Exigência & Insatisfação
O equilíbrio entre produção, celebração e sucesso
É inerente ao ser humano o desejo de mais. Ser mais. Fazer mais. Ter mais. Nesta equação simples, ao mantermos a ordem, tudo se revela de forma simples: Ser > Fazer > Ter. No entanto, pelo meio do processo, esquecemo-nos de Ser. Entramos em piloto automático e ficamos presos no loop interminável de fazer mais para ter mais. Caímos assim na conhecida frustração e insatisfação da exigência, sem entender bem porque não sabemos lidar com isso. Eu acredito que é pela razão que descrevi acima. Porque, algures no meio do caminho, nos esquecemos de ser.
- A necessidade de ser melhor e ter mais sucesso
- Aumentar o nível de exigência -> Aumenta proporcionalmente o nível de empatia, compaixão e perdão para contigo
Melhorar e suceder
Como dizia acima, desejar mais é algo que vem connosco, de origem. Todos nós queremos mais. Mais de qualquer coisa, pelo menos daquilo que descobrimos e acreditamos serem os nossos interesses. Claro que há pontos em comum: querer mais dinheiro, querer mais sucesso, querer mais estabilidade, querer mais reconhecimento…
Na realidade, estes termos que queremos mais, acabam por ser vagos. Não vou entrar na linha de definir objetivos concretos e explícitos, porque não é esse o ponto de hoje. Querer mais dinheiro, mais sucesso, é tudo relativo. Porque perante a nossa perceção, a quantidade de dinheiro e o próprio significado de sucesso são variáveis que diferem de pessoa para pessoa. Algo que se instala desde novos em nós, é o querer ser melhor. Que é bastante positivo. À medida que crescemos, mantemos isso presente e estamos sempre à procura do conhecimento e da prática para que possamos ter mais. O objetivo aparente é sempre esse. Ter mais. Ter é o ponto mais superficial da vida. Todos nós podemos ter qualquer coisa. De forma a termos mais, precisamos fazer mais. Para fazer mais, precisamos ser mais. O absorver de conhecimento, o processo de aprendizagem, é através disso que nos tornamos mais. Para assim, conseguirmos fazer mais (seja esse mais refletido em quantidade, qualidade, eficácia ou eficiência). O que fazemos, também nos alimenta a que sejamos mais. Para que depois, e só depois, possamos ter. Não é o objetivo final. É só um pequeno passo. O culminar, certamente. A recompensa, até. Agora ter só nos fascina num breve momento. Não é ter que nos importa. É sim o facto de conseguirmos ter que nos desperta. É saber que trabalhámos para aquilo. Que finalmente, é possível. Não é o ter. É o orgulho naquilo que nos tornamos e naquilo que fizemos para alcançar o que desejamos que realmente importa.
Agora vem a outra parte. Apesar de estarmos, de forma natural, predispostos à evolução, estamos por uma questão ultima de necessidade de adaptação. Porque os mecanismos primários que nos governam, primam pela segurança e sobrevivência. Essa batalha interna, é a que efetivamente gera a nossa evolução, o nosso progresso individual e coletivo. Por esses fatores, precisamos exigir de nós o esforço, a determinação, a disciplina, a vontade, a resiliência e a energia de forma a entrarmos no processo de Ser, Fazer e Ter mais. Porque é através desse caminho que efetivamente conseguimos obter algum nível de sucesso, o que quer que seja que isso signifique para cada um de nós. A grande maioria de nós é até surpreendentemente excecional a desenvolver esta exigência, seja quando precisamos de treinar mais, de trabalhar mais, o que seja. No entanto, isso implica um certo nível de rigor, a nível de gestão de tempo e de vida. Porque quando entramos num caminho de melhoramento, precisamos fazer alguns sacrifícios iniciais. No entanto, quando esses sacrifícios não são tão claros ou não estão tão alinhados com aquilo que realmente queremos, chega a insatisfação. Porque parece que estamos a exigir de nós algo que não é justo para nós próprios, porque estamos a perder outras coisas muito importantes. Que paradoxo, eu sei! O ser humano é realmente uma criatura complexa e complicada, especialmente a criar estes puzzles mentais.
Aumentar a exigência = Aumentar a empatia, a compaixão e o perdão
No entanto, essa complexidade e complicação é desnecessária. Só vem contribuir para o “nevoeiro mental” que nos impede de trazer clareza à nossa vida. É verdade que, sermos exigentes connosco muitas vezes nos traz insatisfação. Isso não é necessariamente mau. É provavelmente um sinal que precisamos reajustar algo. Fazer algo de forma diferente. Mau é continuarmos a repetir o mesmo padrão de pensamentos, comportamentos e ações e esperar que fique tudo bem. Nas palavras de Albert Einstein, isso é definição de insanidade.
Portanto, quando exigimos mais de nós no trabalho, por exemplo, porque temos um objetivo financeiro a alcançar, é importante olharmos de antemão e perceber que tipo de coisas temos de sacrificar. Depois, entender o quanto esses aspetos que temos de sacrificar são ou não importantes para nós. Qual a nossa capacidade de lidar com esse desconforto, de sacrificar esses aspetos. Sejam horas de sono, jantares fora, compras, viagens ocasionais ou outros. Uma vez que compreendemos isso, estamos prontos para colocar a exigência em ação. Agora, no que se vai traduzir essa exigência? Mais horas de produção, de trabalho? Mais eficácia, mais rigor? A construção de uma nova fonte de rendimento em tempo próprio?
Quando estabelecemos de forma clara e intencional o que queremos que seja o nosso nível de exigência e quais os sacrifícios que temos de tomar, há uma coisa importante a ter em conta logo de seguida: o ambiente. Quem temos à nossa volta que nos pode apoiar, ajudar, incentivar, com quem possamos falar para nos facilitar o processo de adaptação à nova realidade que queremos criar.
Por fim e não menos importante, ao exigirmos mais de nós, temos de aumentar também a empatia que temos connosco. A compaixão que demonstramos para nós próprios. E o perdão que nos permititmos oferecer quando as coisas não correrem como queriamos. Vai sempre existir um caminho. Se formos nós a traçá-lo, é mais bonito, porque é próprio. Isso começa quando decidimos exigir mais de nós. Agora, para nos mantermos no caminho, temos de aceitar que vamos falhar, em alguns dias, com algumas coisas. Se as coisas à nossa volta nos derrotam, nós vamos querer potenciar-nos para nos colocarmos de volta na jornada, não vamos contribuir para a derrota também. O típico comportamento que vemos muito quando falhamos é: ”Caramba, não faço nada de jeito. Já sabia que ia falhar…”
Porque raio começaste então, se sabias que ias falhar? Para exigires mais de ti, tens de acreditar, não necessariamente no que vais fazer, e no mínimo na tua capacidade de superar o que quer que seja que vai surgir. Por isso é tão importante sermos empáticos connosco. Compassivos connosco. Perdoar-nos quando falhamos. Porque se estivermos em paz connosco, conseguimos analisar a situação de forma mais rápida. Aprender com ela. Entender a falha, para que não se repita. E seguir. Tão importante como é isso, é também celebrar quando fazemos as coisas bem. Comportamento recompensado é repetido. Quando celebramos as nossas vitórias, estamos a dizer ao nosso sistema que é aquilo que queremos. O que nos dá aquele tipo de resultado é o que queremos ter como norma.
Isto resume o que dizia no parágrafo inicial. Queremos tanto ter mais, que só queremos fazer mais para ter mais. Esquecemo-nos de ser. De que somos humanos e acertamos. Nesses momentos, devemos estar lá para celebrar. Para nos recompensarmos pelo que fizemos bem. Somos humanos e erramos. Nesses momentos, devemos estar lá para nós, para nos restabelecermos. Para assumirmos o que fizemos e aprender com isso. Tirar o devido tempo para fortalecer o nosso Ser, nas vitórias e nas derrotas, é o que nos permite, mais do que tudo, ter a consciência de que estamos a crescer como pessoas. A aproveitar a jornada da vida, a evoluir, a crescer e a progredir.
No fundo, tudo se resume a dois aspetos: consciência e equilíbrio. É engraçado que, quando estamos tão focados em algo, vemos isso em tudo. Nesta fase da minha vida, estou deliberamente a trabalhar a minha consciência e o meu equilíbrio. Então, vão ver muitas referências a isso nas publicações futuras.
Como ia dizer, tudo se resume a estes dois fatores:
- Consciência, no sentido de sermos sábios sobre o que estamos a exigir de nós, compreender o que queremos a cada momento e gerir isso da melhor forma que sabemos, com o conhecimento e as ferramentas que temos.
- Equilíbrio, entre a realidade das nossas capacidades e o desejo de sonhar alto, para medirmos a dose de exigência que devemos aplicar. E entre a insatisfação momentânea de um sacrifício e o mau-estar por não estarmos a respeitar o suficiente aquilo que é verdadeiramente importante para nós.
Volto a fazer referência à importância dos 3 aspetos (empatia, compaixão e perdão) que devemos trabalhar e fazer crescer lado a lado com a exigência que pedimos de nós próprios.
Sobre a importância de SER:
“Se tivesses tudo o que queres, e te tirassem tudo isso, o que que é que a tua vida valeria?”