Autocontrolo & equilíbrio interno
A habilidade de mostrar a nossa verdadeira identidade
Este é um tema que tem surgido em conversa com alguém que, ao longo dos últimos tempos me tem inspirado e apoiado bastante e escrevo hoje, em honra a essa pessoa. Espero que seja algo que vos sirva. Pois considero que, no meio de tudo aquilo que é a minha vida e as suas vastas dimensões, a par com a paciência (que acaba por estar associada a este tópico) este é o meu ponto mais forte e característico. Vou escrever com o máximo de praticidade e de dicas possíveis, sempre dando o contexto necessário previamente.
- Inteligência Emocional
- Gestão de expetativas
Inteligência Emocional
Um tópico que, felizmente, tem sido muito abordado em tempos recentes e que tem ganho muita tração e ganho a devida importância nos campos de estudo dedicados. Durante bastante tempo, ao longo da história, valorizou-se muito a inteligência racional. Menosprezámos e reprimimos sentimentos e emoções durante demasiados anos e hoje em dia, estamos a colher os prejuízos dessas ações. Muito se tem estudado sobre inteligência, sendo hoje a observação científica muito diferente daquela que existia, abrindo espaço atualmente a valorizarmos e explorarmos potenciais diferentes, associados a diferentes inteligências. A emocional continua a ser uma bastante desafiante de trabalhar e treinar, porque temos bastante enraizado em cada um de nós a associação cérebro -> razão; coração -> emoção. Controlar o “coração”, dentro desta analogia, parece ser uma tarefa impossível, porque é um órgão que funciona de forma autónoma. No entanto, sabemos bem que as emoções têm origem em pensamentos. Ou melhor, no que os pensamentos nos fazem sentir, que são depois refletidos em emoções. Onde entra então, a inteligência emocional?
Temos de integrar aqui, antes, um pequeno tópico: controlo. Controlar algo é o que nos faz acreditar termos o poder e domínio sobre tal coisa. Como olhamos para as nossas emoções como algo que é despertado de forma externa e que se nos “corre nas veias”, parece que está fora do nosso controlo. Na realidade, estamos corretos. O que desperta as nossas emoções são fatores que vêm de fontes fora de nós. O que significa que nós não controlamos as nossas emoções. Eu acredito, e já o disse várias vezes ao longo das publicações que aqui escrevo, que nós apenas controlamos duas coisas: os nossos pensamentos e as nossas ações.
Fazendo a conexão, o objetivo da inteligência emocional não é controlar as nossas emoções. É lidarmos com elas de uma forma saudável. Porque todas as emoções, sem exceção, são necessárias.
Cada emoção representa uma reação interna do corpo, face aquilo que estamos a sentir. Então, as emoções não são necessariamente positivas ou negativas, somos nós que lhe atribuímos tal significado. A emoção, de forma objetiva, é uma mensagem. Estarmos conscientes ao ponto de entender que mensagem está por detrás de cada emoção, ao invés de simplesmente deixarmos que a emoção nos domine, é efetivamente o que define a nossa inteligência emocional.
Gestão de expetativas
Primeiro, é importante tirarmos dos ombros o “peso” de nos querermos controlar a todo o momento. Isso gera ansiedade interna que acaba por gerar mais tensão do que leveza, o que acaba por ser contrário ao que desejamos, na realidade. Quanto mais resistência depositamos face ao que queremos, mais dificil se torna obter isso. Não é a rigidez que nos ajuda, é a flexibilidade e a adaptabilidade que nos permite alcançar o que queremos verdadeiramente.
Isto é o que importa realmente sobre gerir as expetativas que temos, em relação à nossa capacidade de autocontrolo. Todos começamos de pontos diferentes e com distintos ritmos de aprendizgem. Dependendo da entrega e do quanto os nossos comportamentos base estejam consolidados e automatizados, teremos um nível diferente de autocontrolo e uma progressão diferente na aprendizagem dessa capacidade.
Mais uma vez, é importante a consciência do nível onde estamos e onde queremos chegar. E depois, traçar o plano, através de simples ações, que permita chegar de A a B. Em primeiro, há que definir para nós o que é autocontrolo. Porque a própria definição varia de pessoa para pessoa, perante o nível de exigência que temos para connosco. Para mim, por exemplo, autocontrolo é ter a habilidade e capacidade de usar os meus recursos internos de forma a não permitir que as situações à minha volta quebrem a minha paz e, caso isso aconteça, usar as minhas ferramentas de forma a restabelecer essa paz, da melhor possível, perante aquilo que acredito e valorizo.
Com base nisto, a cada acontecimento e mudança de ambiente, uso perguntas orientadoras que me permitem manter o meu equilíbrio de paz, de forma a manter o meu nível de autocontrolo. Agora, quando tudo corre bem, é fácil para nós mantermo-nos no controlo, pelo menos em teoria. No entanto, eu acredito que é nesses momentos, em que estamos bem e tranquilos, que mais devemos aproveitar para treinar a nossa consciência e inteligência emocional, de forma a reconhecer os nossos sentimentos, as emoções que nos estão a despertar e que mensagem essas emoções nos estão a trazer.
Porque, o nosso autocontrolo perde-se quando as situações surgem do nada e despertam o pior de nós. Ou assim acreditamos. O nosso autocontrolo pode perder-se em ambos os extremos: quando tudo corre muito bem e quando tudo corre muito mal. De acordo com a ideia que partilhei mais acima, de que as únicas coisas que controlamos na vida são os nosssos pensamentos e as nossas ações, autocontrolo é então, estarmos no controlo destes aspetos. No entanto, acredito que há um aspeto a termos em conta, lado a lado com o autocontrolo: equilíbrio interno.
A capacidade em mantermos o nosso equilíbrio é uma das chaves por detrás do nosso autocontrolo na seguinte medida:
Quando tudo está a correr muito bem e nos deixamos levar (sem controlo), quando o padrão diminui, um pouco que seja, sentimos uma quebra enorme. Acontece, por exemplo, na época de férias. Porque aumentamos muito o padrão, deixamo-nos levar numa norma desregrada e quando a quebra surge de volta ao padrão habitual, ficamos como que ressentidos. No entanto, claro que é mais fácil aceitar uma queda de padrão após ele subir do que uma quebra de padrão normal. Ou seja, quando estamos no nível habitual e descemos ainda mais…
O nosso equilíbrio interno é medido através da consciência do nosso estado de presença. Um estado elevado de equilíbrio interno é o que nos permite lidar com as mudanças de padrão para melhor, o retorno à habitualidade e sobretudo, com a gestão das quebras de padrão nos momentos menos bons.
O que mais tenho estudado nos últimos tempos e que me tem feito muito sentido a nível de equilíbrio interno é a respiração. O quanto este ato, que apesar de autónomo, influencia o nosso estado. O quanto ele ativa ou desliga o corpo, de forma geral ou localizada. A forma como, conscientemente, podemos usar a respiração a nosso favor, para potenciar o nosso sistema, controlar a nossa temperatura e treiná-la a ser mais eficiente e prática.
Conclusão
Antes que continue a alongar mais e mais o tema, vou fechá-lo aqui mesmo. Autocontrolo e equilíbrio interno são o nosso núcleo. As capacidades e habilidades que temos de nos manter centrados, conscientes, capazes, controlados, em paz.
- Para situações que nos tiram do sério: parar e observar as sensações. Que emoção surgiu? Que mensagem carrega essa emoção? Como posso agir diferente da próxima vez?
- Para situações que nos levam para o extremo positivo: parar e refletir. Porque me estou a deixar levar? Mantermo-nos conscientes e centrados é a melhor forma que temos de apreciar tudo o que estamos a sentir, de forma a potenciar, intencionalmente, emoções que tragam mensagens que interpretamos como positivas.
No final do dia, é importante ouvir o corpo. Entender o que sentimos. Tirar partido disso. Tomar notas mentais. Treinar intencionalmente mudanças de comportamento. Gerir as expetativas que temos e não nos cobrarmos por algo que ainda não dominamos o suficiente. Respirar, não de forma inconsciente e sim de forma a entender o que a entrada e saida de ar nos está a influenciar a sentir e fazer.
Há mais aspetos a ter conta? Claro. Se há algo que acreditas ser verdadeiramente importante e que não falei aqui, partilha nos comentários para poderes contribuir para a restante comunidade de leitores.
Já treinaste o teu equilíbrio interno e o teu autocontrolo hoje?