Filosofia

Daniel Covas
9 min readDec 14, 2022

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Escolho hoje este tema para fechar um ciclo. Um ciclo de 90 dias que foram uma grande aventura, sobretudo de descoberta e aprendizagem. De abraçar o novo em troca do velho. Decisões. Disciplina. Determinação. Força de vontade. Ação. Performance. Descanso. Lazer. Relações. Compras. Investimentos. Estudos. Tanta coisa. Assim como assim, passaram já 105 dias desde o início do ano. Isso significa perto de 29% ou aproximadamente um terço. É uma boa dose de tempo que passou por nós já neste 2022. Não é altura de olhar para trás e ficar a pensar no que podíamos ter feito. É hora de olhar em frente e fazer realmente isso. O meu objetivo ao falar desta temática hoje é, entre outras coisas, esse mesmo. Porque os meus últimos 90 dias, para quem acompanhou no Instagram, podem ter parecido relativamente normais. Para aquilo que eu sou. Para a imagem que criei. Levantar cedo, deitar tarde, dar o litro, meter o esforço extra e fazer o que tem de ser feito. Na sombra. Porque o dia de brilhar chega sempre para quem faz o que tem a fazer quando ninguém está a ver.

· A origem da filosofia

· Onde entra a filosofia na vida?

Origem da Filosofia

Relativamente à etimologia desta palavra, ela deriva de uma composição de duas: philos e sophia. Ambas gregas, a primeira é uma palavra que deriva do significado de amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais. A segunda significa sabedoria. O que faz com que filosofia signifique amizade pela sabedoria; amor e respeito pelo saber. Mais uma vez, fugindo ao aborrecimento da lição histórica e focando naquilo que pretendo defender ao longo das palavras que se avizinham daqui em diante, vou começar pela conotação e significado que atribuímos a esta palavra e ao que ela representa.

Existe uma conceção social, relativa à imagem da filosofia e dos filósofos, normalmente representados como grandes oradores em frente a uma multidão, a difundirem a sua sabedoria. Isto criou, ao longo dos tempos, a imagem que a filosofia é uma discussão de ideias e um campo puramente mental, onde se encaixam todos os assuntos intangíveis que continuam presentes nos dias de hoje (moralidade, fragilidade da vida, realidade, entre outros). No entanto, apesar de para alguns filósofos talvez até seja este o seu ideal, para a maioria não funcionaria bem assim. A filosofia é uma das mais antigas ciências que existe e, colocando-a precisamente dentro do campo científico, existe uma grande necessidade da sua presença, hoje em dia (provavelmente mais até) tal como desde que surgiu, na Antiga Grécia, no século V a.C.

Desde os mais famosos, como Sócrates ou Pitágoras (este que defendia ser um perseguidor de sabedoria e não um amante dela, o que vai fortalecer os meus argumentos, mais à frente) até ao presente, vários filósofos se foram estabelecendo, com as suas doutrinas próprias, focadas e encaminhadas para um assunto específico. Normalmente tidas como formas de encarar a vida perante um determinado “prisma de visão”.

A Filosofia, a vida, os tempos antigos e os tempos modernos

Olhar para correntes de pensamento de há centenas e até milhares de anos atrás e achar que se podem aplicar nos dias que correm pode parecer um pouco redundante e absurdo. O mundo é diferente, as necessidades são diferentes, a sociedade é diferente. Praticamente tudo é diferente. Exceto as pessoas. As pessoas, mais precisamente os seus comportamentos, continuam semelhantes. A forma de agir, perante uma situação, apesar de ser adaptada com o tempo, continua a basear-se nas mesmas linhas de pensar que os filósofos da Grécia Antiga estudaram. O bem e o mal, que formam a moralidade. O bonito e o feio, que formam a estética. Verdades universais, Deus, direitos, que formam a ética. Tudo isto era estudado há dois mil anos por todos aqueles que na altura arrancaram com o movimento filosófico.

E continua, hoje em dia, a ser tema de discussão. Porque quando o mundo material deixa de nos ser suficiente e se torna ordinário, vamos começar a discutir precisamente todas estas questões intangíveis e que parecem definir a nossa vida sem nós nos darmos conta. Aparentemente, olhamos para estas mesmas questões em último, depois de passar por todas as outras coisas banais primeiro. Que raio, então o que rege a nossa vida é o nosso foco por último e aquilo que mais fácil é de obter e perder ciclicamente é a nossa prioridade? Bem, aparentemente a filosofia é mais necessária do que parece. Porque aprender a amar a sabedoria é aprender a pensar livremente em expansão e a abraçar tudo o que a Natureza e o mundo têm para nos oferecer.

Já sei, tudo muito bonito. E se é tão bonito, porque não o fazemos? Bem, acredito que há uma multitude de razões e argumentos que respondem a esta questão. Não há incentivo. É uma jornada de entrega longa, sem promessas de nada. É um caminho onde o apoio pode ser escasso. Já referi que não há muitos incentivos? E que, quando existem, há também uma onda gigante de opiniões superficiais a lembrar-nos que a segurança de onde estamos é melhor que a insegurança e incerteza do que podemos obter no desconhecido? O que é interessante é que a filosofia parece ter sido criada por crianças. Porque uma das bases da sabedoria é questionar. O que é segurança? O que é o conhecido? O que nos dá ele? O que é o desconhecido? O que nos dá esse? É maravilhoso que, a cada afirmação que fazemos, quantos mais termos usarmos, que representem algo na nossa vida, mais questões vamos fazer surgir. E questões são sempre algo interessante. Porque questões levam a respostas. Respostas levam a conclusões. E conclusões originam práticas que por sua vez dão lugar a resultados. O que são respostas? Tudo aquilo que nos der uma proposta que resolva uma pergunta. O que são conclusões? São respostas em que nós acreditamos. Práticas? São ações que decidimos tomar, baseadas em conclusões. Resultados? É aquilo que obtemos na prática, como fruto das nossas ações reais.

A filosofia é simples, se assim decidirmos que seja. No entanto, aquilo que mais quero que compreendam é que a filosofia não foi feita para ser uma teoria ou uma discussão sobre quem tem as melhores ideias, sobre o que é certo ou errado ou o que é bom ou mau (porque isso são questões nas quais a filosofia discorda. O bom e mau, certo e errado variam consoante a pessoa, os seus valores, as suas crenças, as suas ações e a situação apresentada). Essencialmente, a filosofia não foi desenhada para apenas ser estudada nos livros e discutida em auditórios. Os verdadeiros filósofos são aqueles que diariamente vivem segundo a filosofia que defendem porque nenhuma teoria sobrevive ao teste do campo de batalha. A verdadeira filosofia, a verdadeira busca pelo conhecimento, o puro amor da sabedoria está em, diariamente, a cada momento, fazermos corresponder as nossas palavras teóricas às nossas ações práticas. E isto sim, é pouco fácil e extremamente simples assim.

Porque dos tempos antigos aos tempos modernos, o que mudou? A maneira como fazemos comércio. A maneira como nos deslocamos. A maneira como negociamos e resolvemos conflitos. A maneira como falamos e comunicamos. Mudou tanta coisa. E nós, enquanto pessoas, será que mudámos assim tanto? Talvez. Entre muitos, continuam a distinguir-se poucos. Os comportamentos em massa continuam a ditar o socialmente certo e o socialmente errado. As atitudes irreverentes continuam a ser desencorajadas. A mudança continua a assustar. Evoluímos tanto e ficámos tão orgulhosos disso, que se surge a hipótese de evoluirmos mais, descartamo-la. E a resposta a este porquê nem me interessa, porque não faz parte de mim rejeitar uma hipótese remota que diga que existem 10% de chance de evolução e 90% de hipótese de falha. Tentar ganhar vai ser sempre melhor do que perder na certa, seja qual for o oponente. Portanto, a diferença entre os tempos antigos e os tempos modernos, na realidade, é exatamente o que nos envolve e a forma como lidamos com isso. Porque nós, humanos, estamos proporcionalmente semelhantes. Há quem goste de dizer que a história se repete. Eu acredito que são os nossos comportamentos repetidos que fazem com que a história se recheie de acontecimentos semelhantes. Quer evolutivos, quer destrutivos.

Photo by Mike Gorrell on Unsplash

Não entrando aqui numa barragem de aspetos sociais e cingindo-me sim à questão da filosofia, tenho vindo a estudar, ao longo dos últimos 30 dias, uma corrente altamente interessante e que é bastante conhecida, dinamizada por personalidades como Marco Aurélio, o imperador romano e Séneca: Estoicismo.

Da forma mais sucinta possível, o Estoicismo é uma corrente que proclama a constante evolução do ser humano, através de quatro virtudes: sabedoria, justiça, verdade e autodisciplina. Através destas virtudes, é possível todos os dias procurarmos aquilo que é o nosso melhor eu ou a nossa melhor versão. E isso leva-nos ao objetivo máximo do Estoicismo, que é a eudaimonia: viver em harmonia com o nosso Eu superior. Ao descobrir cada vez mais e ler cada vez mais sobre esta corrente filosófica, compreendi o quanto ela se continua a enquadrar hoje em dia. O quanto cada metodologia, cada história ainda hoje faz tanto sentido de usar. A cada peça de informação, percebi que estes filósofos não se importam muito com o quão bem os seus discípulos sabiam os nomes das virtudes, quantas eram, ou o que fosse. A verdadeira preocupação estava em praticar e viver segundo aquilo que defendiam. Ser um guerreiro-filósofo, como defendia Marco Aurélio.

Para terminar, quero mesmo deixar aqui que esta publicação, à medida que a escrevo percebo também o quanto a minha opinião relativamente à filosofia estava errada. E como a minha disponibilidade para expandir a mente e estar aberto a novas perspetivas me permitiu olhar com uma visão diferente para um novo assunto. Isto porque, com nova informação vem nova decisão. Aquilo que espero que retirem daqui, desta publicação, destas palavras, desta mensagem, mais do que uma ode à filosofia, de forma bem resumida, é um convite a explorarem um pouco a corrente estoica de pensamento e vivência (ou qualquer outra que vos faça sentido) e que realmente estejam abertos ao facto de que nenhum de nós é um supra sumo em qualquer assunto que não tenha sido criado por nós (e até aí podemos ser ultrapassados).

Estarmos abertos e dispostos a que todos aqueles que cruzam o nosso caminho têm algo a nos ensinar e algo a levar de nós. A lei de dar e receber aplica-se grandemente às interações humanas. Não sermos “quadrados” relativamente a temas que não são factuais é o que nos propele a novos níveis, novos horizontes e novos círculos na vida. E isso, consequentemente, traz-nos mais e melhores pessoas e mais e melhor informação. Para crescermos e evoluirmos diariamente, temos de aprender diariamente. E aprender muitas vezes pode requerer mudanças de opinião, de perspetiva e aceitação de coisas para lá do nosso entendimento atual. Cresçam, sem medo. Aprendam, com vontade. Entreguem-se, com inocência. Vivam, com paixão!

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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