Preparação para o inesperado

Porque é importante e para que serve?

Daniel Covas
6 min readSep 14, 2023

Devo confessar que, entre todos os temas que tenho “na gaveta” para lançar neste momento, só há um que supera este (em breve descobrirão qual). Ainda assim, estou super entusiasmado para produzir algo muito interessante ao longo das próximas linhas, ou não fosse este o segundo de três princípios nos quais assenta a minha filosofia Beat the Mind.

Fazer o que tem de ser feito

O que tem isto que ver com preparação? É através das ações que realizamos que nos podemos treinar e preparar para os acontecimentos inesperados. São as coisas que fazemos que nos fortalecem a determinação, a resiliência, a disciplina, a perseverança e a inteligência emocional para lidarmos com aquilo que não estávamos a contar e que sabemos que acontece. Ser consistente é importante por isso. Como posso ser forte para aguentar o que não estou à espera, se não executo o que está sobre o meu controlo? Aquele que não treina para se fortalecer, enfraquece. Esse, torna-se mais vulnerável a que, ao mais pequeno detalhe fora do seu controlo, descarrile por completo e se perca no automatismo da vida.

Como sabemos o que tem de ser feito? Vá lá, vocês sabem isso tão bem ou melhor até do que eu. Não precisamos todos de ir ginásio. Não precisamos todos de ir correr. Precisamos sim de ter atividades que mantenham o nosso corpo saudável, forte e ativo. Não precisamos de ler todos os mesmos livros. Precisamos de aprender continuamente sobre aquilo que mais nos for fundamental para desenrolar a nossa vida na direção dos nossos sonhos. Não precisamos todos de fazer as mesmas coisas. Só precisamos de fazer o que nos faz bem. Porque se há algo que todos precisamos e merecemos, é simplesmente de amar ser amados.

O que importa olhar para o que não podemos ver?

Agora sim, vamos começar a entrar na “toca do coelho”. Como assim nos conseguimos preparar para o inesperado, se é o inesperado? Que, por definição, é algo que não estamos a contar nem à espera? Bem, comecemos com a definição:
“inesperado — Que não se esperava; que acontece ou surge de repente, sem se prever; aquilo que ocorre ou surge de forma imprevista.”

Portanto, “como nos podemos preparar para o inesperado?”, é a questão recorrente. Vamos começar por uma ponta, para fazer algum sentido. Prometo que há um método nesta loucura.
O inesperado será algo que vai acontecer que não imaginaríamos, nem nos nossos sonhos mais rebuscados. Portanto, como poderemos alguma vez estar preparados para isso? Será o inesperado à prova de preparação? Na minha opinião, não.

Tenho vindo a falar sobre curiosidade. O facto de ser o motor que nos move em direção à evolução. Se a coragem é o motor, sem dúvida que a imaginação será o combustível. Porque é esta capacidade tão nossa de visualizar mentalmente quer o que existe, quer hipóteses remotas que nos permitem criar, descobrir e inventar as coisas mais extraordinárias. É através desta capacidade de imaginar, mais propriamente de visualizar, que quero traçar o próximo ponto. O inesperado é invisível. Até acontecer. Quando não esperamos que aconteça, não sabemos de onde nem sob que forma se irá manifestar, na realidade. E porque será isso importante? Não é. Se nos focarmos efetivamente no inesperado, vamos viver num estado constante de stress e ansiedade, porque estamos sempre à espera da próxima coisa que pode acontecer, da próxima coisa que pode correr mal, da próxima coisa que se pode colocar no nosso caminho… Bem, afinal este cenário até é bem real. Demasiado, arrisco a dizer. Tudo porque tentamos antecipar o inesperado, com este foco no futuro, em vez de nos prepararmos para ele, no presente. O inesperado não é mau. O nosso foco em relação a ele e o significado que lhe atribuímos sim. Porque está distorcido. No entanto, boas notícias: se é algo que estamos a fazer, sendo que não somos uma árvore, podemos mexer-nos. Podemos fazer diferente e mudar!

Aprender a esperar — Cultivar a paciência

A paciência, como tudo na nossa vida, é treinável. E o que tem a paciência a ver com o inesperado? Nada. Tudo. Paciência é a arte de esperar. Não de esperar inconscientemente, isso é perder tempo. Paciência é esperar de forma sábia.
Na vida, aquilo que vale a pena pratica-se primeiro para se recolher o resultado depois. Aquilo que nos vicia, pratica-se para se recolher a recompensa de forma imediata. É assim que perdemos a capacidade de nos prepararmos para o inesperado: como desejamos que o resultado em troca das nossas ações seja imediato, quando acontece algo após fazermos o que tem de ser feito que não o resultado que estávamos à espera, acreditamos que estamos a fazer algo errado. Não estamos, no que toca às nossas ações. O erro está na perceção. O que aconteceu foi só algo inesperado, não foi o resultado das nossas ações. Esse só virá mais à frente (porque parto do princípio aqui que estamos a falar de ações produtivas, não de ações viciantes). A prática, o treino, o cultivo da paciência entra em jogo neste tipo de momentos. O inesperado surge para “desafiar” a que questionemos as razões do caminho que estamos a seguir. De forma a nos encorajar ou desencorajar, perante as respostas a que chegarmos.

Reflexão final

No fundo, preparar para o inesperado é um jogo do gato e do rato com a vida, de certa forma. Ambas as perguntas seguintes: “O que importa o que não conseguimos ver?” e “Como nos preparamos para o que não prevemos?” são duas bases fundamentais que nos desafiam a aceitar esta perspetiva de nos prepararmos para o inesperado, da forma que nos for possível. Através do treino que for. Desde que estejamos a reforçar algum aspeto do nosso carácter, comportamento ou atributo de capacidade ou habilidade, estamos a preparar-nos para lidar com o próximo inesperado que nos surgir no caminho.

Há uma frase do David Goggins (entre tantas outras), em especial sobre este tema, que desde o momento em que a ouvi, preparar-me para o inesperado através de tudo o que faço começou a fazer sentido. Numa troca de palavras dele com alguém, fizeram-lhe uma pergunta:

“Porque é que treinas da maneira que treinas, gostas assim tanto?”

E a resposta dele, que pode chocar a maioria de vocês, porque estamos a falar de alguém que, apesar de viver neste mundo, não se rege pelas mesmas normas que nós comuns mortais. Alguém que é preciso compreender de uma forma muito própria e única. Segue a resposta:

“Eu odeio treinar. Faço-o para me preparar mentalmente para aquele dia em que me ligarem, às duas da manhã, a dizer que a minha mãe morreu. É por isso que treino tanto, para estar preparado.”

Sou-vos honesto. É literalmente uma resposta brutal, no sentido bárbaro. A primeira vez que ouvi isto, não me fez o menor sentido. No entanto, a frase continuou a ressoar na minha cabeça. E com o passar dos tempos, com cada treino a mais, com o cultivar da paciência para esperar pelos resultados, fui entendendo o que ele queria dizer. Da minha forma, à minha maneira (sou muito suspeito aqui em concordar com o Goggins, porque sou extremamente grato aos ensinamentos de resiliência que absorvi dele e me permitiram ultrapassar algumas das fases mais negras da minha vida).

No fundo, preparar-nos para o inesperado é sobre isto. Sobre praticarmos ao máximo cada ação, cada coisa verdadeiramente importante. Que leva as nossas áreas e dimensões da vida para níveis tão elevados que, quando nos acontece o que quer que seja, temos a capacidade, os recursos e as faculdades necessárias: espirituais, emocionais, mentais e físicas para lidar com o que quer que seja que decidiu cruzar o nosso caminho.

O que já fizeste hoje para te preparares para o próximo momento inesperado na tua vida?

--

--

Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

Responses (2)