Gelo
Entre muitas coisas boas que tive o prazer e privilégio de fazer e participar neste final de semana, pessoas maravilhosas que conheci e outras fantásticas, de sempre, com quem tive a dádiva de estar novamente. Vou focar-me nesta publicação num workshop, em específico, no qual participei no domingo, pela manhã. Dia 27 de março é um dia especial na minha agenda. Um dos meus melhores amigos de longa data celebra neste dia o seu aniversário. E este ano tornou-se ainda mais mágico. Outro amigo meu, mais recente e também especial, faz anos nesse dia. Como se dois aniversários não bastassem, o dito workshop. Wim Hof é alguém que sigo e acompanho há algum tempo, não tão de perto como a outras personalidades. E essa perspetiva mudou nesta manhã que se avizinhava cheia de surpresas magníficas.
· MWH: As práticas
· A lição
MWH
Esta sigla remete para o Método Wim Hof. É a maneira curta de designar aquilo que são as práticas desenvolvidas pelo próprio. Para vos dar um pouco de contexto, Wim Hof é oriundo dos Países Baixos. Tem neste momento 62 anos e seis filhos. Viúvo. E foi precisamente desse acontecimento que surgiu tudo o que irei contar daqui em diante. A mulher de Wim era medicamente acompanhada devido a alguns problemas de saúde do foro mental. Um dia, a sua mulher suicidou-se. Após esse momento, o único local onde ele conseguiu voltar a sentir paz foi dentro de água fria. Porque aí os pensamentos paravam e conseguia estar presente naquele momento.
Desde aí, as suas práticas e métodos têm sido desenvolvidas, seguidas, praticadas, estudadas e analisadas ao redor do mundo, por um enorme número de pessoas. Ao entender o poder do frio, Wim começou a partilhar a sua experiência. Começando por bater vários recordes do Guiness relacionados com o frio (como mais tempo em contacto direto com gelo, correr uma meia maratona no Ártico e a maior distância a nadar em água gelada, para dar alguns exemplos), a sua exposição aumentou e uma legião de seguidores começou a formar-se. Ao invés de se deixar levar pela fama, Hof, na sua simplicidade, aclamava veemente que ele não tinha nada especial e que qualquer um consegue fazer exatamente o que ele faz. A ciência começou a ficar interessada, criando-se vários grupos de estudo e hoje em dia este método é corroborado, pela ciência, a nível de resultados comprovados em especial na diminuição de inflamações.
As práticas deste método assentam em três pilares: Compromisso, Respiração e Exposição ao Frio.
Compromisso — Este é um pouco autoexplicativo. Tem, claro, que ver com o facto de este método não funcionar com apenas uma ou duas práticas. Requer treino para se conseguirem atingir os resultados possibilitados. Os resultados são diferentes de pessoa para pessoa (alguns são comuns e transversais, outros são próprios). O que significa que, ao praticar este método, podemos retirar diferentes tipos de benefícios, que nos podem ser favoráveis. Sobretudo a nível do nosso sistema interno. Um dos mantras que o workshop onde estive me transmitiu é que, através da prática deste método, podemos tornar-nos pessoas mais fortes, mais saudáveis e mais felizes (deixo a nota de que este método não é magia nenhuma. A sua prática dá trabalho, causa desconforto e implica desafios. E mais, não é a prática exclusiva do método Wim Hof que vos vai deixar mais fortes, saudáveis e felizes. Esta prática é sim um excelente ponto de partida para isso ou, para quem já se sente forte, saudável e feliz, exponenciar brutalmente esses fatores).
Respiração — Acima de tudo, este método tem a ver com mente sobre o corpo. Agora, de notar que não é mente sobre o corpo no sentido a que estamos habituados de ser a nossa mente que manda. Não. Tem a ver sim com consciência. Com o tomar o controlo do nosso sistema, através da nossa mente consciente. Deste modo, este processo de respiração, que contempla protocolos diferentes para a obtenção de resultados e propósitos diferentes, começa com um aspeto importante: segurança. O primeiro ponto. Onde podemos e devemos praticar o método e onde não devemos, de modo algum, fazê-lo. Depois de estabelecidas as condições de segurança propícias, podemos avançar com a respiração. Claro que, no workshop onde estive, com supervisão, em ambiente controlado, estava mais que em segurança. Aqui partimos para o exercício da respiração em si. De forma breve, o exercício respiratório que executei foi algo básico dentro deste método, cujo intuito foi saturar o corpo com oxigénio, usando para isso inspirações mais longas e expirações mais curtas. Sentem-se alguns efeitos, sensações e experiências a nível físico, mental e espiritual, um pouco como se fosse uma droga induzida naturalmente, numa comparação banal.
Exposição ao frio — O terceiro pilar. Para que seja executado da forma mais consciente possível, esta fase começa antes e termina depois da sua prática efetiva. Comparando com o exercício (aqui sim, é uma comparação diretamente ligada), onde temos aquecimento, treino e alongamento, aqui é semelhante. Temos alongamento, exposição e reaquecimento. Ou seja, antes da exposição ao frio (e depende, claro, do tipo de exposição) temos uma prática de aquecimento, para remetermos a circulação sanguínea para os maiores músculos do corpo, nas pernas, com movimentação dos braços simultânea. Após isso, e dando o exemplo do workshop, fomos apresentados à imersão numa banheira de gelo, a 2 ºC, durante 2 minutos. Como é causado um choque térmico tão grande, após sair da banheira de gelo, temos de voltar a aquecer o corpo, de forma a que a circulação sanguínea seja regulada normalmente. Claro que, se a exposição ao frio for, por exemplo, um duche frio, a preparação pré e pós duche não necessita de ser algo tão focado e diligente, pois o choque térmico é inferior e a regulação corporal é normalizada naturalmente.
A lição
Esta foi mais uma experiência para adicionar ao meu currículo de vida. Uma ideia que sigo há algum tempo, proveniente do Jesse Itzler, é que nós devemos criar um currículo de vida. Um currículo de experiências, de práticas, de acontecimentos únicos que merecemos ter o prazer de viver e que nos potenciam e acrescentam. Já estive em dois continentes do mundo, visitei 6 países (já repeti alguns) e inúmeras cidades. Já parti uma tábua de madeira com as mãos. Visitei locais históricos. Inúmeras experiências culinárias e de lazer em que tive o privilégio de trabalhar diretamente com pessoas de origens tão diferentes. Estar em eventos e conhecer pessoas provenientes de faixas sociais tão distintas. Todas e cada uma dessas pessoas com histórias tão ricas e com tantas lições para me ensinar, experiências e memórias para partilhar. E este workshop foi uma fabulosa adição ao meu currículo, quer pelas pessoas que conheci e por aquilo que partilhei com elas, quer pela experiência em si de entrar numa banheira de gelo.
A maior lição que trouxe daqui foi realmente o nosso poder próprio enquanto ser humano. Não só isso, até mais o facto de termos dentro um poder inimaginável e que a nossa verdadeira habilidade é a capacidade de tomar controlo sobre o uso desse poder. Saber aquilo que conseguimos e somos capazes e gerir aquilo que são os nossos recursos internos e aproveitá-los da melhor forma perante os acontecimentos a que somos expostos. Em resumo, aquilo que trouxe foi mesmo o poder de controlar o nosso poder interno.
Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu superpoder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.
Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.