Porque fazemos o que fazemos?

Daniel Covas
5 min readMay 19, 2023

--

Como eu amo esta pergunta. Claro que a faço no singular, quando me questiono a mim próprio. No entanto, ao dirigir-me a vocês, que me lêem desse lado, deixo a questão no sentido comunitário.
Não deve haver pergunta que envolva mais variáveis que esta, nos dias de hoje. Um mundo em crescimento e despertar dentro da vertente espiritual, que cada vez mais se questiona sobre propósito. Sobre as razões mais profundas atrás das suas ações. O materialismo está, passo a passo, a perder a sobrevalorização que sofreu. O ego começa a perder a batalha. No entanto, ainda há muito a fazer, porque a resistência está a dar a sua quota parte de luta do outro lado.
No entanto, sou um otimista incontornável em ver o bem do mundo e o potencial iluminado das pessoas. Afinal de contas, vamos buscar forças ao que nos potencia.

  • Dor e prazer
  • Relação com o tempo
  • Paciência

Dor e prazer

Os dois vetores que conduzem a ação humana, na sua raíz. Como me ensinou um grande mentor meu, “vamos sempre fazer mais para nos afastarmos da dor do que para nos aproximarmos do prazer”. E eu questionei-me porque seria isto. Porque tememos mais a dor do que adoramos o prazer? Aparentemente, é assim que estamos programados. Por muito que o nosso neocortex cerebral tenha evoluído e nos tenha levado ao topo da hierarquia animal, continuamos a ter a mesma base cerebral, cognitivamente falando, do que tinhamos há 50.000 anos atrás. Isto significa que, na essência, as nossas ações são ditadas pela nossa necessidade primitiva de sobrevivência. Quanto a isso, não há muito a fazer, porque o corpo está desenhado, na sua totalidade, efetivamente, para sobreviver, acima de tudo. O que não implica que não possamos fazer nada, pelo contrário. Até chegarmos a esse estímulo, temos vários passos onde podemos parar e agir, em vez de simplesmente reagir. Podemos treinar-nos, efetivamente, a aceitar a dor de forma diferente daquela que estamos programados. Podemos treinar-nos, do mesmo modo, a olhar para o prazer de forma diferente daquela que estamos desenhados originalmente.

Estes vetores definem o nosso caminho de ação. E, dentro do nosso controlo, devemos escolher guiar-nos por aquilo que mais alimenta o nosso ser, independentemente de existir mais dor ou mais prazer pelo meio. O que importa é o que ganhamos ao passar por essa dor e por esse prazer. É quem nos tornamos do outro lado que importa, não a dor e o prazer, per si.

O Homem que ama caminhar vai chegar mais longe que o Homem que ama o destino.

Relação com o tempo

Pegando na frase que encerra o ponto anterior, inicio este com base nisso. A pior relação que criámos, atualmente, com a evolução e os picos de dependência de dopamina momentâneos e instantâneos, é a relação humana com o tempo. Primeiro, é importante entender que, os sistemas de medição de tempo não são obra da natureza. São obra do homem. O relógio, o calendário, tudo criações nossas, para (tentar) controlar uma das variáveis que a ciência mais estuda: o tempo.

O tempo é uma variável que, invariavelmente, faz parte da vida. Na realidade, é aquilo que nos faz correr atrás de algo com significado. É o que nos dá o sentimento de urgência e de compreensão que “não temos todo o tempo do mundo”. Ao mesmo tempo, é o que nos gera frustração. Que nos faz assumir que não estamos a ser rápidos o suficiente. Que devíamos ter alcançado já mais do que aquilo que alcançámos. Ou então, isto está só na nossa cabeça. Porque o tempo passa, sem piedade de nada nem ninguém. Ao seu ritmo, certeiro e constante. Afinal de contas, o que é o tempo?
Uma questão excecional. É uma grandeza física. É a palavra que usamos para nos referir ao estado meteorológico. É, por definição, uma sucessão ininterrupta e eterna de instantes.

Esta última é, para mim, uma simples definição da complexidade que é o tempo. Quando pensamos nas coisas que mais têm valor para nós, ponderamos sobre a família, o dinheiro, a liberdade… a verdade é que, podias dar-me 1.000.000.000.000 € neste momento. Eu seria incapaz de te devolver o tempo que investiste a ler esta publicação, até aqui ou daqui em diante. Na realidade, valorizes o que valorizares, os dois bens mais escassos da vida são o tempo e a energia.

Voltando ao tópico, porque temos esta relação tão péssima com o tempo? Porque odiamos aquilo que não controlamos. O tempo é o pináculo de grandezas que nos foge ao controlo. Não conseguimos tolerar aquilo que não nos respeita da forma que queremos. Somos uns egoístas com o tempo. E continuamos à espera que ele passe no ritmo que nós queremos. Bem, essa batalha acredito que a vamos perder, eternamente.
Quando somos muito pequenos, queremos ser adultos. Queremos que o tempo passe rápido. Sem pensarmos naquela criança que foi diagnosticada com um tumor cerebral e que tem o seu tempo contado. Que espera que ele passe o mais lentamente possível, para aproveitar ao máximo cada momento. Não só somos egoístas com o tempo, como somos egoístas com aqueles que vivem condições que não conhecemos ou experienciámos.

Photo by Aron Visuals on Unsplash

Paciência

Por esta altura, se parares para pensar no tema inicial, parece que tomámos uma via secundária que nos levou a dar uma volta desnecessária. Nada disso. Pelo contrário, para percebermos o porquê de fazermos o que fazemos, temos realmente de entender que o tempo a passar é o que nos fez chegar a esta questão. Tempo, no caso, a nossa ânsia pela (suposta) falta dele, é o que nos leva a fazer estas questões. Que são extremamente importantes. No entanto, a nossa reação desmedida em resposta é o que dá cabo de nós. É agir, não reagir, que nos vai permitir chegar a um lugar com significado. E não falo de um lugar físico. Falo de uma posição, a nível de estado de espírito, que nos permita reconhecer as vicissitudes da vida e ainda assim, avançar. Que nos permita olhar para o tempo como um aliado e avançar. Progresso só se alcança com paciência. Paciência só é possível com propósito.

O propósito não precisa de ser poético. Encantado. Brilhante e iluminado. Entende o que te move na vida. Por mais simples e banal que seja. A tua fé, os teus filhos, a tua família, o teu desejo de ser mais, o teu desejo de inspirar, o teu desejo de mudar, o teu desejo de dar tudo aquilo que nunca recebeste… Não importa o que é. Importa que seja claro para ti, que te inspire e te faça reconhecer uma coisa: Se hoje fosse o último dia da tua vida, garante que o viveste a Ser o teu melhor EU, a perseguir a tua melhor intenção, a Fazer o teu melhor e a entregares tudo o resto ao controlo de quem de direito.

A minha pergunta para ti é: Porque fazes o que fazes?

--

--

Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

No responses yet