Guerra

Daniel Covas
8 min readDec 12, 2022

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Tinha outras intenções temáticas para escrever hoje. No entanto, com a avalanche de informação com que temos sido massivamente bombardeados devido à invasão russa e à possibilidade do despoletar de um novo confronto armado, político, informático, nuclear… venho dirigir-me precisamente a esse tópico.

Algures na página das publicações, existem já duas: “Guerra Interna”, referente às batalhas no interior da nossa mente. “Guerra externa”, referente aos desafios diários que nos podem ser apresentados. Aqui, vou tocar um pouco nestes pontos. Não quero tornar central o tema da invasão, todos estamos cansados dessa parte. Quero sim falar sobre o que há a retirar destas ações. Como lidar com as possibilidades que temos em mãos e com os possíveis cenários disponíveis.

· Factos e dados históricos

· A “humanidade” humana

História

Aquilo a que assistimos, no passado dia de ontem, foi o culminar de anos e anos. Por um lado, entre 1917 e 1922, tivemos Vladimir Lenin, naquilo que conhecemos hoje como Rússia, a iniciar uma revolução contra o governo da altura. Neste espaço temporal, o Exército Vermelho entrou em diversos territórios do antigo império russo, colocando o poder desses mesmos territórios sob o comando bolchevique. Através da unificação desses territórios (entre eles, a Ucrânia), formou-se aquilo que ficou conhecido como a URSS — União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Por outro, ao andar mais para a frente no tempo, chegamos a 1945. Final da Segunda Guerra Mundial. Quando a Alemanha perdeu e o seu território se dividiu em dois (Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental). Esta divisão foi estabelecida entre os grandes líderes da altura, em que a parte ocidental ficou a cargo da influência dos EUA, França e Reino Unido, formando aquilo que se conheceu como RFA — República Federal Alemã. Do lado oriental, a União Soviética estabeleceu a RDA — República Democrática Alemã. Daí, passando à frente todas as políticas, tratados, desentendimentos e coligações, em 1961 é construído o famoso Muro de Berlim, que durou até ao dia 9 de novembro de 1989. Aí, a dominância russa na Europa começa a ceder. Passados dois anos, em 1991, a URSS é dissolvida e a Rússia assumiu, em termos geopolíticos, o território que hoje conhecemos como o delimitado pelas suas fronteiras. Desde essa data em diante, os países foram assumindo a sua identidade e independência.

Para além desta vertente, temos a tão falada questão da NATO — North Atlantic Treaty Organization. Esta organização, criada em 1949, é uma organização militar que consiste no suporte mútuo entre os seus membros, de forma a que se protejam uns aos outros de possíveis transgressões e ou invasões de países estrangeiros. Foi uma aliança fomentada pelos Estados Unidos da América, de forma a ter do seu lado a maior parte das potencias europeias, podendo assim exercer a sua influência nas políticas militares destes estados. Esta organização, claro, representa uma séria ameaça à Rússia. Que vê uma Europa, com os EUA e Canadá na retaguarda, a projetar, ainda que indiretamente, a sua força e poder contra ela. Assim, ao dissolver a URSS, a Rússia fez algumas cedências políticas e assumiu uma abordagem mais semelhante à ocidental. Chegou-se a algo perto de um acordo que daria fim à Guerra Fria, de forma a que cada parte se mantivesse no seu devido lugar.

No entanto, aquilo que se tem visto em tempos recentes, são os países do antigo bloco soviético a juntar-se à NATO. Este é o fator que tem criado realmente atrito entre Moscovo e os seus compatriotas europeus. O governo russo sente-se ameaçado pela expansão da NATO, que tinha prometido não se alargar a leste. O que é temido aqui é a instalação de equipamento bélico junto às fronteiras russas, por parte da NATO.

(De forma muito sucinta e não querendo fugir a nada para além do extremamente essencial, vou cingir-me a estes factos).

“Humanidade” Humana

Em primeiro lugar, eu não tomo partidos nestas situações, por mais condenável que seja um dos lados. Porque o meu primeiro pensamento é sempre: “O que faria se estivesse no lugar daquela pessoa?”. Normalmente, a resposta não é muito clara, especialmente em acontecimentos de extrema sensibilidade, como este. E, se tiver de tomar um lado, por alguma razão, vai ser sempre o do meu país, qualquer que seja ele, pelo juramento que fiz em maio de 2015.

Indo agora de encontro ao assunto em mãos: já percebemos, pelos factos, que isto não é de agora. É algo que vem do passado. Da história. É sobre valores. É sobre sair por cima. É sobre ganhar. Vamos colocar a política, a geografia, a influência, a corrupção, os ganhos capitais de parte. Todas essas vertentes que estão mais que claras, para quem quiser ver e pesquisar. E vamos focar-nos no que sobra. O que sobra? Pessoas. Identidades. Valores. Crenças. Motivações. Ações. Ponto basilar, pessoas. É de nós, pessoas, seres humanos, que surgiu tudo aquilo que nos trouxe até este acontecimento.

Derivado da evolução social hierárquica e a tudo o que tem acontecido a nível tecnológico, neste momento, não importa muito a verdade da notícia, importa ser o primeiro a transmitir. Para ganhar atenção. É onde está a atenção que está o dinheiro. Logo, para convergir o ganho capital (que é possivelmente a ferramenta mais aclamada das últimas duas, três décadas) temos de ser capazes de gerar atenção, captar atenção e direcionar atenção. Quem faz isso com mestria? Os meios de comunicação. Com a sua expansão, nos tempos recentes, para as redes sociais, nas últimas 48h, sensivelmente, todos nós fomos engolidos numa onda de guerra iminente. Com todas as perspetivas possíveis e imaginárias. Acabou o Covid. De repente, as eleições já não foram assim tão más. Chegou uma nova prioridade, que nos tomou todo o foco. Não nos cabe, a nenhum de nós, julgar o que quer que seja, determinar o desfecho desta infeliz situação, nada disso. No entanto, fomos nós também, os responsáveis por deixar que eles ganhem. Com cada partilha. Cada discussão. Cada comentário. Cada julgamento. Tudo o que fazemos com o foco como é desejado por quem controla a atenção, dá-lhes a vitória. Certamente que este ambiente nos vais influenciar de uma forma ou de outra. Não estou a dizer para não o termos em conta.

No entanto, a nossa vida existia antes e acredito que vá continuar a existir depois disto. Tal como aconteceu com o Covid-19. A nossa vida já existia antes. A situação ocorreu. Afetou-nos a todos. Adaptámo-nos. Superámos. E a vida continuou.

Agora deixo aqui a pergunta: Foram as conversas que tiveram sobre o vírus, sobre o julgamento de onde ele foi originado, da expansão, sobre as críticas de quem foi menos responsável no período, sobre a vacinação obrigatória que vos fez ultrapassar o período dos últimos dois anos? Ou será que foram as ações, a adaptação ao teletrabalho, a continuação, renovação ou criação de hábitos que nos levou a ultrapassar algo que não conhecíamos e que nos tivemos de preparar para enfrentar?

Acredito que a maior parte tenha mantido o foco na primeira parte da pergunta. E, se estão a ler isto e ultrapassaram com sucesso o “período covidiano”, significa que, de uma forma ou de outra, também fizeram aquilo que foi preciso. Provavelmente mais por obrigação que por foco e vontade própria. Isso é tema para as outras publicações.

O que quero dizer é que a história se repete ao longo do tempo. Quando nos apegamos aos valores antigos, às crenças antigas, repetimos os mesmos comportamentos em situações novas, para as quais não nos preparámos, porque não esperávamos que fossem acontecer.

Esta situação, como o Covid, como qualquer outra coisa que venha a acontecer no futuro, reflete apenas a nossa falta de preparação para a vida. Representa a nossa rejeição do novo. Estimula a nossa necessidade de certeza e a nossa curiosidade. Abrilhanta-nos a vida por fora, porque de repente consumimos uma informação que alguém ainda não viu e o possuir da novidade dá-nos poder. E apaga a nossa vida por dentro, porque percebemos o quão alheios estamos por a melhor coisa que temos na ponta da língua para partilhar é uma guerra, um acontecimento completamente alheio a nós. Reflete os nossos hábitos diários, na medida em que estamos a escolher ser pensadores livres ou a manter-nos sobre a alçada de um sistema que nos vai continuar a manter às escuras perante as suas reais intenções e a direcionar a nossa atenção a seu bel-prazer.

Concluo com o seguinte: Desapeguem-se da situação externa e façam o máximo uso das vossas ações para serem melhores no vosso mundo. Talvez exista a hipótese de ajudarem, de alguma forma, alguém à vossa volta. E se esse alguém ajudar outro, independentemente do que aconteça, as sementes do bem continuarão a ser plantadas e ele vai continuar a existir.

“Tudo o que é necessário para que o mal triunfe, é que os homens de bem nada façam.”

Edmund Burke

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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