Arrastar pelos dias

Quando te queres manter no caminho a todo o custo

Daniel Covas
5 min readJun 9, 2023

Ouvimos atualmente falar de conceitos como a disciplina se sobrepor à motivação (sendo a primeira fruto da vontade interna e a segunda fruto de fatores temporários e instantâneos). Uma reação popular é a típica resposta que surge:
- E naqueles dias que não estou bem, que são uma treta, o que faço? Quando não há vontade, não há motivação, não há disciplina?

O nosso cérebro reptiliano, com os programas de segurança de há milhares de anos atrás salta para o controlo assim que surge a mais pequena oportunidade, como esta. De supor o que acontece nos piores cenários, sem nos dar a resposta. Apenas dando a pergunta. E onde fica a resposta? Bem, aí voltamos ao normal da consciência e começamos a preocupar, stressar e até a “panicar”, porque como vamos ter uma resposta a um situação ilusória que a nossa mente criou?

  • O que fazer diariamente?
  • Os dias menos bons
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O dia-a-dia

Atualmente, no nosso dia corrente, somos bombardeados com uma variedade de estímulos como nunca antes aconteceu. As exigências continuam as mesmas, a nível de vida quotidiana. vários aspetos, sobretudo relacionados com o trabalho, foram sendo alterados (a perceção de trabalhar, o início do mundo digital, o trabalhar a partir de casa, os nómadas digitais) são tudo conceitos desta nova era a que nos estamos, de certa forma, ainda a acostumar-nos enquanto sociedade.
Agora, indo à questão, nas vinte e quatro horas que nos são atribuídas entre a meia-noite de um dia e do seguinte, aquilo que fazemos, de uma forma ou de outra, provém de duas coisas: decisões que tomamos ou consequências de decisões que forma tomadas. Exemplo, ir treinar é uma decisão que tomamos. Ir trabalhar é a consequência de uma decisão que tomámos (candidatar-nos ao emprego onde estamos).

O equilíbrio mais natural, simples e recomendado para o nosso dia é o 8–8–8: que representa uma divisão equitativa do nosso dia (8h de sono. 8h de trabalho. 8h para nós).

Aqui, temos duas divisões de tempo que pressupõem um foco concentrado apenas numa tarefa (dormir e trabalhar, correspondentemente). A terceira divisão é a que contempla o mais abrangente leque de atividades e também aquele que gostaríamos que fosse o espaço de tempo maior. Porque algo em nós, internamente, nos diz que vivemos para desfrutar. Para passar tempo com boas pessoas. Para experienciar momentos e aventuras. Para viajar e conhecer. Para viver, no final de contas. O que nos parece passar ao lado é a nossa clara má relação com o tempo. Queremos que as coisas durem mais. Mas porquê? Para as viver em demasia? Isso acaba por afetar o significado que damos a cada momento e termina com o decréscimo do valor que atribuímos aos momentos que mais nos importam. Exemplo: viajar até Londres uma semana desperta a minha curiosidade. Passar lá um mês pode aborrecer-me. Mesma experiência, resultados diferentes. Fator diferente? O tempo.

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Dias menos bons

Afinal de contas, o que tem esta história da relação com o tempo que ver com o facto de fazer o que é preciso nos dias em que não nos apetece?

Bem, em primeiro, tem tudo a ver porque tudo na vida está interligado. Agora, o que importa aqui, neste tópico em específico, em primeiro, é reconhecer que existem dias menos bons. Dias sem energia. Dias sem vontade. Dias em que estamos em baixo. Porquê? Bem, as razões podem ser inúmeras. Alguém de quem gostamos deixou de falar connosco. Fomos traídos. Aconteceu algo com o nosso animal de estimação. Um problema familiar. Um problema de saúde, connosco ou com alguém próximo. Alguém morreu. O que seja. Todas estas situações, sem excepção, têm um certo pesar no nosso estado físico, mental e emocional. Atiram-nos ao tapete. Sermos derrotados, porém, é apenas uma escolha nossa. Se nos dias bons, quando vamos treinar, nos sentimos em grande, a evidência que temos é que treinar é bom. Então porque não iriamos fazer, se a probabilidade de nos sentirmos melhor é elevada, baseada nas nossas experiências anteriores? Sim, é uma abordagem bastante lógica. Ainda assim, é como o cérebro funciona. Não disse nem direi, em fase alguma, para ignorar aquilo que estamos a sentir em determinada situação. Pelo contrário, devemos sentir o que precisamos sentir e usar isso como combustível para nos levar em frente. Porque a vida continua, para lá de tudo o que nos aconteça (excepto a nossa morte, sim).

Posto isto, passar pelos dias menos bons é assumi-los. Reconhecê-los. Olhar para a situação que temos em mãos, sentir todo o seu poder e usar essa energia de forma objetiva e producente. Procrastinar a procrastinação, como ouço muito bem dizer em vários aúdios que escuto.

Mas, e onde encaixa afinal a história do tempo? Que esta tua arte de desviar o assunto foi bonita e a questão manteve-se sem resposta…

Excelente observação. Tudo isto foi uma introdução para aquilo que acredito ser o último caso dos dias menos bons: os dias sem energia. Em que nem existe poitividade, nem negatividade. Estamos num espaço que percecionamos como uma espécie de vácuo. A solução destes dias, na minha ótica, é descansar. O último recurso que aplico e que costuma ser o adequado, quando tudo o resto parece errado. Quando falo em descansar não é só deixar de lado a atividade física e ler. Não. É mesmo um all out de nada. Ver um filme ou série. Sentar ou deitar num local silencioso, ir até ao nosso refúgio, seja na natureza ou noutro local, simplesmente e literalmente, sem fazer nada. O nosso corpo, de quando em vez, precisa desfrutar dessa paz. Recalibrar e reorientar. Algumas vezees, é um momento. Outras vezes, algumas horas. Noutros casos, um dia inteiro disso. Raramente é mais. Nesses dias é onde realmente entra em jogo a nossa relação com o tempo. Tenho um mantra que aplico, quando identifico dias menos bons e especialmente que uso neste tipo de dias que acabei de descrever: “This too, shall pass” — Isto vai passar.

Se há coisa que o tempo nos ensina é que tudo passa. O que é bom passa. O que não é tão bom, passa também. É a intensidade e intencionalidade com que experienciamos aquilo que vivemos que tolda a nossa perceção temporal e não o tempo em si. Esse é imutável e objetivo, como todas as grandezas físicas.

Para concluir, em última instância é o confiar no discernimento da nossa consciência e o ouvir daquela voz da intuição que devemos ter mais presente. Todos nós sem excepção, conseguimos argumentar sobre qualquer situação e torná-la boa, má, enérgica, derrotante… A pergunta que mais me tenho feito ultimamente e que parece resultar a todo o momento, porque é realmente simples e poderosa, é a seguinte: “O que é verdadeiramente importante para mim, neste momento?”

Sim, esta publicação foi sobre disciplina. Foi sobre resiliência. Foi sobre vontade. Foi sobre determinação. A ação, bem essa deixo para ti. Eu fiz a minha parte. Agora, é a tua vez de fazeres a tua.

Já assumiste o teu dia como menos bom ou estás a criar desculpas para justificar não fazeres a tua parte hoje?

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Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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