Pensar
Se há tema que me apraz escrever é este. Pensar foi, durante anos, a minha atividade dominadora. Continua a ser a minha melhor faceta, até. No entanto, com bastantes outras dimensões a terem papéis cada vez maiores com a minha evolução humana.
Não obstante, pensar é uma arte. Mais uma daquelas capacidades que coloco na “caixinha” das garantias. Uma daquelas habilidades que tomamos como certa, pela sua simplicidade. Porém, se víssemos o que acontece nas máquinas que são os nossos cérebros, cada vez que invocamos uma memória ou produzimos um pensamento, reconsideraríamos, provavelmente, o esforço de pensar e o quanto devemos valorizar tal aspeto da nossa vida.
- O que é pensar?
- As crenças, a memória, o cérebro, a mente e o pensamento
- A arte de pensar
- Conclusões
Pensar
Bem, esta é uma palavra cuja definição é muito pouco clara, pelos dicionários online onde procurei, pelo menos.
Pensar será um termo que associamos diretamente a formular ideias. A conceber pensamentos. Que ligamos, quase instantaneamente, a ramos como a filosofia, a matemática. A bem dizer, à ciência em geral. Na minha perceção, que é bastante subjetiva e sei que sou um suspeito a falar do tema, como já anunciei acima, isto é o que posso definir como pensar:
“A arte mental humana de conceber processos e estratégias que permitem alcançar um resultado real a partir de conceções imaginárias.”
Em palavras simples e bonitas, para mim, isto é pensar. Apesar de, quando discutimos o tema, como vou começar a explorar no próximo ponto, pensar é uma atividade que inspira uma boa quantidade de recursos internos a ser utilizada na melhor das capacidades. É todo um processo complexo de ligações entre construções mentais imaginárias e factos reais, que se interligam no campo cerebral do pensamento abstrato.
Pensamentos e características associadas
Para começar, quero distinguir entre duas expressões semelhantes, que tantas vezes usamos para nos referir ao mesmo e que, em termos de detalhes, são ligeiramente diferentes: cérebro e mente. O primeiro, é a parte física. Responsável pelo nosso funcionamento biológico e todos os processos a isso ligados. A mente é o abstrato. O que produz os pensamentos. O que desencadeia toda a parte de imaginação, de contemplação, de criatividade e pura criação. Ambas estão interligadas. De forma a simplificar, vamos usar esta lógica: a mente representa os estímulos. O cérebro representa a resposta.
Quando vos falo das crenças associadas à mente, a pensar, a primeira coisa que surge, na realidade são duas que estão extremamente associadas: memória e inteligência. E surgem numa ótica de como se fossem os únicos aspetos mensuráveis que podem determinar o nosso pensamento. Que erróneo que isto se tornou. Uma conceção que devemos, urgentemente, desconstruir. Boa memória não significa ser inteligente. Ser inteligente não significa ser bom a pensar. E a mesma coisa em retroação. A memória é apenas um aspeto da mente. Não é boa ou má. Está mais ou menos desenvolvida. Mais ou menos treinada. Só isso. Quanto à inteligência, é semelhante. O que é, afinal de contas, ser inteligente? O que tem isso a ver com pensar?
Todas as pessoas têm a capacidade de pensar. Muito ou pouco apurada, está presente. Todas as pessoas são inteligentes, em um ou mais campos, dependendo da sua predisposição genética e das capacidades que treinam ao longo da vida.
Esclarecendo um pouco isto, inteligência é o conjunto de faculdades intelectuais de um indivíduo. Segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas, os seres humanos possuem 8 tipos diferentes de inteligências:
- Linguística
- Lógica
- Espacial
- Motora
- Musical
- Interpessoal
- Intrapessoal
- Naturalista
Ou seja, inteligência não é aquele conceito abstrato da escola de “ser bom” em todas as disciplinas. Alguém que tenha uma inteligência motora potenciada, que pode ter um excelente futuro no mundo desportivo e não é muito bom em matemática ou línguas, não significa que não seja inteligente. Isto é uma das primeiras crenças que é instaurada no período letivo, que é o mais fértil de criação de programas mentais. Acredito que, ao longo das décadas que têm passado, por apenas se valorizar a inteligência lógica no ensino, se perderam muitas pessoas com potencialidades maravilhosas noutras áreas, simplesmente porque as fizeram acreditar que não eram boas o suficiente ou porque lhes disseram que aquilo que realmente faziam bem não era um caminho de valor. Qualquer uma destas duas frases tem tanto de errado… Até se ganhar a consciência de como corrigir isto e efetivamente corrigi-lo, demora muito tempo. Que seria desnecessário, se a escola desse a devida importância e reconhecimento a todas as áreas da mesma forma. Não acontecendo assim, esse muito tempo é a melhor hipótese que temos em valorizar a nossa inteligência ou inteligências predominantes, retirar delas a maior potência possível e criar um sistema de crenças que nos permita confiar e acreditar no que podemos criar com aquilo que fazemos realmente bem.
A arte de pensar
Após vos falar um pouco sobre inteligência, crenças, capacidades (e abordei muito superficialmente, vou ponderar uma segunda publicação a estender esse tema), vou focar-me em pensar agora. No pensamento. Não tanto na vertente biológica, deixo isso para os estudiosos do respetivo campo. Focar-me-ei na importância do pensamento. Onde o devemos usar, como podemos tirar o maior poder dele.
Pensar é, para mim, uma das atividades mais estimulantes que existe. Quando comecei a entender o potencial humano, o poder verdadeiro que carregamos dentro, comecei a pensar mais e mais como poderia esse poder ser manifestado e como podia apoiar outros a fazerem o mesmo, com o seu próprio potencial. Isto, claro, colocou-me a pensar. E tem sido este, o maior tema e mais presente nos meus pensamentos, nos últimos tempos. Entretanto, quero deixar-vos uma ou outra curiosidade pelo caminho:
Temos, diariamente, 50 000 a 60 000 pensamentos. 80 a 90% deles, são um loop, totalmente idênticos aos do dia anterior (a tal vida em piloto automático).
Para o cérebro, é mais confortável e menos desgastante se o dia seguinte for igual ao dia anterior. Daí existir esta constante repetição de padrões e pensamentos. Esta é uma das principais razões pelas quais é tão difícil instaurar novos hábitos. Instintivamente, vamos sempre refugiar-nos no conhecido e fazê-lo de forma automática. Para instaurar algo novo, temos de pensar, propositadamente e intencionalmente, em cada detalhe e atividade a desenvolver.
Quando se fala em criação de hábitos, todos já ouvimos falar que demora 21 dias para os construir. Na realidade, não é bem assim. 21 dias é o tempo que o cérebro demora para se adaptar a uma mudança. Quando falamos em incorporar novos hábitos, falamos de um período que pode ir de 18 a 254 dias. Em média, demoramos 66 dias a criar um hábito, com base neste mesmo estudo.
O que tem isto a ver com pensar, perguntam vocês? Bem, tudo. Na realidade, tudo na vida está interligado. Agora, pensar, tem algo muito interessante associado.
Seja o saber como pensar, que provém muito do tipo de inteligência que temos, que nos faz olhar, por defeito, para o mundo de uma determinada forma.
Seja a importância de diferenciar pensamento automático de pensamento intencional, em que um funciona por si só, por repetição do habitual e o outro é um esforço mental de superar as barreiras do desconhecido.
Na realidade, é importante saber pensar. Para criar. Para construir uma nova vida. Uma nova identidade. Mais forte. Mais resiliente. Mais adaptável. Mais disciplinada. Mais consistente. Tudo isso, começa no pensamento.
E tão importante como saber pensar, é saber não pensar. A vida é feita de equilíbrio. Logo, temos períodos de pensamento da mesma forma que temos de ter de não pensamento. Masterizar uma habilidade é sobre controlo total. Saber pensar implica saber quando o fazer, de forma extremamente exímia e saber quando não o fazer, de forma extremamente pacífica.
E porque não vos vou massacrar com mais leitura por hoje, interiorizem isto. Na próxima semana, voltamos com a parte dois…