Normalismo

O perigo de ser igual

Daniel Covas
4 min readNov 9, 2023

Tanto que gosto deste tema. Sei bem que nem é propriamente uma palavra e acredito totalmente que a estão a entender. E até está, provavelmente, a criar já um certo desconforto. Ainda bem. É esse um dos meus objetivos, para que se desliguem dos padrões de pensamento automático e quebrem essa rotina, de forma a ativar a parte crítica e autónoma da vossa mente. Vamos lá a mais uma viagem.

Porquê normalizar a vida?

Normas, regras, padrões. São bons ou maus? Bem, nem uma coisa, nem outra. São aspetos necessários à vida em sociedade. Sem ordem, reina o caos. E no caos, não conseguimos viver de forma organizada e ordeira. Por essa razão, temos um Estado. Uma Constituiçao. Leis, legislações e tudo o resto que constitui a burocracia e a base política dos países e organizações. Esses órgãos, pelo poder que lhes foi instituido, começaram a desenhar um estilo de vida social que seria de esperar da população. E assim, em termos básicos, chegamos à normalização dos padrões de vida que vemos atualmente. Da mesma forma que não há qualquer constrangimento em ser igual, não há também qualquer problema em ser diferente. E agora, a quebra: ambos são necessários!

Pois é. Precisamos de pessoas normais tanto quanto precisamos de pessoas fora da norma. Todas as variáveis do Universo precisam de um equilíbrio!

Sim, eu sei que falo e defendo com todas as minhas forças o quanto é importante sermos nós próprios. E ser normal não nos deve nem tem de impedir de sermos autênticos. Ainda que o subtítulo seja aquilo que é, e já lá vamos chegar. Paciência. Primeiro, há que escrutinar a normalidade, para chegar à questão da igualdade que ela cria. Que na realidade, é mais repetição e replicação do que propriamente igualdade. Detalhes que importam.

Voltando, a norma da vida, culturalmente instaurada e que continua a sobreviver, é este clássico:

  • Nascer
  • Crescer
  • Estudar
  • Trabalhar
  • Casar
  • Comprar uma casa
  • Comprar um carro
  • Ter filhos
  • Reformar
  • Morrer

Algo dentro destas linhas. E com isto, começa a roda viva da busca incessante por uma harmonia prazerosa, para desfrutar de cada um destes aspetos. A questão que entra aqui em jogo, especialmente no que toca à divisão de águas entre ser normal e ser igual é esta: quão facilmente e inconscientemente aceitaste esta realidade como tua, sem a questionar?

A crise da replicação

Aqui sim, surge o perigo de ser igual: ser simplesmente uma massa humana que deambula por este mundo, a percorrer um caminho que alguém lhe atribuiu, de forma totalmente automática. Sim, é mesmo para provocar desconforto. Esta replicação de padrões comportamentais de forma incosnciente é o que torna o normalismo em algo perigoso. Porque aceitamos regras sem questionar se são nossas ou para nós. Aceitamos padrões, sem questionar se são nossos ou para nós. E pior, aceitamos valores e crenças, sem questionar se são nossos ou para nós. O que se reflete numa identidade artificial. Isto sim, é o verdadeiro perigo que um caminho normal incorre. Porque no fundo, tudo se resume ao mesmo: consciência.

O problema não é aquele caminho que descrevi acima, que conhecemos de forma tão famosa hoje em dia como a “roda dos ratos”, por ser uma rotina tão automática. No entanto, há pessoas que o percorrem felizes, dado que o fazem de forma consciente. Logo, não é problema do caminho em si, é um problema de identidade. De fazermos algo desajustado ou desalinhado com quem somos. Isto porque, para começar, nem sabemos quem somos! Porque aceitámos aquele conjunto de características, regras, normas, padrões, valores e crenças, que a sociedade tão veemente nos impingiu, que chegámos a um ponto onde nem pensávamos, novamente, na mesma pergunta: porque estou a fazer o que estou a fazer?

A humanidade, enquanto sociedade, não é uma linha de montagem. Não é suposto sermos réplicas uns dos outros. Não é suposto todos pensarmos da mesma forma. Não é suposto todos gostarmos das mesmas coisas. Não é suposto todos fazermos as coisas da mesma maneira. Podemos ter caminhos semelhantes e comuns, claro. E mesmo assim, cada um trazer algo novo ou diferente para acrescentar a essa jornada que está a percorrer. Isso sim, é a parte mais bonita da vida. O dar e receber. O ensinar e aprender. O amar e ser amado. A unicidade não está em sermos todos diferentes. Está em sermos genuínos e autênticos, aceitando a genuinidade e autencidade do outro, para que todos vivamos numa comunhão social de crescimento e progresso, que nos permita harmonia e evolução, em todos os níveis da vida.

E atenção, isto implica que existam discussões. Que existam desentendimentos. Talvez conflitos até. Porque tudo faz parte. O maravilhoso espetáculo da cooperação balanceado com o crítico cenário dos julgamentos (que aliado a outras causas, gera a maioria das consequências sociais que contrariam a cooperação e o crescimento conjunto).

Já sabem que encontrar um balanço harmónico é provavelmente uma tarefa que implica esforço para o resto da vida, porque em cada fase dela, as circunstâncias mudam em alguma dimensão, que exigem um recomeço ou adaptação desse mesmo equilíbrio.

Consideração Final: Autenticidade

Ser genuíno. Viver a nossa identidade e essência mais pura. Não é fácil nem difícil. É natural!
Levantamos barreiras contra esta nossa natureza, tudo em prol de tentar encaixar, normalmente, onde nem sequer pertencemos. Ou para agradar. Seja de que forma for, fazemos um esforço megalómano ao longo da vida (quanto mais tempo passa, maior é essa resistência) a tentar ser alguma coisa que não somos. Até que um dia, acreditamos tanto nisso que deixamos de saber, efetivamente, quem somos de verdade. Quanto mais nos afastamos da nossa identidade, mais trabalho e mais dor vamos ter de suportar para voltar verdadeiramente e intencionalmente a quem somos.

Já te perguntaste quem és tu hoje?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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