O paradoxo da felicidade
O que nos leva lá contra o que nos distrai da tristeza
A felicidade, por norma, é associada a um estado de espírito de bem-estar acima da média, que muitas vezes parece ser o propósito da maioria das pessoas no curto, médio e longo prazo. Uma utopia a que todos desejamos de alguma maneira chegar e que quando a sentimos, parecemos ficar com medo que desapareça. Isto porque, nada na vida é permanente. Incluindo a felicidade. É real que abordar conceitos que são intangíveis requer uma perspetiva um pouco mais subjetiva, pois não consigo falar daquilo que outra pessoa acredita ser felicidade, para além daquilo que eu próprio acredito e interpreto. Ainda assim, darei o meu melhor para tornar objetivas as observações que fizer, para além da experiência pessoal que inserir sobre o tema.
O que é a felicidade?
Diz o dicionário que felicidade é:
“Estado de pessoa feliz; concurso de circunstâncias boas;
tendência para acontecimentos positivos ou favoráveis;
bom resultado.”
Parece-me a mim, uma explicação pobre para uma palavra que nos causa tanta alegria. Afinal, o que é a felicidade?
Parece ser a grande pergunta que vai reger o curso do artigo. A felicidade, naquilo que a podemos considerar, está diretamente associada a vários outros aspetos componentes da nossa vida. Desde os nossos níveis de satisfação geral, o nosso equilíbrio emocional, o nosso bem-estar físico e mental e claro, a nossa perceção das circunstâncias que estamos a viver. Tudo isto influencia a felicidade que sentimos, num determinado momento.
Pessoalmente, gosto de imaginar, à boa imagem análoga do jogo Sims, a felicidade como uma barra que vamos preenchendo ao longo do dia, da semana, do mês, do ano, ao longo da vida inteira. Consoante as nossas ações e aquilo que nos vai acontecendo. Para aqueles que se recordam do jogo, uma das barras de necessidade que tinhamos de preencher é precisamente a da felicidade. Isso era possível realizando ações relacionadas a lazer, tal como ler um livro, observar a natureza, ir a um espaço público, interagir com outras personagens, etc.
Tal como no jogo, também na vida precisamos de executar ações que nos permitam sentir essa felicidade, para nos vermos felizes. Estas ações variam de pessoa para pessoa e é aqui, precisamente neste ponto, que entra o subtítulo do tema de hoje (achavam mesmo que eram só rosas e felicidade bonita?)
O que nos leva à felicidade vs o que nos afasta da tristeza
O nosso espetro de emoções e sensações é vasto, apesar de quando nos questionamos e refletimos sobre o assunto, torna-se mais simples do que a complicação que assumimos mentalmente. Desde raiva a tristeza, passando por mágoa, rancor ou culpa, salientando ainda alegria e frustração, sem esquecer a angústia, a gratidão e a esperança. Temos um pacote completo de emoções que podemos sentir e experienciar. Cada uma delas, à sua forma, expressa-se com uma determinada série de comportamentos, ações e reações características.
Novamente, a partir de uma perspetiva pessoal, não vejo a felicidade como uma emoção singular. Vejo-a como uma mescla de aspetos que contribuem para a criar, como descrito mais acima. Ainda assim, quero trazer aqui uma reflexão sobre dois pontos opostos, diretamente correlacionados com o que escrevi no título: dor e prazer.
A dor, vai representar aquilo que não nos agrada.
O prazer, vai representar aquilo que nos estimula.
Coloquei as palavras que coloquei por razões muito específicas. Atentem nos vocábulos, pois eles serão realmente importantes para encontrarmos uma distinção determinante entre aquilo que realmente nos faz feliz e aquilo que apenas cria uma ilusão de felicidade.
Um hábito comum que associamos a felicidade é ir a uma festa. Por si só, não está errado. No entanto, o que te saltou à mente?
- Sair de casa à noite, voltar de manhã
- Ingerir bebidas alcoólicas excessivamente
- Rodearmo-nos de um ambiente pouco são
Fico por aqui, pois já toquei em três pilares fundamentais: corpo, mente e ambiente. O primeiro, pela falta de sono. O segundo, pela ingestão de substâncias estímulantes e destrutivas para o nosso organismo. O terceiro, e não menos importante, o ambiente, desde o nível sonoro até à parte social, sabota-nos sem percebermos bem como aconteceu. Quero dizer com isto que é errado ir a festas? Longe de mim.
O que quero dizer é que é errado ir a festas de forma inconsciente. Ir para celebrar, ir para diversão própria, ir para apreciar e aproveitar um concerto, por exemplo, faz total sentido.
Tal como este, existem outros hábitos que associamos a felicidade, que na realidade deviamos associar a outra palavra: prazer.
E porquê?
Porque a felicidade não depende de fatores externos para se manter e não inclui uma quebra gigante de estado quando o estímulo termina. O prazer, por outro lado, é precisamente isso: o resultado imediato de resposta a um estímulo excessivo.
Todos gostam de uma boa festa. Nibguém aprecia a quebra do dia seguinte. Porque não é sustentável. Não é felicidade. É puro prazer, vazio e superficial.
Se a carapuça estiver a servir, lamento. É a realidade. Felicidade é sobre preenchimento. Sobre estarmos agradados e plenos com aquilo que fazemos a título pessoal, proissional e relacional. Para celebrar isso, usemos esses momentos de forma consciente.
Quando usamos momentos de lazer para criar felicidade, estamos apenas a perseguir o prazer momentâneo, para nos afastarmos da tristeza que não queremos encarar e enfrentar. Esta é a diferença.
Ser feliz dói. É difícil. Dá trabalho. E vale a pena…
Quando se entra neste mundo, de nos dedicarmos de forma comprometida, intencional e verdadeira ao desenvolvimento humano, estamos a entrar numa jornada que não tem regresso. Nem final. É uma jornada infinita, que não tem ponto de partida certo nem ponto de chegada definido. Possivelmente por ser tão abstrato, é algo que causa bastante desconforto numa fase introdutória. Porque manter aquilo que já se conhece e com que estamos familiarizados será sempre mais fácil do que abraçar um novo caminho na vida, especialmente um que desafie tudo o que sabemos, conhecemos, acreditamos e valorizamos.
Porém, o que este caminho nos ensina, mais do que tudo, é precisamente a importância que a nossa jornada na vida tem. Não é sobre o que alcançamos, compramos, obtemos, o título que conquistamos ou qualquer prémio com que somos laureados. Não é no final, e sim em cada pequeno passo do caminho, cada falha, cada êxito, cada experiência, cada momento, que encontramos a felicidade. Escondida no pleno estado de consciência do momento presente. É o apreciar harmonioso da nossa vida que nos dá a felicidade!
Para além disso, as pessoas que se cruzam no nosso caminho, seja as que vêm da infância, que aparecem apenas por uma temporada ou que surgem e ficam para o resto da nossa vida, ensinam-nos e inspiram-nos. Isto, através do seu contríbuto para as experiências e para a forma como vivenciamos os momentos que partilhamos com essas mesmas pessoas.
Já te permitiste ser feliz hoje?