Preparação
E quando temos toda a preparação, cumprimos maior parte das vezes o devido treino, seguimos as regras e o plano estabelecido e surgem condições adversas à última da hora que invalidam tudo aquilo para que estivemos a trabalhar?
· A importância da preparação
· Quando a preparação falha
· As emoções do pós-preparação
Importância da preparação
Quando nos comprometemos connosco em fazer algo, especialmente quando é um desafio ou um desejo que temos, traçamos um plano com gosto. Fazemos diariamente as ações necessárias ao sucesso de tal tarefa com uma disposição maravilhosa. E, dia após dia, sentimo-nos melhor. Mais fortes. Mais capazes. Mais confiantes. O esforço continua presente, cada vez é maior e cada vez é mais recompensador. Que sensação incrível. A data aproxima-se e, em vez da ansiedade, sentimos paz e alegria, pela vontade que temos em conquistar mais uma meta que nos vai cumprir um desejo e riscar mais um sonho da bucket list. Para mim, isso era a maratona, neste domingo, que se avizinha, 12 de junho de 2022.
Ainda assim, aparentemente, esse feito não estava destinado a ser cumprido. O joelho começou a repercutir os treinos e o esforço. A acumulação de muito desafio, muito desnível de terreno e muitas dezenas de quilómetros fizeram-se sentir. E, adicionalmente, surgiu após um dos treinos no ginásio, uma dor interna, na zona abdominal, que acredito ser uma inflamação de esforço. E com a presença destes fatores, tive de tomar uma decisão e abandonar o cumprimento desta prova.
Uma decisão que me custa. Por ser um sonho, por saber que me preparei para isto desde há mais de 3 meses e chegar à reta final e ter de voltar a adiar a conclusão dos 42,195km para um próximo evento.
A verdadeira importância da preparação, para qualquer tipo de evento, é o aniquilar da ansiedade que surge inevitavelmente nos momentos anteriores ao início de tal evento. É a preparação, sob todas as suas formas (física, mental e espiritual) que nos permite realmente eliminar toda a dúvida e assumir toda a confiança e potencial que temos dentro, de forma a libertá-lo na sua máxima plenitude.
Quando a preparação falha
E quando a preparação falha? O que acontece aqui? Bem, primeiro é importante entender a falha. O que a causou. Será que foi realmente uma falha? E se assim for, que lição há a retirar? Sim, já sei, são demasiadas perguntas. Nós queremos ler para ter respostas, não para ter mais perguntas, essas todos conseguimos criar facilmente. Questionar é positivo, pois é uma excelente forma de obter clareza sobre o que queremos ou não.
Agora, voltando ao que é importante. Falha. Em primeiro, se nos deixarmos levar pela busca da perfeição ao cumprir o nosso plano de preparação, não nos estamos a respeitar realmente. Porque faz parte. A vida surge e vão existir aspetos que podem não correr como desejado. Porque as circunstâncias do mundo estão fora do nosso controlo. E isso, temos de aceitar. E nos dias que nos sentimos bem, colocamos o esforço extra. Uma coisa não compensa a outra. Ainda assim, o que é importante é a consistência que apresentamos. E fugir um dia ou outro, usar o prazer a favor da apreciação da jornada é benéfico no longo prazo, pois é o que nos mantém no caminho desejado. Portanto, em primeira instância, talvez a falha não seja realmente uma falha. É tudo uma questão de refletir e avaliar.
No caso de a falha ser proveniente de uma desculpa, de falta de vontade, de preguiça, de prioridades erradas com aquilo que somos, então essa falha é efetivamente real. E é o pior tipo de falha, porque é uma falha que põe em causa o nosso compromisso connosco próprios, o que por sua vez compromete a nossa integridade, congruência, confiança e autoestima. Esta é a falha que não podemos permitir, a todo o custo.
Agora, a título mais prático, o tipo de falha que mexe mais connosco é o erro. Dou-vos um exemplo meu, por experiência. Treino de corrida, 20km. Condições duras, à noite, vento, subidas e descidas. Tive de parar várias vezes. Falhei em completar a corrida de forma contínua. Foi uma falha. No entanto, retirei a lição. Primeiro, tinha circunstâncias que dificultaram o meu treino. Depois, assumi a responsabilidade de que, simplesmente, não estava preparado para fazer aquela distância, naquele momento da minha jornada de treino. Não podia deixar que aquilo me abalasse. Então, no dia seguinte recuperei. Voltei a várias corridas mais curtas nos dias seguintes. A cumprir o plano. E essa falha ficou pela experiência, pelo desafio e pela lição. E este é o melhor tipo de falha, o que nos ensina, o que nos faz refletir sobre a nossa fase presente. O que nos faz colocar tudo em perspetiva. Nesses dias, em que erramos, são os dias em que mais crescemos a todos os níveis, quando absorvemos efetiva e eficazmente a lição que temos ali.
As emoções do pós-preparação
Aqui, vou falar-vos por fim daquilo que são as nossas sensações após toda a preparação. Quando chegamos ao dia derradeiro. Seja uma apresentação, uma entrevista, uma palestra, um teste, um exame ou uma maratona.
Após o término da fase de preparação e a execução oficial do evento, o espaço temporal entre estes acontecimentos normalmente é reduzido. No entanto, pode parecer gigante. Ou não. Podemos sentir uma montanha-russa de emoções. Ou não. Podemos simplesmente estar focados no momento e no acontecimento. Ou não. O que quero dizer é que esta fase é muito própria de cada um. Ainda assim, todos vamos sentir alguma coisa, de alguma forma, com alguma intensidade, consoante o nível de preparação que sentimos que possuímos num determinado momento.
O que quero aqui deixar é o facto de, por vezes, surgirem condições exteriores ao nosso controlo que nos impedem de executar o acontecimento para o qual nos preparámos e essa oportunidade passa. A maratona onde me inscrevi vai acontecer este domingo. O meu nível de preparação está à altura de cumprir essa prova. No entanto, pelas circunstâncias físicas que se apresentaram, de forma a preservar a minha saúde, vou renunciar a participação em dita prova. E neste momento, com esta decisão, as emoções são mais que muitas. Entender que todo o tempo que usei a treinar não me vai servir de nada… Imaginar que investi esse tempo e não vou obter retorno… Estes tipos de pensamentos são os primeiros a surgir e são FALSOS! É a nossa mente a tentar convencer-nos que a segurança e o conforto são melhores que o desafio e a adaptação. Claro, o meu treino não me vai servir para cumprir uma prova que não farei. Ainda assim, o treino fez de mim melhor. Trouxe-me até onde estou neste momento. O que aprendi em todos aqueles quilómetros que percorri, o quanto cresci, isso ninguém me pode tirar. Apesar de tudo o que sinto neste momento, é hora de saber avaliar a situação. Foi uma falha fora do meu controlo, uma lesão. O que posso fazer? Parar, recuperar, descansar. Diagnosticar, planear, melhorar, reforçar. E voltar mais forte. Simples assim. Vai ser duro, vai doer, vai levar tempo… E vai VALER A PENA! Porque ser melhor do que era no ano passado, ser mais do que era no último mês, ser um 1% melhor do que era ontem, isso é a verdadeira jornada enquanto ser humano. A exploração prática do nosso máximo potencial e a elevação constante do nosso carácter e da nossa atitude, de forma a inspirar outros a fazerem o seu melhor nas suas vidas.
Esta é a emoção neste momento. O conforto em saber que estou a preservar a minha saúde. A vontade de recuperar e regressar mais forte. A fome e o desejo de encontrar uma próxima maratona, para estabelecer um novo objetivo e atingir essa meta. É o que me move neste momento.
Se a tua preparação te levou ao resultado desejado, ótimo! Define o próximo objetivo.
Se a preparação não te levou ao resultado desejado, boa! Tens aí uma lição. Aprende o que tens a aprender, traça o próximo objetivo e move-te em direção a ele.
Se a preparação te levou até um ponto onde circunstâncias externas te impediram de atingir o objetivo, boa! Procura a razão. Assume a responsabilidade pela tua parte. Volta à preparação. Diagnostica, repara, recupera e regressa mais forte. Traça o próximo objetivo e começa a caminhar para lá.
Simplicidade, acima de tudo. Preparação, para tudo. Ação, para a vida. Resultados, para viver.
Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu superpoder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.
Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.