Consideração

Do tudo ao nada, onde chegamos ao consenso?

Daniel Covas
6 min readApr 18, 2024

Um tema que me surgiu um pouco de surpresa e que me parece importante de escrever sobre. Aliás, se não me parecesse, não escreveria. Até porque tudo o que abordo neste blog, é tão básico que facilmente é esquecido no dia-a-dia. Essa é mais uma das minhas missões por aqui: relembrar o poder, a importância e influência que as coisas básicas (e sobretudo, o esquecimento delas) têm.

Por não ter escrito nada nas últimas duas semanas, uma vez que prioridades maiores se levantaram, por um evento e por depois ter de recuperar e integrar o impacto que ele teve em mim, aqui estou, de volta. Tinha iniciado a escrita deste tema em tempo útil de publicar e, quando fui trabalhar para o desenvolver, nada fluiu. É um título algo vago, o que me permite deambular nas vertentes de aplicação dele, para contemplar várias dimensões daquilo que podemos, efetivamente, considerar.

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A existência

A consideração pode não existir de todo em alguns indivíduos, em determinados temas ou no geral, o que nos leva à assunção de que “é uma pessoa que fala sem pensar”. Consideração é um aspeto que está diretamente ligado ao pensamento. Existe depois, o espetro oposto, das pessoas que consideram tudo, os denominados overthinkers, onde a consideração, na realidade se torna mais uma prisão do que um benefício. Onde está então a dose ideal de consideração, que permite que não sejamos os tolos que falam sem pensar, reagindo de imediato a qualquer estímulo à sua volta, nem os pensadores extremos que consideram todas as variáveis mais remotas e até as impossíveis, ficando paralisados numa teia de pensamentos?

Aspetos a ter em conta

Quando estamos em consideração, sobre o que quer que seja, antes demais devemos procurar um bom equílbrio entre a influência mental e a influência emocional. Existem situações que são mais processadas com a lógica e outras que são mais processadas com a emoção, atendendo à sua origem. Só depois de aplicarmos de forma saudável algum tipo de estratégia de pensamento e/ou inteligência emocional, conseguimos ter a clareza necessária à consideração de um determinado tema, assunto ou decisão.

Sendo esse o tópico primário, na forma como eu vejo as coisas, diria que logo depois, sem uma ordem prioritária específica, surgem outros elementos:

  • Expertise dentro do tópico
  • Capacidade de concentração na resolução pretendida
  • Qualidade de saúde e nível de cansaço
  • Círculo de influência
  • Contexto

Podem e devem, certamente, existir mais tópicos que estes, consoante a realidade e a forma de considerar as coisas que cada um de nós possuí. Para mim, que gosta de manter as coisas simples, olho às várias áreas da vida e foco-me naquilo que tem um papel mais preponderante quando me vejo a entrar num processo de consideração, seja ele mais curto ou prolongado.

A predisposição resultante da soma destes fatores é o que vai afetar e influenciar quer a capacidade, a qualidade e a efetividade da nossa consideração.

Saúde

A forma como cuidamos de nós aos vários níveis (alimentação, exercício e sono) determina grandemente como corre o nosso dia, a qualidade e capacidade de tomar decisões e de fazer considerações. Isto é uma chamada de atenção indireta para esta parte da tua vida, sim. De que forma os alimentos que ingeres influenciam o teu estado? De que maneira o exercício que fazes (ou que não fazes) contribui para o teu estado anímico? Como corre a tua vida quando tens uma noite de sono de qualidade, com as horas suficientes? E quando dormes menos horas e com menos qualidade?

Tudo isto influencia a forma como consideramos o que quer que seja. A forma como nos alimentamos, como cuidamos do nosso corpo e a forma como recuperamos vai tornar o nosso estado geral mais ou menos preparado para utilizar a totalidade dos nossos recursos e a capacidade e disponibilidade de lhes aceder. Isso é o que, em última instância, vai definir a forma, qualidade e razoabilidade da nossa consideração.

Expertise

O nível de competência que adquirimos ao longo do tempo e com a experiência que acumulamos profissionalmente, aliada à que adquirimos a título pessoal, tornam cada um de nós único em algum tipo de detalhe. Dominar um assunto, sendo algo mais relativo do que concreto, porque existem vários níveis de domínio a considerar. Uma vez que não existe no mundo nada conhecido na totalidade que não tenha, no mínimo, mais uma ramificação para estudar ou uma hipótese para colocar em causa, declarar expertise no que quer que seja é sempre relativamente considerável. É certo que existem especialistas conceitados em várias áreas de estudo, científicas e não-científicas, que ainda assim não são unanimamente proclamados desta forma.

Isto tudo para dizer que o quanto sabemos (ou acreditamos que sabemos) de um determinado assunto influencia grandemente a facilidade com que fazemos considerações sobre ele.

Concentração na solução

A capacidade de foco, de estarmos a olhar ao que realmente não só nos desperta a atenção e sobretudo àquilo que verdadeiramente é do nosso interesse, é uma mais valia. Isto porque o nosso sistema está desenhado para nos proteger, ao invés de nos expandir. Daí ser mais fácil cair no automatismo de reclamar da realidade já acontecida ao invés de visualizar o que pode ser alterado no futuro, com base nisso. A forma como olhamos, não apenas ao acontecimento e ao que podemos fazer com o resultado dele, efetivamente é o que determina a coragem que temos em manter a nossa atitude congruente com os nossos desejos. Isto faz total diferença na forma como consideramos o que quer que seja, sobretudo na esfera binária de consideração positiva/negativa.

Círculo de Influência

O grupo que nos rodeia, aquelas pessoas mais próximas, não só as que mais confiamos e sim realmente aquelas a que dedicamos mais atenção, tempo e interação diária, seja presencial ou por meios de comunicação à distância, são uma das influências mais determinantes da criação da nossa realidade. Essas são as pessoas a quem recorremos. As pessoas a que realmente vale a pena pedir opinião e também uma perspetiva única, para que possamos considerar assuntos de forma muito mais objetiva e ponderada.

Contexto

De extrema importância e muitas vezes ignorado, há que atentar a duas partes deste ponto:

Imaginemos o cenário vago e hipotético em que algo aconteceu. O resultado desse acontecimento impeliu-nos a tomar alguma decisão. Em primeiro, é importante considerar o contexto do acontecimento. Em segundo, é igualmente importante considerar o nosso contexto perante o assunto e a decisão a tomar (no fundo, avaliar o nosso estado interno).

Entender as circunstâncias envolventes do resultado que estamos a considerar, bem como o nosso estado de consideração presente vão dar-nos muita informação não sobre o que estamos a considerar e sim sobre a forma como estamos a considerar.

Observações finais

Sim, definitivamente “consideração” enquanto um tema de publicação é realmente vago. Ainda assim, pondera em alguns pontos:

  • Como consideras as situações positivas que acontecem à tua volta? E a ti?
  • Como consideras as situações negativas que acontecem à tua volta? E a ti?
  • Como consideras as pessoas com quem interages?
  • Como consideras as pessoas que acabas de conhecer?
  • Como consideras as decisões que tens de tomar?

Seja ponderar, refletir, considerar, o nome que quiseres atribuir. Se estás a colocar as pessoas em “caixas”, não estás a saber considerar. Se estás a atribuir constantemente julgamentos a tudo o que acontece à tua volta de forma automática, não estás a saber considerar. Não é que estas coisas vão deixar de acontecer. É aí que entra o processo de considerar: libertar dos pressupostos e preconceitos, questionar e refletir sobre a atribuição de um determinado significado a eles e apontar a fazer melhor ou diferente, de acordo com os recursos disponíveis num determinado momento.

Importa atentar, como diz no subtítulo, a moeda contrária ao não considerar: o considerar tudo e cada coisa, em excesso. Isso vai aprisionar-nos numa espiral de pensamentos sem fim, que nos vão impedir de agir e ficar no mesmo sítio, a acreditar que existe alguma coisa que falta ainda considerar. És tu, novamente, quem tem de encontrar e/ou criar a harmonia entre a consideração e a ação, dependendo do grau de certeza ou incerteza com que consigas viver, executar e prosseguir com as tuas decisões, devidamente consideradas.

Como te consideras hoje?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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