Escravidão Moderna
É pior estar enjaulado ou viver uma liberdade ilusória?
Para terminar a série deste belo mês de novembro e entrar em dezembro da melhor forma, terminamos com um tema que, não sendo tão simples como os anteriores, se liga a eles de forma muito fluida e concreta. Após dois aspetos simples e básicos que fazem todo o sentido no melhoramento e reforço do carácter, temos agora de refletir mais profundamente sobre a simples essência do ser na atualidade. Aquilo que nos fomos tornando enquanto sociedade evolutiva ao longo dos tempos começou a colocar-nos numa posição, devido ao nosso ego, de nos diferenciarmos e eventualmente, despertar a vontade e necessidade de executar uma hierarquia social, de nos superiorizarmos, uns face aos outros.
Escravidão
Um termo que hoje em dia parece fazer parte do passado. Ao mesmo tempo, está bastante presente, uma vez que como qualquer outra coisa, evolui. A escravidão hoje não é mais um par de correntes que nos prende contra a nossa vontade (apesar de isso ser ainda uma realidade em países pouco desenvolvidos e/ou com cenários de guerra).
As amarras que agora nos privam de chegar onde queremos são imaginárias. É por isso que se tornou mais difícil libertar delas. Somos controlados através de uma ilusão de liberdade que nos conforma e conforta à realidade que vivenciamos e experienciamos. Desta forma, é como se nos tivessem feito “gostar” de sermos escravos deste sistema em que nos inseriram. E como são tão bons a fazer o que fazem, até criaram uma nova alternativa de pensamento para começarmos a rebeliar-nos contra as pessoas que ganharam esta consciência, para serem julgados como extremistas. Enquanto conseguirem manter o confronto entre nós, vamos permanecer neste loop e estado mental de aprisionamento constante.
Modernização
Portugal, que é reconhecido como o primeiro país a ter abolido a escravatura como a conhecemos conotativamente e a nível de imagem, este é o conceito a que nos apegámos. Que abolimos uma atrocidade e não mais existe. Cerca de 120 depois disso, tivemos aquilo que conhecemos como uma das revoluções mais pacíficas do mundo, a nossa tão famosa “Revolução dos Cravos”, que nos libertou da ditadura. E o que era essa ditadura, senão a evolução da escravatura?
Como podemos simplesmente acreditar que deitamos algo para trás das costas e que nunca mais teremos de lidar novamente com isso? É como o gelado que comemos. Hoje não nos vai afetar. Acreditar e simplesmente conformar-nos com desculpas para o comer e lidar com as consequências do que nos acontece por consumir esse produto de forma constante, isso sim, é o que nos destrói. Porque nalguma altura, deixámos simplesmente de acreditar que existia um problema para ser resolvido e moldámos a realidade a esta nova forma de vida. Todos nós conhecemos ou já passámos por uma fase em que um gelado, comida ou qualquer outra coisa era o nosso escape da realidade.
A nossa mente, tão incrível como ela é, consegue transformar todas as experiências em algo que nos satisfaz, porque ela está desenhada para vencer. Até nestas atividades que arruinam a nossa saúde, ela consegue encontrar justificações plausíveis que nos fazem crer que estamos a seguir o caminho que mais nos conforta e favorece naquele momento.
Para mim, o maior escape da realidade era jogar consola. Sempre foi, até há alguns anos atrás. Era a forma de me convencer que me estava a “divertir” e a tirar tempo para mim. Estava a ser escravo de um dispositivo eletrónico, na realidade. Desde as revoluções, da ditadura, de todas as formas que existem para que um ser humano controle outro, só uma se tem perpetuado e evoluído de forma constante ao longo do tempo, mesmo por debaixo dos nossos narizes: o nosso ego. Ele é a verdadeira base por detrás da escravidão. O ego não é totalmente mau nem é totalmente bom, como qualquer outra coisa. Depende da forma como nós o utilizamos. Resume-se, maioritariamente, ou melhor dizendo, primariamente, à pergunta:
- Estou a dominar o ego ou a deixar que o ego me domine a mim?
Na realidade, a escravidão moderna a que estamos expostos é a mais antiga de sempre, que deixámos evoluir a um proporção que hoje em dia se tornou difícil de combater, para não dizer praticamente impossível de o fazer no âmbito social. A vontade que o ego deposita naturalmente em nós, enquanto indivíduos, de o satisfazermos, é normalmente muito superior ao esforço voluntário que colocamos em enfrentá-lo de forma sábia. Esta é a real escravidão moderna. Não é necessariamente a pressão social, nem o controlo que de alguma forma entidades patronais, entidades governamentais superiores aplicam, pela forma que mais lhes convier. Se isso é um tipo de esravidão? Certamente, e é um que não controlamos tanto.
Por outro lado, ser escravo do nosso ego, não só está muito mais sob o nosso controlo como é também um tipo de escravidão bem mais perigoso e prejudicial. Isto porque só depende, pura e simplesmente, de nós próprios. O ego escraviza-nos de tantas formas diferentes. Se não estivermos devidamente atentos e presentes, deixamos que isso nos fuja e inconscientemente, o ego toma facilmente conta de tudo em nós: cria os nossos pensamentos, que geram emoções fora do nosso leque de vontade e que por sua vez, se refletem em comportamentos que não executariamos no nosso estado consciente e de plenitude.
Tudo isto volta ao princípio básico: desenvolver o pensamento crítico e aumentar o estado e nível de consciência. Com este mantra em mente, podemos desenvolver a nossa melhor resposta aos estímulos externos, melhorar e reduzir o tempo da nossa natural fuga mental inconsciente de alimentação do ego e, passo a passo, libertar-nos das suas amarras, a caminho da liberdade individual verdadeira.
Já colocaste o teu ego em xeque hoje?