Na realidade, as condições são as que são. Isso é o que provoca os erros, a divergência entre as condições esperadas e as condições reais. Agora, e aqui sim está a parte mais importante de tudo isto: quando cometemos o erro temos de ganhar consciência desse erro o mais rápido possível. Depois, entender qual foi a aprendizagem. Quais seriam as condições que tinham feito as nossas ações resultar e de que forma temos de agir perante as condições que enfrentámos e não tinhamos conhecimento delas. A partir desse momento, esse erro deixa de ser aceitável, pois já temos essa aprendizagem.

Errar uma vez é uma aprendizagem. Cometer o mesmo erro uma segunda vez é a confirmação do estudo da aprendizagem. Cometer esse mesmo erro um terceira vez, é uma escolha.

Nesta frase, está resumida a importância do erro. Falhar é a aprendizagem mais dura e, ao mesmo tempo, a que mais nos faz crescer, porque é uma aprendizagem por experiência direta. Quando estamos ali, com “as mãos na massa”.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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