Currículo de Vida

A valorização do que acontece para lá do trabalho

Daniel Covas
5 min readJun 15, 2023

Existem fases pelas quais passamos. A infância, a juventude, a adolescência, a idade adulta e a velhice. Podemos dar-lhes estes nomes ou quaisquer outros. Cada fase tem algo característico em si. A infância é a fase de aprendizagem das bases: andar e comer. Começar a falar. A juventude é a fase em que estamos entre a brincadeira e a responsabilidade inicial. A adolescência é o murro no estômago em que conhecemos todas as dimensões da vida e temos de aprender a lidar com tudo ao mesmo tempo. Depois, tornamo-nos adultos e percebemos que a adolescência foi só um treino para o verdadeiro impacto. A velhice resume aquilo que produzimos ao longo das outras frases e pode ser descrita como a sabedoria e a experiência. A fase em que se passa o testemunho às gerações novas.

De grosso modo, costumamos descrever a nossa vida como nascer, crescer, ir para a escola, estudar, arranjar um trabalho, criar uma família, comprar uma casa e um carro. Viajar nas férias. Repetir várias vezes. Reformar. Morrer.

  • Entre o nascimento e a morte, está a vida
  • Celebração: Publicação 100!

Nascimento (XX-XX-XXXX) -> VIDA <- Morte (XX-XX-XXXX)

Costuma dizer-se que a vida é o que acontece entre a data do nosso nascimento e a data da nossa morte. Uma reflexão que normalmente se faz quando alguém que conhecemos parte ou quando olhamos para uma lápide. Aí, vida é representada com um traço. O que está entre a data de início e a data de fim. Caramba, é só isso que a vida é, um traço? Um sopro? Sim e não, terei de dizer.

Claro que a vida é mais do que isso. Regressando ao breve enunciado introdutório, a maior parte da nossa vida é despendida a trabalhar. Ainda não fui a muitos funerais, e aqueles a que fui, não se falava muito sobre o que a pessoa fazia profissionalmente. Falava-se sobretudo do quanto ela era importante. Dos momentos e memórias que se tinham passado na sua presença. Então, mas como pode a maior parte do nosso tempo de vida não importar, no final? Será que a pergunta certa é essa? Ou será que, enquanto estamos a viver, não estamos a dar o valor ao que realmente importa, para lá do tempo que usamos para o fazer?

É verdade que o nosso trabalho é importante. Por várias razões. É o que nos permite ser membros produtivos e contributivos de uma sociedade. É o que nos permite ter um rendimento para sustentar a nossa vida. Certamente que não podemos descurar isso, claro que não. Temos sim, de valorizar ainda mais aquilo que somos. Porque, adivinhem só, isso até potencia o nosso trabalho e tudo aquilo que fazemos!

Quando perguntas a alguém “quem és?”, para lá de uma questão de identidade, a pessoa por norma responde-te com o nome, idade e com aquilo que faz. Parece ser aquela tríade básica de apresentação. No entanto, isso diz muito pouco sobre nós, na realidade. Certo, ficamos a saber como chamar essa pessoa, sabemos à quanto tempo ela anda nesta experiência que é a vida e a atividade que ela usa para sustentar a sua vida. Deixando um exemplo: “Sou o João, tenho 39 anos. Formado na universidade XPTO, mestrado em finanças corporativas. Sou contabilista há 14 anos. Prazer”. Isto será aquilo que podemos considerar uma apresentação genérica de alguém. Claro que podemos adicionar depois os hobbies, e outras coisas. Aí sim, começamos a chegar a qualquer lado. Porque a vida, aquilo que nós somos, é um conjunto de várias dimensões que compõem o nosso SER e a nossa realidade. Esta apresentação curricular, a que estamos acostumados, é por si só um limite que impomos a nós próprios. Como se não fôssemos mais do que aquilo que fazemos. Não há um único profissional apaixonado pelo que faz que se defina pela profissão. Pelo contrário, os profissionais apaixonados pela sua profissão definem-na. Essa é a pequena grande diferença. Aqui é onde entra este conceito do Currículo de Vida.

Este brilhante conceito, ouvi-o pela primeira vez pelo Jesse Itzler. Algo que redefine as nossas prioridades e nos faz olhar para a totalidade da vida, em que as experiências que vivemos reforçam o que somos, as nossas aprendizagens e nos permitem ser mais e melhores. Enquanto profissionais, enquanto pais/mães, filhos/filhas, irmãos/irmãs… Enquanto pessoa. Enquanto Ser. Um currículo de vida é aquilo que fazemos para lá do trabalho. As experiências. As imersões. Os momentos. Os locais. As viagens. As culturas. A aprendizagem e experiência que retiramos disso. Construir um currículo de vida, é, acima de tudo, vivê-la na totalidade. Explorar as nossas variadas facetas, as nossas dimensões. Descobrir o que temos de mais forte na nossa identidade e na nossa alma. O que temos mais frágil também e que podemos reforçar e aprender. Tudo isso faz parte. Esses aspetos só se obtêm com a prática. Com a ação. Com a realização. Não nas salas de teoria, na realidade prática, onde as variáveis não se controlam e as decisões estão expostas aos elementos.

Um currículo de vida é o conjunto dos países que visitamos, das pessoas que conhecemos e das experiências que vivemos. Mais do que isso, é a soma de tudo o que somos, fazemos e nos tornamos. Apresentar-me com o meu currículo de vida, neste momento, seria algo do género:
“Sou o Daniel. Tenho 26 anos. Conheço 6 países, para além do meu. Fui militar do Exército Português durante 6 anos, entre 2015 e 2021.Pratiquei paintball na Polónia, tive uma experiência de karts em Évora, pratico duches frios diariamente e sou um entusiasta de exposição ao gelo. De qualquer coisa que me desafie, física e mentalmente. Sou coach e analista profissional certificado. Tenho uma outra certificação em marketing digital. Conheço o meu país de ponta a ponta e amo a Natureza. Conduzir e correr são as minhas formas de meditação. Já corri uma meia-maratona e tenho neste momento mais de 100.000km conduzidos atrás de um volante. O meu fascínio é aprender constantemente, melhorar aquilo que sou e faço a qualquer nível.”

Isto é uma representação muito mais real (e certamente não total) de quem eu sou, para lá daquilo que é a minha atividade profissional. Um misto entre as dimensões da vida.

Publicação 100

Sabia que o tema seria impactante. Não queria que fosse demasiado especial, porque afinal de contas, é mais uma publicação de conteúdo. Claro, representa um marco significativo a nível quantitativo. Merece ser celebrado, sem dúvida. E será!

Acima de tudo, deixo um agradecimento a vocês, que estão desse lado, a ler, a acompanhar. Foi por vocês que chegar até aqui se tornou possível.

Daqui, vamos continuar rumo onde quer que seja que eventualmente vamos parar. A ti, obrigado.

Já te agradeceste pelo que tens hoje e o celebraste?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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