Legado
O que vais deixar depois de ti?
Numa geração que vai ficando, passo a passo mais confusa e comprometida pelo facilitismo, ao mesmo tempo é uma geração extremamente desperta e aberta à vertente espiritual e mais profunda do ser.
A busca pelo propósito, pelo impacto. A vontade e necessidade de criar algo profundo. Eu acredito nesta geração. Aliás, acredito em todas. Acredito, mais do que tudo, que há muito trabalho para fazer para despertar todo o potencial interno que está enterrado em cada geração. As que estão a terminar, têm o seu legado a concluir. As que estão a germinar, são as que precisam de apoio, direção e sobretudo, de ser libertadas das suas próprias prisões mentais.
- A batalha geracional
- O legado
- O que vem depois?
Uma das definições mais simples e profundas que já ouvi sobre legado é algo do género:
“O homem que planta uma árvore sabendo que a sombra dela não o vai abrigar a ele, começou a entender o significado da vida.”
Tendo em conta a transição social que estamos a viver atualmente, a batalha geracional está ao rubro: desde o Covid, com todas as questões de identidade e género que parecem ter tomado a liderança de discussão, a par com a igualdade e o papel de homens e mulheres na sociedade, estamos a desafiar tudo o que existe. Se é mau? Não necessariamente. Se é bom? Também digo que não. Discordar, discutir, questionar, estudar, provar diferente. É isso que tem levado o mundo a evoluir. Até onde estamos. Foi o nosso discernimento e a vontade de estimular a nossa curiosidade que fez a ciência, a tecnologia, a medicina, os transportes, tudo o que conhecemos, evoluir. Transformar-se ao longo dos tempos. Agora, que parece que temos tudo descoberto, avançar já não é tanto sobre grandes feitos e momentos “Eureka!”, como o foi no tempo de Euclides, Pitágoras e outros. Ou até de Galileu. A última grande era de descobertas é, provavelmente, o início do século passado, quando “voámos” de avião pela primeira vez, desbloqueámos as comunicações para lá das ligações com fios e encontrámos respostas para perguntas grandes da ciência.
Agora, a evolução é sobre aprimorar detalhes. Transformar e evoluir com base no que foi descoberto por aqueles que estiveram cá antes de nós. Afinal de contas, de que serve o legado de alguém, se não lhe damos continuidade?
Entretanto, aspetos curiosos começaram a acontecer. A Inquisição foi abolida, depois de todas as atrocidades que cometeu ao longo do tempo. No entanto, acredito que este domínio deixou as suas questões para trás. Despertou a tal curiosidade. Hoje, em dia, assistimos a um controlo diferente, que ainda assim é inegável. Já não se cometem atrocidades mortais per se. No entanto o facilitismo, a urgência, a dependência, o resultado imediato controla-nos de uma forma que não precisamos de ter alguém a dizer no que devemos ou não acreditar. Temos um sistema desenhado para que digamos a nós mesmos no que devemos acreditar ou não, que repete a mesma mensagem várias vezes ao dia, em vários canais de comunicação, para que o nosso registo a nível de pensamentos se mantenha num nível constante e inalterável.
No entanto, é impossível abolir a curiosidade natural. Como o nosso cérebro tem recursos para lá da nossa imaginação, o que acontece é que ele vai criar formas de desafiar os factos existentes. Por mais ridículas que essas formas nos possam parecer. Porque a curiosidade que as gerações antes de nós plantaram, tem de germinar.
Estes desafios são aquilo que acredito ser a causa de tudo o que a geração atual está a viver. Porque quando se viram para dentro, dizem-lhe que o caminho não é por ali. Quando se viram para fora, não sentem que seja o caminho. Então, encontram o cruzamento e resistem da forma que sabem para assumir uma posição. E enquanto uma das partes não começar a ceder e a respeitar a outra, não haverá avanços. Aqui, ambos os lados são culpados. Não importa se um é mais ou menos culpado. É sim sobre assumir a responsabilidade de “calçar os sapatos” de quem está do outro lado, para deixar de lado as batalhas superficiais e nos focarmos, enquanto sociedade, naquilo que realmente importa: viver em harmonia.
O Legado
A nossa história, aquilo que criamos a cada dia, para acrescentar ao livro que é a nossa vida. Isso é o legado que deixamos. Ele só se torna verdadeiro e genuíno quando paramosde ser co-produtores da vida e agarramos efetivamente a caneta que escreve aquilo que fazemos e nos tornamos autores da nossa história. Isso é assumir a responsabilidade:
- De Ser o nosso EU mais autêntico
- Da nossa vida
Isso é tomar a decisão de deixar um legado. Para lá do que os costumes ditam. Para lá do que as gerações em que vivemos estão a passar. Para lá de guerras e pandemias. Para lá das coisas mais fúteis e mais complexas da vida.
Deixar um legado pode ser qualquer coisa. Não importa se é um feito megalómano ou um comportamento simples. Ouvi uma vez dizer:
“Morremos duas vezes. A primeira quando o coração deixa de bater e a segunda é a última vez que alguém diz o nosso nome.”
Quanto mais profundo e impactante for o nosso legado, mais vamos viver segundo este princípio. Há pessoas que ficaram conhecidas na história por descobertas incríveis, como por exemplo Sir Isaac Newton. Outras, ficaram conhecidas por atos simples, que tiveram um grande poder, como Rosa Parks. Mais uma vez, porque quero frisar bem este ponto: não temos de fazer uma descoberta que mude o mundo, temos de ser nós próprios e deixar a nossa mensagem em cada pessoa que cruza o nosso caminho. Esse é o legado mais bonito que podemos escrever.
Falei mais acima sobre viver em harmonia enquanto sociedade. Isso não significa um mundo sem crime. Sem tragédia, sem discordância. Sem discussão. Não falei de um mundo perfeito, tal coisa não existe. Tal como a Natureza representa um sistema equilibrado, também nós, enquanto sociedade, precisamos do mal para valorizar o bem. Eles equilibram-se. Vou mais longe até para dizer que o bem é o referencial do mal. Porque se este último não existisse, como poderiamos proclamar uma ação como boa? Seria apenas uma ação. Claro que isto abre uma discussão moral que dá tema para a próxima semana.
Fechando aqui hoje, o legado não é sobre o bem e o mal. É sobre deixar a nossa marca. Ser o nosso melhor. Viver a nossa vida, da melhor forma que sabemos, deixando o impacto que é a nossa mensagem naquilo que fazemos e nas pessoas que cruzam o nosso caminho. Isso, é o legado mais puro que podemos deixar.
“Legado não é deixar algo para as pessoas. É deixar algo nas pessoas.”
Já contribuiste para a construção do teu legado hoje?