Hábitos
Estou de volta ao Instagram, para aqueles que me seguem. O tema que partilhei, em dois breves posts esta semana, foi precisamente este: hábitos. Hoje, o culminar deste tópico será aqui, num maior escrutínio e desconstrução do que rodeia estes nossos tão queridos “gestores de vida”.
- O que são hábitos
- Como se criam/formam
- Componente intangível de um hábito
- Conclusões e observações
Começamos, como sempre e como eu gosto tanto, pelo início. O que é um hábito?
Não, não vamos falar das vestimentas religiosas com este nome (risos). Um hábito é um modelo comportamental rotinado. Uma forma regular que temos, conhecemos e aplicamos, ao desempenhar determinada tarefa ou atividade.
Alguns hábitos que possuímos foram criados por nós. Outros, foram-nos transmitidos (quer pelos nossos familiares, enquanto crescemos, quer pela sociedade, à medida que a nossa vida progredia e começámos a observar comportamentos repetidos de forma generalizada).
Nota importante: Não vou abordar costumes ou tradições nesta publicação. Estes conceitos, relacionáveis com hábitos, não são, de todo, o objetivo. E quando falamos de tal coisa, estamos a referir-nos a comportamentos sociais aceites ao longo de gerações, a nível mais reduzido (tradições familiares), mediano (tradições da cidade ou país) e geral (tradições civilizacionais ou mundiais).
Pegando de volta no que é importante aqui — Hábitos. Agora que já definimos, de forma simples e objetiva, este conceito, vamos começar a desfazer um pouco a sua construção.
Na definição de hábito, descrevi algo relacionado como “comportamento repetido”. Na sua essência e génese, um hábito forma-se assim. Pegando num comportamento e repetindo-o, vezes suficientes, até se tornar um hábito. Então, para entendermos a formação de um hábito, temos de perceber o que desencadeia um comportamento, o que estimula e o que impede a sua repetição. Porque todos nós temos facilidade em criar certos hábitos e dificuldade em criar outros.
Um comportamento é uma ação intencional. Provém de uma decisão ou reação. A nível neurológico, um comportamento é criado através de uma série de impulsos eléctricos, que transmitem uma mensagem, desde o cérebro até ao músculo executor, através dos famosos neurónios. Então, um hábito é, efetivamente, a repetição de uma ação, até esta se tornar natural. Instintiva. Parte de quem somos. Sendo assim… porque é tão fácil e ao mesmo tempo tão difícil criar um hábito?
Começamos pelo fácil. Escovar os dentes. Independentemente da frequência com que se faça, é um hábito muito comum e que se extende à grande maioria das pessoas. O que caracteriza este hábito? É fácil e simples. Beneficia a nossa saúde oral. O investimento de tempo é bastante curto. Facilmente adaptável. Deixa-me dizer-te que, seja escovar os dentes, apertar os cordões dos sapatos, conduzir ou fazer exercício, a dificuldade é diferente, o tempo de adaptação é diferente. No entanto, a implementação é igual. Precisamente a mesma.
Até me arrisco a escrever que, a dificuldade e tempo são diferentes, não pelas exigências da tarefa e sim pelas diferenças que nos caracterizam, enquanto seres humanos únicos. Permite-me explicar. Conduzir exige consideravelmente maior esforço mental do que escovar os dentes. No entanto, um organismo com uma predisposição prática e uma inteligência motora desenvolvida pode considerar a condução como uma atividade de dificuldade mínima, ao mesmo nível de escovar os dentes até, porque este é um hábito que até não é do seu agrado. Onde quero chegar? Ao costume. Quem somos determina a forma como fazemos o que fazemos e como aprendemos o que queremos aprender.
Logo, se qualquer hábito se cria da mesma forma, pela repetição de um comportamento, então significa que todos somos capazes de possuir todo e qualquer hábito que existe, se assim o desejarmos. Bem, sim e não.
Cada hábito é desenvolvido através do comportamento repetido. Após isso, existem gatilhos específicos, associados a ações que desencadeiam (ou não) o tipo de comportamentos que fortalecem ou enfraquecem os nosso hábitos. Isto, é um trabalho de monitorização que nos cabe a nós fazer, de forma a analisar o progresso da instalação do hábito em nós, sempre refletindo em 4 perguntas que deixarei mais adiante.
De forma objetiva, um hábito é efetivamente a repetição de um comportamento, levando este comportamento através de um ciclo de quatro etapas, denominado “ciclo da excelência”:
Agora, o que é parte intangível de um hábito? Bem, é a razão pela qual escrevi acima que, todos nós somos, ao mesmo tempo, capazes e não capazes de adotar todos os hábitos que existem.
Não sendo eu um generalista, “todos os hábitos que existem”, são efetivamente demasiados. Uma pessoa singular não teria tempo de os executar, provavelmente, na inteiridade da sua vida, para os ver fazer algum tipo de transformação nela.
O que é importante aqui? Focar. Naquilo que desejamos. Naquilo que importa. Naquilo que vai de encontro aos objetivos que temos definidos para o nosso percurso de vida, alinhado com o nosso propósito. Por exemplo, não faz qualquer sentido para mim adotar um hábito de uma alimentação completamente regrada e limpa, porque esse é um hábito designado para atletas de elite, que competem. O que ia estar a fazer? Ia estar a privar-me de alimentos, momentos e experiências que me iam causar dor e o benefício que ia retirar deste hábito não ia justificar o sacríficio que estava a fazer. Porque eu não sou um atleta de elite que vive para competir.
Esta é a medida para responder às questões:
- “Este hábito é bom para mim, serve-me?”
- “Quais os sacrifícios que tenho de fazer para garantir a execução deste hábito?”
- “Quais os benefícios que vou colher deste hábito?”
- “Estes benefícios estão alinhados com a minha visão de vida e os meus objetivos a curto, médio e/ou longo prazo?”
É nesta parte que entra a nossa famosa e querida “batalha contra a mente”. Os nossos desejos de prazer imediato vs o adiamento da gratificação. A mente, a intervir e a dar-nos as desculpas que queremos ouvir, para não fazermos o que temos de fazer. Para não repetirmos aquele novo comportamento, porque nos está a tirar da zona de conforto e a mente acredita que está em perigo, porque nos estamos a expor aos elementos da evolução.
Faz parte do processo e é natural. A prioridade da mente é garantir a nossa sobrevivência e segurança. Isso só existe na zona de conforto, nos hábitos que desenvolvemos durante o nosso crescimento. Que são, precisamente, hábitos que garantem a nossa segurança e sobrevivência. Aprendemos a andar e a correr (mecanismos de fuga). Aprendemos a beber e comer (mecanismos de sobrevivência). Aprendemos a dormir e relaxar (mecanismos de conforto e segurança). Aprendemos, acima de tudo, a necessidade de fazer estas coisas, mais do que elas próprias. Ninguém nos ensina, necessariamente, a dormir. Aprendemos, efetivamente, a sua necessidade.
E assim, criamos uma rotina cheia de hábitos confortáveis. Claro que, quando nos propusermos ao desafio, aos hábitos de crescimento, para atingirmos novos níveis, e inclusivé, novas zonas de conforto, em patamares mais elevados, uma parte de nós vai rejeitar naturalmente essas mudanças.
Após uma história longa e recheada de conteúdo hoje, termino com algumas conclusões e observações finais.
Neste momento do meu percurso, gosto de me reger com um certo grau de ponderação ao me dirigir publicamente a uma audiência ampla, pela variedade e multiculturalidade que posso encontrar. Desta forma, quero deixar aqui, em jeito de conclusão, que os nossos hábitos começam na nossa identidade.
Se estivermos insatisfeitos com quem somos, devemos primeiro refletir quem queremos ser. Depois, entender claramente o que queremos atingir, ou seja, definir objetivos da forma mais clara possível. Com base nestes objetivos, vamos ter o desejo de tomar decisões diferentes. De ter uma atitude diferente. Isto, por sua vez, levará a comportamentos diferentes. Aqui, quando começarmos a agir de forma diferente, é onde temos a oportunidade de desenvolver novos hábitos. Estratégias para isso? Bem, existem muitas por aí. Basta pesquisar.
Termino com um convite. Que deixes nos comentários o teu melhor feedback (seja ou não positivo). Se aprecias publicações mais longas, com mais ou menos conteúdo, com mais ou menos exemplos. Para que, no futuro, te sirva da melhor maneira, com aquilo que desenvolver e partilhar aqui, neste “nosso cantinho”.