Esvaziar
O poder da renovação
Escrevo aqui hoje para vocês a publicação nº 170. Pela primeira vez em muito tempo, esvaziei os rascunhos. Não há mais temas guardados nem à espera de serem partilhados (fora aqueles que, em algumas publicações, deixei a promessa de expandir em ocasiões futuras. Que provavelmente vou rever para publicar). Escrevo para os 49 subscritores dentro desta plataforma. Para os 1311 seguidores do Instagram. Para aqueles que vierem dos grupos de Telegram ou Whatsapp. Com o mesmo empenho, a mesma vontade, o mesmo desejo de inspirar de sempre. Com o passar dos anos, se há algo que tenho privilégio de dizer que compreendi desde cedo é o poder do jogo longo. De reconhecer o tempo, lidar com ele e cultivar a paciência. Ainda que me tenha afastado muito nos últimos dois anos de uma presença digital ativa, não me desliguei do que este mundo me dá e me permite fazer. Trabalhei esses aspetos que enumerei. A ponderação. A consideração. A comunicação. Desfiz-me de muita coisa e angariei e integrei tantas outras. Acredito muito que menos é mais. Provavelmente, foi por essa premissa que esta reflexão surgiu hoje, com este título.
O poder de deitar fora
Temos uma maravilhosa habilidade, todos nós, em complicar a vida para lá do que ela é. Normalmente, fazemo-lo adicionando níveis de complexidade, quer para nos reconhecer como mais inteligentes (apesar de, claramente, estarmos a fazer o contrário, lá no fundo) quer para fazer parecer complicado e decidir que não estamos equipados com as ferramentas necessárias para ultrapassar a situação que temos em mãos. Costumo eu dizer às pessoas que trabalham comigo que têm de desligar o “complexicómetro” (um termo que inventei, para resumir a dificuldade e complexidade que tendemos a adicionar à vida) e ver as coisas tal como elas são, da maneira que elas são, com a perspetiva de quem são no determinado momento em que as enfrentam.
O que tem isto a ver com deitar fora? Bem, tudo. Porque essas dificuldades e complexidades que criamos e introduzimos, muitas vezes, na grande maioria, não passam precisamente de suposições, mentalmente imaginadas. Nada mais. Coisas que precisamos deitar fora. Sim, para vocês que estão a ler isto e já são recorrentes, sabem que é aquele sistema mental primordial, a querer garantir a nossa segurança e sobrevivência que cria esses aspetos, que acabamos por considerar. É certo que têm o seu papel. E mantendo a consciência da sua possibilidade, podemos manter-nos focados no resultado que desejamos. Já que o acontecimento materializado (ou não) de tal aspeto que foi imaginado está, muito provavelmente, para além do nosso controlo. Daí ser importante deitar essas coisas fora. E quem nos dera que fosse tão fácil como levantar a tampa e deitar no caixote.
A simplicidade difícil — O conceito a abraçar
Queremos que a vida seja, ou complexa e difícil, ou simples e fácil. E agrupamos mentalmente estes conceitos, forçando-os a andar de mão dada. De tal forma que, quando algo se nos apresenta simples, mas que sentimos ser difícil, rejeitamo-lo. Por outro lado, quando vemos algo complexo e sentimos ser fácil, acreditamos que tem de existir um senão escondido algures (que eventualmente encontramos, justificamos ou criamos mentalmente) e desistimos de seguir esse caminho. Somos nós, os nossos maiores adversários, quando devíamos ser os nossos maiores apoiantes. Trocamos isto tudo e acabamos a procurar o suporte que necessitamos fora de nós e a criticar-nos internamente. E mesmo neste registo, conseguimos focar-nos mais numa crítica solitária que vem de fora do que na corrente de apoio que aqueles que nos amam nos entregam.
Tudo o que somos, tudo o que fazemos, começa e acaba em nós. O foco na crítica externa é maior do que no apoio externo, porque internamente nos alimentamos de forma crítica e não de forma sustentável e encorajadora.
A melhor coisa que te posso dizer é que, para resumir a questão do deitar fora, da simplicidade, dificuldade e complexidade é o seguinte:
- Procura a coisa simples mais difícil de fazer para ti, neste momento
Não precisa de ser uma ação tangível (apesar de isso ser o mais útil, porque provavelmente vai dar-te um resultado palpável). Talvez a coisa simples mais difícil para ti, agora mesmo, seja aceitar o teu estado atual. Talvez seja começares a exercitar-te. Talvez seja optares por uma melhor higiene de sono. Talvez seja fazer melhor escolhas alimentares. Talvez seja arriscares uma mudança a nível profissional. Talvez seja repensar as tuas companhias e/ou os ambientes que frequentas a nível social. Talvez seja simplesmente parar e decidir olhar de forma diferente para a tua vida. não sei, pois isso só tu saberás.
O que posso acrescentar é que o simples, seja fácil ou difícil, vai ser, por norma, melhor e mais recompensador que o complexo. Especialmente para nos habituarmos a um estado de stress confortável de lidar. Porque algo complexo, ainda que fácil, esgota o nosso “tanque de energia”. Algo simples, que é difícil, permite que treinemos a nossa resiliência, disciplina e outras qualidades semelhantes.
Há lugar a fazer o complexo também. Esse lugar, é depois de dominar um pouco do simples. Deixo um exemplo fácil de entender:
Vamos supor que a coisa simples mais difícil que tens neste momento é começar a exercitar-te. No entanto, já tens um passado de treino e pela razão que tenha sido, paraste. Mentalmente, existe um standard, um padrão mínimo. Só que esse padrão corresponde a uma realidade que já não é a presente. Mais do que isso, existem opiniões alheias, de pessoas que admiras ou acompanhas nas redes sociais que te podem fazer acreditar o que deve ou não ser o mínimo.
Lembraste, lá em cima, quando te disse que tudo começa e acaba em nós? Integrar para nós, internamente, o padrão externo, de alguém diferente de nós, não vai ajudar. Usar como inspiração, sim. Usar como objetivo ou visão, sim. Tornar nosso o que não é nosso, não.
Portanto, a decisão simples e difícil que há a tomar, na realidade, não é sobre exercício. É sobre aceitar que, para começar a atividade física novamente, há que voltar a um padrão que, mentalmente, está abaixo da norma que seria de esperar. Isto porque a realidade, as circunstâncias, o contexto, o estado atual, tudo está diferente. Isso faz com que haja necessidade de mudar os padrões, começar mais pequeno, ter mais paciência, permitir o progresso à medida que ele aparecer, sem o forçar. Usar o tempo a favor e não contra.
Este é apenas um exemplo. A coisa simples mais difícil para ti, neste momento, é uma decisão ou ação que está escondida atrás de algo que sabes ser verdadeiramente importante para ti. Ou não. Tu saberás, lá no fundo. Eu cumpri com a minha missão: despertar a tua consciência, ativar a tua atenção e estimular o teu pensamento crítico. A partir daqui, é contigo. Ou connosco, se decidires que te posso auxiliar no teu processo.
Termino como comecei. Aliás, de forma a complementar aquilo que referi na introdução. É nos momentos de maior desafio que surge a maior clareza: o que queremos. O que não queremos. O que pretendemos fazer mais e o que pretendemos fazer menos. Aquilo pelo que decidimos lutar e aquilo que decidimos abdicar. Acredito que o mundo é dos dadores. Daqueles que entregam valor de todas as formas. Que praticam e alimentam o empoderamento social. Não importa quantos me sigam no Instagram. Não importa quantos grupo haja no Whatsapp, quantas pessoas cliquem no link no Telegram, quantas pessoas partilhem ou quantos subscritores eu tenho aqui na plataforma. A entrega vai continuar. O nível vai aumentar. A claridade vai refletir-se. Obrigado a ti, que estás desse lado e lês estas palavras. É para ti que escrevo. É para ti que faço o que faço. És único e quero que saibas disso. Acima de tudo, espero não ter sido a única pessoa a elogiar-te hoje e se fui, sabe que não estás sozinho. Amanhã é um novo dia para conquistares qualquer coisa.