Pontualidade
Um mundo tão acelerado, que parece só saber chegar atrasado
Seguimos com mais um aspeto extremamente básico e simples, que a cada momento que passa parece ser menos e menos importante na vida quotidiana. Isto porque, mais uma vez, na perspetiva daquilo que observo, só nos dizem que é importante, não nos explicam porquê. O propósito em ser pontual, à imagem de fazer a cama, existe. E está para lá de simplesmente chegar a horas.
A Ação
Ao contrário de fazer a cama, não é propriamente uma ação com um determinado método. É sim, algo que exige planeamento. Como está diretamente relacionado com o tempo, é uma daquelas coisas binárias: ou acontece ou não acontece. Não se é mais ou menos pontual, por muito que nos queiramos convencer disso. Ou chegamos a horas, ou chegamos atrasados. Podemos chegar pouco atrasados ou muito atrasados (a única variável quantitativa), chegar antes da hora ou ser efetivamente pontuais. A ação em si funciona assim. O que vem antes, é o que a determina. O tempo que levamos a preparar-nos, a deslocação, o local, os protocolos à chegada. Tudo influencia a pontualidade.
As variáveis
O mundo tende a ser um lugar em extrema mudança, especialmente na atualidade. Mais e mais, a cada dia que passa. O stress, a pressão social, força de alguma forma a vontade e necessidade de querer chegar a todo o lado. Assim, acabamos por não chegar a lado nenhum. O mais engraçado é que usamos isso como desculpa. “Estava ocupado”; “Estava a terminar uma coisa”; “Não tive tempo de me preparar a horas”. Portanto, não ser pontual a terminar algo impede-nos de ser pontual num outro algo.
Mais do que isso, existem tantos outros aspetos que normalmente podemos usar para nos “justificar” a falta de preparação e planeamento. O trânsito, por exemplo. Um imprevisto que não é importante e que ainda assim, decidimos aceitar. Uma tarefa mundana que achamos que temos tempo naquele momento de fazer. O tempo. O frio. O calor. Tudo serve para acreditarmos que é “justo” chegar atrasado. Não é.
A realidade
A vida não é perfeita: Ninguém chega sempre a horas. Ninguém chega sempre atrasado. A nossa vida não é totalitária, por mais que fosse do nosso agrado. Não controlamos tudo o que existe nela. Existem variáveis que nos vão afetar. Dependendo da dimensão dessas, a nossa preparação é o que vai determinar se as conseguimos contornar e ainda assim atingir a pontualidade (neste caso) ou se as variáveis serão superiores à nossa preparação e vamos, efetivamente, chegar atrasados.
Certamente que conheces alguém que chega maioritariamente de forma pontual. Certamente que conheces alguém que chega maioritariamente atrasado.
O primeiro, já chegou atrasado em alguma ocasião, a algum lado. O segundo, já chegou a horas em alguma ocasião, a algum lado. E sabes o que é mais provável de acontecer?
A pessoa pontual chegar atrasada.
Isto porque, chegar a horas é um hábito que requer disciplina. Compromisso. Honra. Valor. Resiliência. Determinação.
Chegar atrasado é um hábito de procrastinação. De stress. De conforto. O que é confortável vai sempre ser mais difícil de quebrar do que o que não é.
É por isso que ser pontual tem tanto valor, porque reflete carácter. Numa primeira impressão, o que transmite mais credibilidade pessoal? Uma pessoa pontual ou uma pessoa que chega depois da hora? (pergunta retórica).
Ainda que seja mais provável a pessoa pontual chegar atrasada, isso não significa que acontece com mais frequência. Isto é, ainda que as probabilidades indiquem que a pessoa pontual chegue atrasada é o mais provável, a pessoa pontual vai mais frequentemente chegar a horas do que a pessoa que normalmente chega atrasada vai chegar a horas. Espero que esteja a ser confuso e ao mesmo tempo, claro o suficiente.
Apontamento final
No fim de contas, não é um crime chegar atrasado nem é um milagre chegar a horas. Todos vamos fazer ambos. No entanto, o esforço para chegar a horas é sempre recompensador e a permissão de chegar atrasado é um mau hábito simples que fomenta outros comportamentos de procrastinação a existir.
Não vamos chegar sempre a horas, é facto.
Não vamos chegar sempre atrasados, é facto.
Reforçando a ideia total que fui martelando ao longo destas palavras e resumindo da forma mais simples, ficamos com esta ideia:
- Ser pontual: implica planeamento e gestão. É dizer um sim aos compromissos que assumimos e um não àquilo que nos distrai e desvia desses compromissos. Gera disciplina e rigor. Fortalece o carácter. Transmite uma imagem exemplar. Inspira confiança. A decisão difícil que dá a recompensa valorosa.
- Chegar atrasado: não implica nada. É o piloto automático e o deixar andar da vida. É dizermos a nós próprios que somos personagens secundárias na nossa vida, porque não estamos a assumir a responsabilidade das variáveis que temos hipótese de influenciar e/ou controlar.
Carácter, identidade, todas as qualidades intrínsecas refletem e são fortalecidas pela pontualidade. São enfraquecidas quando nos deixamos ser permissivos e não assussimos a responsabilidade pela vida.
Já foste pontual hoje?