Compras
Para hoje, estava perdido. Sem temática, sem assunto para vos escrever (começa a ficar cada vez mais desafiante à medida que o tempo vai passando). No entanto, convenço-me, cada vez que termino de escrever uma publicação, que existe pelo menos mais um tema que vos posso trazer. E assim, dia após dia, acredito plenamente que, por muitas voltas que tenha de dar à mente, rever outras publicações que já tenha escrito, abordar temas como que repetidos, de forma mais profunda, ou até assuntos completamente diferentes da sequência que tenho vindo a criar. São momentos de disrupção. Como hoje. Para manter a vossa (e a minha) capacidade de adaptação ativa e treinada. Então, quando refletia sobre o que escrever aqui, surgiu-me, pela voz da intuição: a psicologia das compras. E veio parar à minha mente uma pergunta que vai direcionar o guião da composição textual de hoje: Se gostamos tanto de dinheiro, porque somos mais apaixonados em gastá-lo do que em ganhá-lo?
· Compras: Origem e evolução
· A psicologia das compras
· O marketing: A manipulação psicossocial
Origem e evolução das compras
Sem querer entrar profundamente numa aula de história, o comércio é algo que provém desde antes da nossa capacidade de falar. Na era Paleolítica, durante o período dos Neanderthals, conhecidos como os homens das cavernas, já com a caça se faziam “leilões”, de forma a bajular as melhores peças de caça. Estes princípios ficaram presentes em nós à medida que evoluímos, enquanto espécie. Quando o nomadismo deixou de ser regra social e os seres humanos se começaram a sitiar, estabeleceram-se as bases de uma sociedade semelhante ao que conhecemos hoje, a nível de instalção local e cultural. Juntamente com as primeiras civilizações, o comércio floresceu grandemente, tendo aqui como base, na altura, ainda as trocas comerciais. Só na Idade dos Metais começaram a aparecer as primeiras moedas e o dinheiro apenas começou a ser utilizado como meio de transação com a burguesia, no fim da Idade Média. Daí, devido à expansão social, batalhas por rotas comerciais, navegações e conquistas territoriais, o mundo sofreu algumas reviravoltas e o comércio estabeleceu-se finalmente como um processo de troca de bens em que uma das partes utiliza um pagamento ao invés de um género, transacionando o sistema comercial de um sistema de trocas de bens para um sistema de troca de um bem por um ativo monetário. Isto foi a origem dos sistemas capitalistas que vemos hoje em dia dominarem os mercados mundiais.
Deste modo, as compras transformaram-se, ao longo do tempo, desde inicialmente serem apenas um método de obter bens essenciais até aos dias que correm, onde podemos obter qualquer coisa imaginável, seja um bem ou serviço, que satisfaz necessidades, básicas, intermédias e supérfluas. Em poucas palavras e da forma mais resumida que me é possível entregar-vos (saltando muitos passos pelo meio, sou consciente. Poupança de tempo, palavras e para retirar aborrecimento à publicação), aqui está apresentada a origem e o processo de evolução daquilo que são as compras. Quero partir daqui para abordar, na realidade, toda a vertente psicológica por detrás das compras e de que forma isso influencia as finanças do humano comum nos tempos correntes.
A psicologia das compras
Hoje em dia, apesar do cenário de guerra que está a ser vivido em território ucraniano, estamos maioritariamente em tempos de paz. O que significa que, aquele espírito, aquele desejo de conquista e dominância que trazemos das nossas origens, um registo natural ainda impresso na parte mais rudimentar e primitiva do nosso cérebro, está presente. O que significa que ele tem de ser redirecionado de uma forma diferente, para libertar essa contenção de energia interior, antes que surja uma implosão.
Quando terminámos o período de guerras e conquistas e estabelecemos os nossos territórios, a guerra teve de passar de um campo mais puro de violência e dominância para um domínio mais intangível de poderio. Neste caso, poderio financeiro, que é aquilo que parecemos realmente registar e manter em controlo. Então, transitámos a guerra do campo de batalha para o campo dos negócios. E as compras e vendas tornaram-se as espadas e os escudos dos generais modernos que combatem pela conquista de mais e mais capital, com uma sede de luxúria imparável, apenas comparado ao seu desejo egocêntrico de ser o “maior da sua rua”. Assim, as compras hoje em dia, estão muito longe de ser apenas a aquisição de bens de primeira necessidade, imprescindíveis à sobrevivência. O que temos hoje em dia no mundo é uma máquina geradora de capital que torna a maioria de nós obsoletos a nível de imagem se não adquirirmos o produto X, Y, Z, A, B, C…
É precisamente aqui que entra a psicologia do mundo das compras. Na influência da comunidade. Como a guerra hoje em dia é sobre quem vende mais, então os alvos tornam-se os consumidores. De que forma? Bem, é simples. Através da pressão de grupo. A pessoa A compra o artigo X. Gosta. Recomenda à pessoa B. Que por sua vez recomenda à pessoa C. A, B e C conhecem D e perguntam-se porque raio D ainda não comprou o produto X. Começam a deixar D de lado. Julgam a pessoa porque não possui um certo produto, um certo bem. E esta pressão social que se gera inicia toda uma nova guerra, desta vez dentro da sociedade, sobre qual é o melhor produto. E começam a chover argumentos que defendem que X é melhor que Y e chovem argumentos do outro lado sobre Y ser melhor que X. E o produto Z, exatamente igual mas sem uma marca de referência, entrega ao consumidor a mesma qualidade, com um preço extremamente mais reduzido. Porque não se houve falar do produto Z? Porque existe uma guerra entre o produto X e Y, para descobrir qual o melhor. Essa guerra tira a atenção a Z e ao mesmo tempo desvia a atenção do real problema também: Porque estamos a discutir a qualidade de algo que não fazemos, para acabar a comprar o produto e a não olhar para o facto de que não estamos a comprar um produto e estamos sim, a comprar uma marca?
Marketing: A manipulação psicossocial
Hoje em dia, temos até direito às melhores produções de anúncios alguma vez criados à face da Terra. E no marketing, aparentemente, vale tudo. Desde escolher as palavras certas para o tipo de cliente pretendido. As cores que cativam melhor a atenção com a sua combinação. O/a modelo que apresenta a figura mais esteticamente apreciável (mais uma imagem social que cria um padrão insustentável). A duração ideal. A hora ideal para o transmitir. A melhor plataforma para o fazer. Tudo, literalmente tudo, hoje em dia, é levado em conta para produzir um anúncio. E esta manipulação que é levada a cabo é o que atrofia, diariamente, os nossos cérebros. Sempre sobrecarregados de informação. E como sobremesa, uma explosão de estímulos mentais e sensoriais, através destes anúncios. O marketing não mexe apenas com o nosso interesse. Mexe com o nosso sistema hormonal. Somos bombardeados com um espetáculo de cores e animações que nos fazem disparar os níveis de hormonas de felicidade e excitação. Que lançam a dopamina, aquela hormona do desejo imediato, para os seus picos, e que só conseguimos satisfazer esse desejo, essa necessidade criada por esse desequilíbrio hormonal, com a compra de algo novo. E criamos este ciclo de: Salário -> “o dinheiro é tudo o que importa, preciso dele para sobreviver” -> “Existe este novo produto no mercado, mesmo o que eu precisava” -> Compra -> “Nem uso tanto, mas é tão bom ter” -> Arrependimento -> “Próximo mês vai ser diferente, vou poupar” -> Salário -> “Olha esta viagem que queria tanto fazer” -> Compra…
É assim que o sistema está desenhado. Para nos manter em loop, à sua mercê. Somos escravos da nossa liberdade. E isso é a manipulação psicossocial do marketing, das compras, do capitalismo. É aqui que nos perdemos. É relativamente simples de nos soltarmos deste ciclo. É bastante exaustivo, cansativo e trabalhoso, também. São decisões, mais uma vez. Temos de escolher o tipo de difícil que queremos na nossa vida.
Com isto, quero deixar claro que não me estou a opor às compras. Temos a necessidade de nos alimentar e compramos comida para isso. Temos a necessidade de nos vestir e compramos roupa para isso. Temos a necessidade de nos manter fisicamente bem e pagamos o ginásio para isso. Temos a necessidade de tratar os nossos problemas de saúde e pagamos a um médico para isso. Compras e vendas são o mecanismo que move a sociedade capitalista. Faz parte. No entanto, é importante saber fazer compras por necessidade. Saber fazer compras por vontade. E parar de fazer compras por impulso. Impulso é diferente de instinto, de intuição. Instinto ou intuição são vozes profundas, que nos dizem o que é melhor para o longo prazo. São a dica fabulosa do momento ou a tarefa dolorosa dos resultados que existem lá na frente. O impulso é a voz que grita que temos de fazer algo, sem um claro motivo aparente. Esta é verdadeira diferença. Na intuição, a razão é clara. No impulso, nunca. Para deixarmos a escravidão da roda social, temos de parar o impulso e ligar a intuição. Desligar a opinião alheia e ligar a responsabilidade e a autoestima. Quando acordarmos felizes, só porque sim, pelo que temos e por quem temos, ganhámos o jogo.
Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.
Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.