Escuta-te

O que fazes quando não sabes o que fazer?

Daniel Covas
8 min readMar 28, 2024

É quinta-feira, dia 28 de março. São 09:15. É mais um dia da semana. Para mim e para quem me acompanha por aqui, é dia de publicação. Dia de leitura, pois na teoria a minha escrita é preparada de antemão. Hoje, não é esse o caso. O início desta semana desafiou-me, uma vez que me propus a uma hercúlea tarefa de colocar em dia a visualização de um curso que tinha em atraso. Ontem, comecei realmente a tentar escrever algumas palavras. Não neste tema, noutro. Nada fluía. Questionei a minha musa de inspiração e a resposta dela foi precisamente: “Escuta-te”. Diria que ela tem toda a razão. Estava a tentar escrever por escrever, por refletir sobre algum tema. Quando na realidade, talvez tivesse apenas de me escutar um pouco. Mais do que reflexão, a publicação de hoje vai ser uma história, uma partilha.

Antes disto

É interessante e ao mesmo tempo curioso, quando olhamos para trás nas nossas vidas e, mais do que recordar aquilo que fizemos ou deixámos de fazer, compreender as aprendizagens e lições que a vida nos foi entregando, sem termos pedido ou sequer imaginado. Esta foto que vês acima, foi tirada este fim de semana. A pessoa na foto, sou eu. 27 anos desta vida. Uma cara diferente daquela com que nasci. Uma expressão diferente daquela que costumava ser a minha característica. Uma forma de olhar para o que acontece à minha volta que está em constante mudança.

Atrás do ser humano que observas, que dependendo da proximidade que temos ou da forma como me vês, podes ter uma determinada opinião sobre, (que é tua, não é aquilo que eu sou) está um jovem, uma criança que nunca imaginou que chegaria aqui. Quando na infância me perguntavam o que seria, imaginei-me sempre como um homem da ciência. Ao crescer, fruto do meu desempenho escolar acima da média, começaram a colocar-me na cabeça a ideia de que devia ser médico ou algo do género, coisa que nunca colou comigo. Para espanto de todos, escolhi no final do secundário ingressar no Exército. A partir daí, as coisas tomaram um rumo completamente inesperado, face até ao que eu imaginava nos meus sonhos mais loucos. A jornada em que embarquei, marcou-me para sempre quanto ao que eu achava ser ou não possível. Como pensador lógico toda uma vida, amante do que era exato e matemático, comecei a ter contacto com o mundo que existe para além daquilo que vemos, as tais coisas que parecem não ter explicação. Inevitavelmente, como a todos acontece, ao explorarmos a vertente social da nossa vida, começamos a descobrir as emoções, que são o primeiro vetor que foge à lógica e nos deixa perplexos desde cedo. Porém, aqui não falo propriamente de emoções. Falo de sensações, de sentimentos despertados por pensamentos gerados de forma intencional. Eu sei, está a ficar uma balbúrdia, isto. Resumir a nossa própria história em linhas e palavras, faz tal coisa acontecer.

Voltando à parte da vida social, enquanto petiz, com os meus 6 anos sensivelmente, comecei a perceber que a minha forma de lidar com as pessoas à minha volta era diferente dos demais. Fui levado ao psicólogo, que fez um trabalho bastante competente e me permitiu desenvolver melhor toda a questão de lidar com o próximo e de criar relações. Esse sempre foi o meu maior obstáculo e esse é um dos motivos que me leva a trabalhar com pessoas da forma que faço, para poder partilhar com elas este tipo de experiências e as lembrar de que, o que quer que tenha sido que tenham ultrapassado, não estão sozinhas, não são as únicas e mesmo dessa forma e com essas questões, podem e devem perseguir aquilo que mais as preenche e trabalhar rumo aos objetivos que mais ambicionam, de forma consciente e realista.

A mudança

Em 2017, fruto de uma desilusão que passei três anos antes, ao chumbar no concurso de acesso à Academia Militar, submeti-me a uma cirurgia ortognática (porque o meu maxilar inferior estava muito avançado em relação ao superior) que me deu, como costumo dizer, uma nova cara. Mais do que uma mudança, foi um processo de recuperação interessante, que me permitiu refletir e aceder a partes de mim que não conhecia tão bem ainda. Foi no final desse ano também que conheci um mundo que iria mudar a minha perspetiva de vida. Numa jornada que iniciei em dezembro de 2017 e que terminei em dezembro de 2021, conheci pessoas, vivi momentos e tive experiências que de outra forma não teriam sido possíveis ou, pelo menos, não teriam tido o significado que tiveram. Sou extremamente grato por esse meu percurso e cheguei a um momento, no caminho, que decidi que estava na altura de seguir outro percurso, por conflito de valores em geral.

A continuação

A vida acaba no final. Até lá, não há término. Para aprendizagem. Para evolução. Para execução diária. A minha vida teve uma grande transformação interna quando em 2022 me tornei oficialmente coach e senti dentro de mim a grande responsabilidade que carregava com isso. Para além de todas as críticas que existem dentro das indústrias por onde passei e onde permaneço, acima de tudo, sinto que isso me tornou mais forte e capaz de lidar com qualquer obstáculo que interpusesse o meu caminho, daí em diante. É isso que tenho feito, no fundo. Em episódios mais recentes, após uma história que eu diria digna de cinema, o amor trouxe-me a um novo local, que agora chamo de casa. O norte do país fascina-me desde pequeno, quando passava aqui férias com os meus pais. Agora, tenho o privilégio de, aos poucos, começar a chamar a esta zona de “casa”. Em termos pessoais, profissionais, financeiros e de relacionamento, é um total recomeço em todas as áreas da vida. Porém, acredito profundamente nas minhas capacidades, na minha ética de trabalho e em todas as horas que usei do meu tempo a ler, a aprender, a formar-me. Está na altura de colher novos frutos, que andei a plantar ao longo destes últimos anos.

Considerações finais

Talvez te pareça que esta publicação tenha sido sobre mim. Estás certo, foi. Mais do que sobre mim, foi sobre um pouco daquilo que me tornou no que sou hoje.

O Daniel de há uns anos atrás, estaria em pânico por ter uma publicação que devia estar pronta ontem e não estava sequer iniciada. O Daniel de hoje, acordou pacífico por ter dentro de si a paz, a harmonia e a certeza de que, acontecesse o que acontecesse, alguma coisa iria sair e ser publicada aqui, neste dia.

O meu convite, para hoje, para esta leitura, para ti, é que reflitas. Não na minha história, sim na tua. Acredito que nela tens superações, dores, angústias, medos, crenças, traumas e conquistas. Cada uma dessas coisas, são tesouros. Todas as nossas histórias têm isso, em doses diferentes de cada ingrediente, pois são as quantidades que criam a nossa unicidade. A pessoa que está deste lado hoje, a deixar-te estas palavras, começou a olhar para dentro há um tempo atrás, de forma a iniciar a escavação do meu ser e desvendar os tesouros que tinha/tenho escondidos dentro de mim. Não sei quais são os teus, os que tu tens. Acredito, porém, que são únicos e que seria uma pena este mundo não os conhecer. É fácil perdermo-nos na correria do dia-a-dia. Deixarmo-nos levar no piloto automático. Perder o hábito de refletir sobre quem somos. Deixar de pensar, de forma efetiva, na nossa história.

Deixo-te com algumas palavras que não são minhas e que costumo trazer à memória quando estou em momentos em que preciso de me relembrar do meu poder: de ser quem sou, porque sei que não existe ninguém igual!

Invencível

Nas noites que me encobrem,
Negras como um poço, de ponta a ponta,
Eu agradeço a um deus qualquer
Pela minha alma inconquistável.

Das garras impiedosas das circunstâncias
Não recuei nem chorei,
Sob os golpes do destino
Minha cabeça sangra, mas não se curva.

Além deste lugar de ódio e lágrimas
Há apenas o horror das sombras,
Entretanto a ameaça dos anos
Me encontra, e me encontrará, destemido.

Não importa quão estreito o caminho,
Quão cheia de punições a minha sina,
Eu sou o mestre do meu destino,
Eu sou o comandante da minha alma.

William Ernst Henley

O nosso maior medo não é sermos inadequados. O nosso maior medo é sermos poderosos para lá da medida. É a nossa luz, não a nossa escuridão que mais nos assuta. Nós perguntamo-nos: Quem sou eu para ser bilhante, belo, talentoso e fabuloso? Na verdade, quem és tu para não o ser? Tu és filho de Deus. Sentirmo-nos acanhados e insignifcantes não nos serve de nada. Não há nada de nobre em diminuirmo-nos e menosprezarmo-nos para as outras pessoas não se sentirem seguras à nossa volta. Nascemos para brilhar e manifestar a glória de Deus presente em nós. E ela não está apenas em alguns de nós, está em todos nós. E, ao deixarmos a nossa própria luz brilhar, iluminamos todos à nossa volta e damos permissão inconsciente às outras pessoas para fazer o mesmo. Quando nós nos libertamos dos nossos próprios medos, a nossa presença automaticamente liberta os outros.

Marianne Williamson

Este é o início de um novo dia. Este dia foi-me dado por Deus, para que Eu o utilize como quiser. Eu posso desperdiçá-lo ou usá-lo para fazer o bem. O que eu decidir fazer hoje é muito importante, pois estou a trocar um dia da minha vida por isso. Quando o amanhã chegar, este dia terá passado para sempre. Deixando qualquer coisa no seu lugar, pelo qual eu troquei o meu dia. Quero que seja uma mais valia, não uma perda, o bem, não o mal. Sucesso, e não um fracasso, de modo a que me lembre sempre do preço que paguei pelo meu dia.

Paul Bryant

Carrego estes três textos comigo, há 3 anos. Leio-os cada vez que me sinto a precisar de reforçar a resposta à pergunta “Porque faço o que faço?” ou simplesmente quando preciso de energia anímica e elevar o meu estado. Se te servirem, fica com eles. Usa-os, tantas vezes quanto te forem necessárias. Se não quiseres estes, encontra os que te fazem sentido. Talvez sejam até frases ou textos da tua própria autoria. A importância destas âncoras é grande, especialmente nos dias em que te perdes, sais de rumo, te questionas sobre o que andas a fazer com a tua vida. Porque quando paras para ler estas coisas, acabas, no final, a fazer aquilo que precisas de fazer: escutar-te.

Já te ouviste hoje?

--

--

Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

No responses yet