Cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais

Quando fazes tudo… Menos dedicar tempo à pessoa mais importante da tua vida

Daniel Covas
6 min readSep 28, 2023

Este é o tema. Aquele que tinha guardado e que estava ansioso por escrever sobre. Porquê hoje, porquê agora? Não faço ideia. Sei que o planeei para este dia. Para fechar o meu mês preferido, a nível de publicações. A frase que hoje me serve de título, não é minha. Li-a, algures. Não tenho presente quando. Numa qualquer página ou referência nas redes sociais. É de Socrates. Tem sido cada vez mais utilizada nos tempos correntes. Ressoou-me imediatamente. Pensei instantaneamente: “Tenho de escrever sobre isto.”

É, sem dúvida, pelo menos para mim, uma frase digna de reflexão e que nos remete a várias coisas. Eu vou focar-me em alguns aspetos específicos, que associo diretamente a esta temática do vazio da vida e da ocupação sem noção.

Prioridade original

Estava eu em mais uma bela conversa há algumas semanas e surgiu um tópico muito interessante, que me trouxe à luz da mente a forma como ressignifiquei algo tão valioso na minha vida. Ser a minha própria prioridade.
Eu não sou o meu fã número um. Eu sou o meu fã-fundador. O fã #00. O original. Quando assumimos a responsabilidade de sermos a nossa primeira prioridade, não é sobre atribuir-lhe um número. É sobre garantir que antes de qualquer coisa, fazemos aquele check-up a nós próprios, para garantirmos que estamos no nosso melhor possível, a cada momento do dia (isto implica estar incrível e implacável quando as condições o permitem e estar miserável, aceitando isso, sentindo, aprendendo e superando, caso as circunstâncias assim o ditem).

Acredito eu que este seja o primeiro passo para evitar o vazio que uma vida ocupada demais possa trazer. Porque se tivermos dentro de nós paz, amor, serenidade, tranquilidade e plenitude, estamos cheios. Tal só é possível quando nos colocamos em primeiro lugar e trabalhamos os pilares essenciais do nosso ser: corpo, mente, emoções e espírito.

Este trabalho em nós, não é mera ocupação. É literalmente, um investimento vital e essencial ao nosso preenchimento interno.

A importância de termos hobbies ou atividades, o que lhe quiseres chamar, que nos fortaleçam é mandatória:

  • Um hobbie que nos fortaleça o corpo;
  • Um hobbie que nos blinde a mente;
  • Um hobbie que nos potencie a compreensão das emoções;
  • Um hobbie que nos preencha o espírito.

De preferência, garantir que temos ações dárias que contribuam de alguma forma para nutrir cada um destes quatro pilares é o cenário ideal. Caso não seja possível, por uma panóplia de circunstâncias inesperadas, alinhar prioridades e “regar” aquele(s) que for(em) o(s) pilar(es) mais importante(s) para o momento em questão é o que deve ser tido como prioridade.

Produtividade tóxica

Tudo tem dois extremos e uma larga zona intermédia na qual conseguimos operar, de acordo com as nossas preferências comportamentais e base de processamento mental (racional ou emocional).

A produtividade não é exceção. Quando a levamos ao extremo superior, de querer estar sempre a produzir algo, o tempo todo, vamos acabar mal. Naquele estado que hoje conhecemos como burnout, ou pior até.
A produtividade está diretamente associada a dois aspetos fundamentais da nossa vida: tempo e energia.

Quanto mais eficazes nos tornamos, mais energia conseguimos poupar, porque conseguimos ser cada vez mais produtivos num cada vez menor espaço de tempo.

Isto é uma regra de ouro que nos permite entender algo: aprende a aceitar que a eficácia não liberta tempo para produzir ainda mais. Ela liberta tempo para viver mais. A produtividade torna-se uma ocupação quando não respeitamos o limite entre o que estamos a fazer, o resultado que queremos atingir e o cuidado que estamos a manter de nós, para preservar ao máximo a nossa melhor vitalidade.

Cenário ideal? Aprender a balançar a necessidade de produtividade com o desejo dos resultados, mantendo bem presente o primeiro ponto referido e a também necessidade do aspeto seguinte.

O perigo do relaxamento

Da mesma forma que tendemos a levar a produtividade para o extremo máximo, temos também a tendência de levar este relaxamento a um extremo desproporcional. No caso de levarmos a produtividade ao máximo, vamos ter o relaxamento no mínimo. E vice-versa, quando a nossa produtividade está no mínimo, tendencialmente teremos o relaxamento nos máximos. É por isso que é tão importante usar aquela zona intermédia, fora dos extremos, de modo a aproveitar o melhor que, tanto a produtividade como o relaxamento têm para oferecer.

Pegando neste segundo, o perigo que ele apresenta quando está nos mínimos, é que estamos a abusar de nós próprios. Não nos estamos a permitir descansar. Novamente, por muito desejado que fosse, a nossa energia não é infinita. Esta é a parte diretamente contrário ao descrito no ponto anterior.
Virando o jogo para aquilo que é realmente o título, o perigo do relaxamento. Quando levamos este a um extremo máximo. Chegamos à tão famosa zona de conforto. Ótimo lugar para passar tempo, péssimo espaço para viver. Quanto mais tempo passamos nela, mais vontade vamos criar de lá permanecer. Maior vai ser o gasto de energia de cada vez que for necessário fazer um esforço para a abandonar. O relaxamento é importante quando merecemos repor a energia que gastámos. Nunca antes disso. O que este tipo de hábito causa é a deterioração da qualidade e quantidade da nossa energia vital.

Relaxa, sim. Com qualidade. Em quantidade suficiente. Prioriza o teu descanso e usa-o até como recompensa para o esforço que fazes na tua produtividade. E não o uses como uma desculpa para evitares fazer aquilo que te causa fricção e te faz crescer no longo prazo.

A chave do equílibrio

Em primeiro, que fique registado que não há duas pessoas iguais nem dois dias iguais. O que quero dizer com isto é o seguinte: dificilmente o nosso equilíbrio enre produtividade e relaxamento será igual. Pode ser semelhante. Raramente igual.
Da mesma forma, nenhum dia acontece igual a outro. Um detalhe, um pormenor, uma circunstância. Algo vai ser diferente.

Equilíbrio requer consciência adaptativa.

Deixo-te, para fechar esta reflexão simples de hoje, alguns pontos que te poderão ajudar a delinear uma margem que te possa equilibrar, voltando a tocar em aspetos que referi em várias publicações ao longo das últimas semanas.

É importante sabermos qual a direção da nossa vida e o que queremos alcançar com ela. Ter aquela visão de futuro. Desconstruída em janelas temporais de anos, meses, semanas, dias. Assim, consegues estabelecer métricas de forma a gerir a tua produtividade de forma útil, prática, tangível e consciente. Começa na produtividade.

De seguida, usa o relaxamento como recompensa por aquilo que alcanças. Isto vai programar o teu cérebro de forma a que ele só sinta que merece ter aquele período de paz após ter realizado algo, o que vai criar resiliência e disciplina mental. Porque se dás relaxamento ao corpo sem antes produzir o que quer que seja, ele vai assumir que não precisa de passar por desconforto para merecer o conforto.
É precisamente neste ponto, tão simples, que tanta gente se perde, infelizmente. Mas não tu, porque agora sabes melhor. Porque estás a ler isto e vais fazer algo com esta informação. Ela serve para te servir e para que faças algo com ela. A bola está no teu campo agora!

Podia prolongar muito mais a reflexão sobre esta questão. E quero manter clareza, intenção e simplicidade na publicação, acima de tudo o resto.

Termino com isto:

Porque é que uma vida ocupada demais se torna vazia?

A ocupação é superficial. Serve apenas e só para gerar sentimentos de preenchimento temporários. Tarefas que precisamos de fazer e que usamos como desculpa para fugir do que sabemos que é verdadeiramente importante. Com o acumular desta ocupação, a vida torna-se vazia, por uma simples razão: criamos o hábito de nos ocupar. Enquanto estamos ocupados, estamos em piloto automático. Guiados por um subconsciente comandado pelo general que é a mente reptiliana, responsável da zona de conforto, que nos mantém alienados da clareza intencional. Começamos por achar que só precisamos de fazer uma tarefa porque “não é altura de pensar nisso”. Começamos a criar um ciclo de nos ocupar cada vez que temos de enfrentar a fricção do crescimento e, sem saber bem como, estamos presos no loop infinito que é o vazio de uma vida ocupada demais.

As tuas ações de hoje foram claras, intencionais e verdadeiramente importantes? Ou mantiveste-te ocupado para não pensar nisso?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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