Desinformação
Quando mais se torna muito menos
Chegamos a um novo ano que nos traz um misto de emoções face ao que aconteceu e ao que queremos que aconteça. Não é apenas o sentimento que se apoderou de nós no período festivo e de término anual. É o impulso psicológico que nos faz começar estas novas fases com uma energia revitalizada e um desejo quase intrínseco da história que cada vez mais temos presente como cliché: “ano novo, vida nova.”
O que acontece a este conceito, com o passar do tempo, é que se vai desvanecendo a esperança. A vontade. A iniciativa. O contexto em que as resoluções de ano novo nos colocam fazem parte de um estado onde nos inserimos que nos faz oscilar emocionalmente de forma pouco saudável e demasiado rápida. O que tem isto que ver com (des)informação? Talvez nada. Talvez tudo. Vamos ver o que os próximos parágrafos reservam.
Informação
É o ato de informar. De dar a alguém algo a conhecer. Revelar. Informação tem sido o nome da moeda de troca do século. Mais do que dinheiro, é quem tem a informação, que tem a atenção. E quem tem a atenção, domina o jogo. O dinheiro, esse vai ter com quem tem o jogo na mão. Com o exponencial crescimento tecnológico e difusão dos meios de comunicação, a informação chega até nós mais rápido, em maior quantidade e cada vez menos cuidada e selecionada. Somos assoberbados, cada vez mais, por publicidades que não pedimos, produtos que nem imaginamos e serviços que nem sabíamos que existiam. Tudo porque, algures no nosso comportamento digital, algo nos “denunciou” a que fossemos alvo dessa informação, desse anúncio. Qualquer que seja a forma como a informação nos chegou, algo fez com que ela chegasse. Um comportamento, uma atitude. Atualmente, o esforço já não é obter informação. A exigência que devemos ter para connosco próprios é a de selecionar a informação que realmente queremos ou não queremos consumir. O que nos leva ao passo seguinte:
(Des)informação — uma das novas doenças sociais
A excessividade de estímulos sob a forma de informação a que somos expostos ao longo de um período de vinte e quatro horas em 2024 é muito provavelmente, maior do que aquela a que uma pessoa que viveu na última metade do século passado foi exposta a vida inteira. Este excesso de informação causa precisamente este fenómeno: desinformação. Porque a quantidade, num extremo deplorável como acontece, perde não só a qualidade, como acaba também a refletir outro aspeto: dualidade.
Esta dualidade resulta de algo simples, que é a interpretação ambígua humana. Como já escrevi aqui tantas vezes, tudo depende da forma como olhamos para as coisas. Das perspetivas, pontos de vista, sentimentos e emoções que nos influenciam num determinado momento. Uma situação, observada por diferentes pessoas em diferentes momentos da vida é vista de forma distinta. Isto causa criação de informação diferente a partir de uma fonte igual. Se o contexto existente permitir a que o assunto seja interpretado em momentos diferentes da sua cronologia, pode precisamente gerar informação oposta. O que origina este conflito informacional que provoca precisamente este fenómeno de desinformação.
A vida dificilmente é preto no branco. Não é dual. Temos toda uma grande zona cinzenta para explorar, onde tanta coisa acontece, para além dos factos claros e das dúvidas existenciais obscuras.
Mais do que as fontes informacionais serem tendenciosas, cada uma à sua forma, (sem querer também alimentar a questão de que podem ou não ser influenciadas de forma externa), o que quero aqui deixar é mais do que esta reflexão, um alerta e chamada de atenção para que se tornem mais seletivos, conscientes, assertivos e críticos sobre a informação que decidem consumir. Não, o mundo não é um poço de tristeza nem um mar de rosas. Contém um pouco de ambos. Não nos iludamos a querer viver apenas num dos lados. Sejamos realistas, de forma a viver numa harmonia pacífica em que temos a consciência da existência das partes e decidimos estar informados sobre uma da forma que nos é conveniente e alimentar-nos da outra para impulsionar a nossa vida a novos estados.
O importante é começar com um diagnóstico. Entender que tipo de informação queremos consumir. Depois disso, iniciar uma avaliação ao que já estamos a consumir. O que estamos daí a recolher e a obter com base nela. Agora, entender como está o fluxo dessa informação: a quantidade, qualidade, fontes e formas pelas quais nos está a chegar. Certamente, estamos a obter informação em excesso dos nossos interesses e também informação desnecessária que nos está a ocupar tempo e espaço de consumo. Toda esta forma de desinformação é o que realmente nos está a sobreestimular e a tirar o tempo que queremos investir intencionalmente no que realmente importa. Porém, o nosso sistema torna-se facilmente tão dependente dessa dopamina que parece que nos torna escravos destes pequenos estímulos acumulados. Que, passo a passo, nos vão sugando a vida. Novamente, o problema não é a informação em si. É o excesso dela. A qualidade questionável. A forma como a deixamos controlar o nosso tempo, a nossa vontade, o nosso controlo sobre a própria vida.
Conclusão
Isto é a verdadeira desinformação. A perda de domínio sobre nós próprios e os nossos recursos mais preciosos. A nossa perceção saudável. As nossas crenças, valores e sobretudo, a nossa identidade. Estamos dependentes de informação que nem sequer nos importa assim tanto, na grande maioria. Completamente descontrolados, desprovidos de capacidade de desligar, de nos afastar. Porque queremos ver a próxima notificação, o próximo pedaço de informação que vai completar uma linha de pensamento que nem sequer é originalmente nossa para começar. Isto é desinformação. Sobre seletividade de informação, regressamos a fundo no tema na próxima semana. Vamos começar bem o ano!
Já paraste para entender porque consumiste a informação que consumiste hoje?