Medo da Mudança
Porque evitamos alterações na vida?
Sendo para mim uma semana de mudança, acredito ser este o tema ideal para escrever sobre. Estava já em rascunho e ainda assim, assenta como uma luva à minha fase atual. Inclusive, foi-me sugerido por alguém que faz parte desta minha mudança. Temos dois termos a abordar durante esta publicação: o medo e a mudança. Por fim, a combinação deles resulta em algo que ultrapassa cada um de forma individual. Pois tal como se diz popularmente, “a união faz a força.”
Origem (da mudança)
Algo, algum tipo de acontecimento, proveniente de algum tipo de estímulo, nos impele à mudança (vamos considerar uma mudança benéfica e positiva). Seja isso a vontade própria, circunstâncias irremediáveis, maus hábitos ou algum tipo de desconforto que nos está a ser causado por algum desequilíbrio, em algum dos domínios da nossa vida. No fundo, somos essencialmente movidos por dois vetores: a dor (aquilo que nos deixa desconfortáveis) e o prazer (aquilo que nos é prazeroso e nos preenche quando o fazemos). A origem dos estímulos que nos leva à mudança vem, portanto, ou da necessidade de nos afastarmos de algo que nos está a causar dor ou do desejo de nos aproximarmos de algo que nos dá prazer. Importante saber que vamos sempre fazer mais para satisfazer a primeira premissa do que a segunda. Isto porque, o nosso animalesco cérebro primitivo, no fundo e como base, quer apenas assegurar a nossa segurança e a nossa sobrevivência. Isso implica afastar da dor, mantendo-nos alerta do perigo, sem nos aproximar demasiado do prazer, que pode provocar distração (falando de um ponto de vista puramente de sobrevivência).
Origem (do medo)
Sem surpresas, o que vem da mente origina-se com as mesmas bases, com diferentes manifestações. O nosso sistema, ou melhor, a integração de todos os nossos sistemas internos funciona de forma a alcançar o balanço e a alcançar a nossa eficácia, quer interna, quer externa. Para isso, existem mecanismos que ele desenvolve, através das experiências que atravessamos, de forma a reprimir ao máximo a repetição de situações que foram reconhecidas como perigosas. Explicado de forma arcaica, é assim que os nossos medos se desenvolvem. Ou seja, eles não passam de mecanismos que têm como principal função a nossa proteção, evitando tudo o que pareça remotamente desconfortável. É nesses momentos, quando queremos arriscar e usar o tal músculo da coragem, que os nossos medos vêm “falar” connosco, ao ouvido, dizer-nos todas aquelas coisas que já sabemos.
Ou seja, estamos a falar de um sistema (o nosso) que abomina o perigo do desconforto, pelo desgaste do estado de alerta e pelo enfrentamento acrescido do desconhecido. Ao decidirmos avançar com algo novo e superar o medo da mudança, damos não só o passo de enfrentar esse medo, como também o passo de aceitar o desconhecido e ir à descoberta do novo que estará do outro lado. Ter medo da mudança é extremamente natural, sem muitas vezes percebermos porquê. Partirmos deste pressuposto inicial de que o nosso corpo e mente estão apenas a proteger-nos, conseguimos criar um ponto de partida melhor, mais tranquilo e mais saudável para lidar em paz com medos e mudanças, quaisquer que sejam.
Enfrentando o medo — desenvolvimento da coragem
Equipara-se de forma frequente a coragem a um músculo que podemos desenvolver, com treino e repetição. Porém, ao ser algo intangível e menos mensurável que outros aspetos, parece ficar muito menos claro de que forma podemos treinar a coragem ou sequer se, quando a usamos, o estamos a fazer de forma a treiná-la eficientemente. A maioria dos aspetos humanos tem uma particularidade: subjetividade. As nossas experiências moldam-nos a um ponto em que, o que é coragem para uma pessoa, é uma lide diária para outra. Sendo algo assim tão subjetivo, como podemos entender o progresso e de que forma podemos realmente enfrentar estes aspetos?
A primeira parte é uma palavra que repito tanto que o treino com ela não falha: consciência. Ter a consciência de quais são os nossos medos, de onde imaginamos que possam ter surgido, o que os despoletou em primeiro lugar.
A segunda parte, após esta consciência de identificação, passa por questionar. Como é que este medo me faz sentir?; Que sensações me provocam este medo?
Num terceiro momento, ao criarmos esta forma de ambiente controlado ao redor do medo, estamos a preparar-nos para executar pequenas ações rumo ao desafio que é o desconforto de ultrapassar o dito medo.
Não é assim tão simples, claro. E não vou escrever aqui um manual sobre o tema. Isso é assunto de trabalho profundo em formato individual.
Voltado ao início deste parágrafo, o importante é a sensação que temos de superaçao do medo. A forma como nos moldamos e tornamos confortáveis na quantidade de desconforto que estamos a criar para nós próprios, expressando a nossa melhor coragem, a nosso favor.
Considerações finais
O medo é natural. É um mecanismo de segurança do nosso sistema, que promove a nossa segurança e evita o nosso desconforto a todo o custo. Seja o medo que for. Apesar do título original “Medo da Mudança”, acabei a explorar mais o primeiro conceito, deixando um pouco de parte o segundo. Isto porque, na prática, o segundo é uma ramificação do primeiro. O medo da mudança protege-nos contra o desconhecido, contra fatores incógnitos, ambientes diferentes e variáveis não costumes ao dia-a-dia. A reflexão a retirar daqui é a perceção dos nosso medos: o quanto os estamos a respeitar, compreender e aceitar, de forma a tomar riscos controlados e calculados, sem causar excesso de stress ao nosso sistema? Superar o medo é excelente, forçar o medo a desaparecer é perigoso, porque é um mecanismo de defesa que estamos a querer tirar ao nosso corpo e à nossa mente. O sistema de forma equilibrada, entre os limites próprios que impõe a si próprio e os desafios desconfortáveis a que o expomos para se tornar mais forte.
Somos todos diamantes em bruto. Obras de arte personalizadas por explorar. Entender a forma como funcionamos e nos podemos desafiar e lapidar ao longo do tempo, de forma tranquila e progressiva, é o que, entre outras coisas, nos vai direcionar rumo ao progresso, em todas as dimensões e níveis de vida.