Disciplina 3.0
Existem duas outras publicações com o mesmo nome desta. Sendo um tema tão presente para mim, claro que já tinha de o ter abordado. É um dos meus pilares. No entanto, durante esta semana (hoje e sexta-feira) vou entrar muito mais profundamente nele e abordar aquilo que acredito serem as principais questões que o rodeiam. Vai ser a primeira publicação de uma nova geração renovada da jornada Beat the Mind. Desde já o meu obrigado por continuares, de alguma forma, a seguir, ler, apoiar, refletir e aprofundar através de tudo aquilo que tenho partilhado aqui, há quase um ano!
Nesta publicação, vou abordar:
· Definir o conceito de disciplina
· Importância da disciplina
· Para que serve a disciplina
· Como usar a disciplina? Quando? Onde? De que forma? Com que intensidade? Com que frequência?
O que é disciplina?
O conceito de disciplina é variável, como o de qualquer outro valor não palpável e intangível. Segundo o dicionário.priberam.org, disciplina é um conjunto de atividades ou ordens que regem certas coletividades; obediência a um conjunto de regras explícitas ou implícitas; Submissão e obediência à autoridade; Ação dirigente de um mestre; Área de conhecimento que é objeto de estudo ou de ensino escolar; Instrução, educação ou ensino.
Desta definição podemos compreender, em primeiro lugar, que disciplina é uma palavra associada ao cumprimento de regras, maioritariamente de forma rígida e restritiva. Por essa e outras razões, foi um termo introduzido no âmbito da educação também. Daqui, deriva precisamente a conotação que hoje em dia todos associamos a esta palavra. Ainda assim, ela vale muito mais do que tudo aquilo a que a associaram, simplesmente para afastarem as pessoas dela. Quer dizer, praticamente todos e cada um de nós já disse em alguma ocasião: “Mas é tão difícil ter disciplina…”
É neste tipo de frases e no tipo de pensamentos que são gerados daí, que reside o problema inicial. Não é como um botão. Ou se tem disciplina ou não se tem. Não tem nada a ver com isso. Nós não temos disciplina. Nós somos disciplinados. Não é algo que temos, é algo que somos. E somos todos disciplinados. Cada um naquilo que escolhe.
Afinal, para que serve a disciplina?
Esta é simples. No seguimento do raciocínio, todos somos disciplinados. Uns são disciplinados em acordar cedo, outros em acordar tarde. Uns são disciplinados em comer de forma saudável e consciente, outros são disciplinados em comer tudo o que bem lhes apetece. Uns são disciplinados em se focarem na tarefa que têm até estar concluída, outros são disciplinados em fazer tudo ao mesmo tempo sem terminar nada com grande qualidade. Uns são disciplinados em cumprirem os seus objetivos para ter uma vida de concretização, custe o que custar, outros são disciplinados em desfazer planos e estar em todas as festas, custe o que custar.
Acredito que perceberam onde quero chegar. Aqui não existe certo nem errado. As atividades em questão e que mencionei, não são o que fazem a nossa disciplina. A frequência com que as fazemos e o quanto essas atividades vão de encontro aos nossos objetivos é o que conta. Imaginem, uma pessoa que tem negócios durante a manhã, não tem como objetivo estar numa festa. Escolhe lá estar, como exceção, para uma celebração. Um DJ, tem todo o interesse em estar em todas as festas, porque é o que vai de encontro aos seus objetivos. E, excecionalmente, vai ter de se levantar cedo para algum tipo de reunião. Como vos disse, o problema não é a atividade, é o quanto ela está alinhada com o nosso caminho e a frequência com que a executamos. Disciplina é simplesmente a repetição de algo, para instaurar um hábito. A finalidade da disciplina é criar consistência em qualquer atividade da nossa vida. É para isso que ela serve.
Onde devemos usar a disciplina?
Em todo o lado. Devemos usar a nossa disciplina, em primeiro lugar, para nos tornarmos disciplinados a planear aquilo que temos de fazer. Se o fizermos, já estamos, indiretamente, a usar a nossa disciplina em tudo aquilo que fazemos. O nosso carácter desenvolve-se a partir de quem somos. E quem somos advém daquilo em que acreditamos. O que acreditamos é aquilo que nos guia diariamente a fazer aquilo que fazemos. E o resultado que geramos com as nossas ações é o que revela o nosso carácter. Se somos disciplinados em executar e obter resultados, é aí que vamos focar a nossa disciplina. Se somos disciplinados em ajudar as pessoas à nossa volta, é aí que vamos focar a nossa disciplina. Portanto, a disciplina utiliza-se e deve concentrar-se naquilo que é a atividade ou conjunto de atividades que define aquilo em que somos bons e que faz de nós quem nós somos.
Quando devemos usar disciplina?
A qualquer momento. Disciplina não é sobre sermos extremamente rígidos com o nosso planeamento. Pelo contrário. A melhor altura para aplicar a nossa disciplina é quando acontece algo fora do nosso controlo que está prestes a estragar todo o planeamento disciplinado que estabelecemos. Não me interpretem mal. É importante sermos disciplinados em cumprir o nosso plano. E é altamente simples que o nosso plano se torne automático. Afinal de contas, a maioria de nós, vive um dia-a-dia automático, quer isso vá ou não de encontro ao que mais deseja. Aquilo que é realmente importante é, naqueles momentos em que o nosso plano é afetado por algo fora da nossa esfera de controlo, nós termos a capacidade de aplicar a nossa identidade, a disciplina que temos, para assumir a responsabilidade perante tudo aquilo que é a nossa vida e cumprir com o que é mais importante. Adaptação é a melhor capacidade que a disciplina gera.
Como usamos a disciplina?
Esta é sempre a pergunta que vale mais. Como fazer? Eu acredito plenamente que esta pergunta é a que melhor esconde o perfecionismo. Como desejamos fazer tudo de forma a não falhar, queremos sempre acertar à primeira. É o medo do processo de aprendizagem, da tentativa e erro, que nos gera esta pergunta. Tal como a maior parte das coisas, a disciplina não tem uma forma específica de ser aplicada. Como disse no início, todos somos disciplinados em algo. Temos de perceber, em primeiro, onde está a nossa disciplina a ser utilizada. Depois, reconhecer se isso nos está a fazer crescer ou a arrastar num caminho que não é próspero. A partir daí, temos de partir pedra. Começar o processo de substituir pequenas ações, para levar a nossa disciplina do terreno onde está para o terreno de aplicação onde queremos que esteja.
Aqui é mesmo uma batalha, pura e dura. Descobrir aquilo que queremos. Que ações nos vão aproximar disso. Quais são os passos que tenho de dar para percorrer o caminho que estou a escolher para mim. Quão claro é o caminho. Que tipo de sacrifícios tenho de tomar. Que coisas novas tenho de incorporar.
Para obter respostas, temos de fazer perguntas. Isso é o que realmente nos dá tudo aquilo que alguma vez vamos precisar. A qualidade da nossa comunicação, em especial connosco próprios, é uma das coisas que define a qualidade da nossa vida. Melhores perguntas proporcionam melhores respostas. E melhores perguntas vêm da experiência. E experiência vem de respostas erradas. A vida faz-se a viver. A tentar. A falhar. A tentar novamente. A falhar novamente. A falhar melhor. De cabeça levantada, passo após passo. No caminho que escolhemos. A prática não faz a perfeição. A prática faz a permanência. Ninguém disse que o caminho da disciplina era bonito e limpo. Mas vale a pena, todos os dias. Ser feliz dá um trabalho do caraças, e a disciplina faz parte disso.