Dicotomia da Consciência
O preço do estado de presença e da evolução
Poucas palavras despertam o meu Ser e ativam a minha consciência como a palavra “Dicotomia” faz. Fascina-me toda a envolvente de consideração binária, que nos permite olhar aos extremos. E sobretudo, se há algo a que tenho estado atento em tempos recentes, é ao equilíbrio. Aquilo a que chamo de “zona cinzenta”, devido à famosa afirmação de “preto ou branco.” Que no caso, consideramos nenhuma como correta. Nem tudo, (aliás, muito pouca coisa na vida), especialmente no que toca aos aspetos humanos, de interação, acontecimentos da vida real e todas as circunstâncias, é binário.
Regra geral, existe algum tipo de pormenor ou detalhe que vai fazer com que não seja tão claro assim considerar um dos dois extremos. Na teoria, quando tudo é controlado, é fácil prever resultados. No entanto, quando submetemos as teorias ao mundo real, raramente os resultados se demonstram tão claros como antes, ainda que possam fornecer um resultado bastante semelhante com consistência elevada.
No entanto, se falar de equilíbrio hoje, vai ser sobre o tema que serve de título. A Dicotomia da Consciência. E quais são os extremos desta dualidade? Bem, no lado máximo, será a Consciência, plena e suprema. No oposto mínimo, será a ignorância, pura e automática.
Sinto eu que a palavra consciência tem vindo, com o maior acrescento e aceitação do desenvolvimento humano, a alterar um pouco o seu significado e conotação. Atualmente associamos muito mais a palavra “consciência” ao estado de presença e aceitação das circunstâncias, estando desperto e atento para lidar com aquilo que a vida coloca no nosso caminho. No entanto, podemos também considerar a consciência como aquela mítica batalha mental entre o “anjo e o diabo” que carregamos nos ombros. Em que cada um nos força, de alguma forma, a seguir os seus ideais e, subsequentemente, o curso de ação que pretendem. Esta é uma questão muito mais associada à Dicotomia do Bem, entre o bem e o mal (tema para o futuro).
Presença e Evolução vs Alienação e Estagnação
Dois aspetos dos dois extremos que se opõem nesta dicotomia. Quando estamos conscientes, estamos presentes. Isso coloca-nos numa posição de evolução, por perceção de algo novo. Por outro lado, quando estamos ignorantes, ficamos alienados do meio que nos envolve. Isso não nos permite abertura e coloca-nos numa posição de estagnação pois, mesmo que o estímulo de aprendizagem surja, não estamos despertos para ele. Agora que a dicotomia foi estabelecida e os extremos definidos, percecionamos melhor o espaço no qual podemos trabalhar, entre estes dois pontos, onde existe, de forma bem clara e ampla, muita margem para trabalhar e evoluir.
Como em qualquer processo, existe um começo, um desenvolvimento e uma fase final. Contemplar o desconhecido, aprender algo novo, descobrir um ponto de melhoria que temos a trabalhar. São exemplos de cenários onde, no início, até escolher tomar a decisão de os reconhecer, estamos completamente inconscientes a eles.
A reflexão dicotómica
Tenho um amigo que me é muito querido que tem uma frase que diz assim: “A ignorância é a maior doença do mundo!”
E de outro lado, tenho uma pessoa muito especial que me costuma dizer: “A ignorância é uma benção!”
Sei que não parece à primeira vista, e no final de contas, ambas as frases remetem para o mesmo, a partir de pontos de vista diferentes. Ainda que a dicotomia da consciência seja tudo aquilo que escrevi acima, a reflexão que mais gosto de fazer sobre esta dicotomia, um dos meus exercícios de pensamento preferidos é este: “O que estou a ganhar e a perder ao continuar a insistir no aumento do meu nível de consciência e na diminuição do meu nível de ignorância?
Porque não é só sobre aumentar a consciência. É também sobre diminuir a ignorância. Deixo um exemplo simples: Saber que o Cristiano Ronaldo é o melhor marcador de sempre pela seleção nacional é ser menos ignorante sobre futebol do que seria não tendo esta informação. Escolher não estudar mais sobre o assunto é não aumentar a minha consciência sobre o tópico.
Aquela decisão de que falava acima, sobre reconhecer o que queremos trabalhar, é isto. Por vezes, vamos cruzar-nos com campos que, para nós e para a visão que temos da vida, nos serão supérfluos. Nesses, podemos ter informações aleatórias, que até nos permitem ser menos ignorantes e que, ainda assim, não nos despertam vontade de ser mais conscientes sobre. Pegando no exemplo acima, um analista desportivo vai estar interessado em estudar o tópico, porque aumentar a sua consciência nesse campo o vai servir para ser um melhor profissional.
Na vida em geral, acontece algo semelhante. Com as nossas emoções, com a forma como encaramos aquilo que nos acontece. Com a forma como lidamos connosco e com os outros. Podemos fazê-lo de forma inconsciente, de forma menos ignorante ou melhor ainda, treinar-nos para sermos mais e mais conscientes, de forma a lidar melhor com todos esses aspetos. Diz-se muitas vezes que o caminho do desenvolvimento humano é uma jornada sem retorno, só com bilhete de ida. Porque a partir do momento em que essa decisão é tomada de forma comprometida, ela serve para o resto da vida.
A dicotomia da consciência é o reflexo dessa decisão: ela surge quando entendemos os prós e os contras do desenvolvimento humano e nos questionamos “será que isto vale mesmo a pena?”
E perguntamo-nos isso porque ter o controlo dá trabalho. Respirar corretamente dá trabalho. Submetermo-nos a desafios de melhoria dá trabalho. Ser a parte que procura não reagir igual e sim agir diferente, dá trabalho.
Tomar decisões é sobre isso. Porque a vida não é, nem justa, nem perfeita. Ela é o que e dá-nos aquilo que nós plantámos no passado. Cada coisa que obtemos no presente é uma semente de algo que semeámos no passado. É por isso que cada decisão que tomamos, pequena ou grande, importa. Pois, ainda que possamos não ter de lidar instantaneamente com as suas consequências, eventualmente teremos de as enfrentar. E num mundo tão automático como temos atualmente, ficamos pelo imediatismo e vamos empurrando. Até que um dia, temos de colher demasiadas consequências, ao mesmo tempo.
Outra vez, a consciência volta a entrar em jogo: se escolhermos a ignorância, pode parecer mais fácil e conseguimos varrer a poeira de consequências para debaixo do tapete. No entanto, temos um limite. Eventualmente, explodimos aquilo que acumulamos, tudo porque escolhemos o caminho da ignorância. E os resultados disso, por norma, vão ser refletidos em partes e pessoas da nossa vida que nada têm que ver com isso.
Por outro lado, escolher a consciência vai doer no curto prazo, porque implica aceitar e lidar de frente com o que quer que seja que está a acontecer. Vai ser desconfortável, desafiador e até esgotante. Do outro lado, porém, vai existir paz. Harmonia. Resultados. Que permitem a vida seguir, sem bagagem e pesos desnecessários acumulados e com um tapete livre de poeira ignorante por baixo.
A dicotomia da consciência é apenas isto: a consciência é a cura perante a benção confortável que a ignorância pode parecer e que, na realidade, não é.
A escolha, a decisão, está sempre nas tuas mãos. Em ser consciente ou ser ignorante. E em certas fases, ser ignorante vai fazer parte invariável do início da jornada. Ser consciente, porém, vai sempre ser o caminho difícil dos resultados que valem a pena. Na saúde, no amor, nos negócios e na vida em geral.
O que vais fazer esta semana para te aproximar do nível de consicência desejado para melhorares aquela área da tua vida que tens adiado por ser desconfortável?