Nada
A contemplação do vazio
Acontece de forma algo comum, pelo menos comigo, não necessariamente a parte de contemplar o horizonte e sim a parte de me abstrair de tudo e conseguir não estar a pensar em nada. Como se fosse um momento de esvaziar, semelhante ao que descrevi na publicação onde falei da importância de escrever. Porém, este momento de despejar é algo diferente. É puramente mental, metafísico até, se quiseres. Não tem uma componente tangível. Acontece todo na cabeça. A verdadeira pergunta agora é: o que acontece, se não estamos a pensar em nada?
O nada
Quanto é zero? Nada. O zero foi um conceito de extrema importância na transição da numeração romana para a numeração de algarismos, como a conhecemos hoje. Ter um elemento que representa a ausência de algo é realmente fascinante, porque como pode uma coisa existir, se essa coisa representa a ausência de existência? Deixo-vos este quebra-cabeças para entreter o vosso pensamento. No que toca ao mundo matemático, a realidade é que o zero desempenha um papel crucial e fundamental em muitos processos, do mais básico ao mais avançado. Porque permite que “exista” um elemento representante da ausência de elementos.
Na nossa vida e em especial, na nossa mente, é de fulcral importância a capacidade de “esvaziar”. Podemos usar técnicas como a escrita e a expressão pela palavra, como quem diz, “dizer aquilo que nos vai na cabeça”. Para lá disso, é importante que saibamos apreciar, de forma plena e presente aquilo que é o momento em que a mente está vazia. Nem que esse momento seja apenas e só um breve instante, como um sopro ou um batimento do coração.
O valor de nada
Tudo muito bonito e, de que vale algo vazio?
Bem, parece que vou reforçar uma perspetiva que tenho vindo a partilhar bastante:
Saber parar. Desligar. Recentrar. Abstrair. Observar. Presenciar. Apreciar.
Não é sobre não fazer nada. É sobre usar um momento vazio, em que não existe nada na mente, para podermos criar dentro dela o que quisermos, a partir do zero. Passamos o tempo, mais do que a pensar, a repetir pensamentos. Loops infindáveis dos mesmos processos mentais, que, segundo estudos, têm uma percentagem de inutilidade na ordem dos 80 a 90%. Usar energia valiosa a pensar na mesma coisa, um dia após o outro, a repetir um padrão de entupimento mental, que gera regressão a vários níveis do nosso ser é, de facto, algo prejudicial. Não pensar em nada, nem que por um breve segundo, para fazer como que um reset e conseguir quebrar o registo de pensamento pode ser o início de algo incrível, pelo menos do ponto de vista cognitivo. Permite renovar as conexões neurais e refrescar a atividade cerebral adormecida, associada à criatividade e à resolução de problemas. Afinal, progresso, evolução e crescimento estão ligados a isso: saber mais, fazer mais, alcançar mais.
A partir de nada, cria-se tudo. Quer acredites na ciência ou na religião, antes do Big Bang ou antes de Deus criar o mundo, não existia nada. A partir desse nada, criou-se tudo aquilo que hoje conhecemos.
Tu próprio, tu própria, a qualquer momento, podes parar por um momento, a pensar em nada. Nesse momento, podes descobrir que podes criar tudo o que precisas para ti. Não tudo o que queres, porque a nossa imaginação é bem fértil. Tudo o que precisas. Esse tudo está ao teu alcance.