Aprendizagem & Formação

Daniel Covas
8 min readFeb 3, 2023

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Desta vez não é sobre uma coisa ser diferente da outra. Ou daquele formato de uma coisa contra a outra. Uma melhor que a outra (isso normalmente nem faz parte de mim, exponho sempre cada parte, de forma objetiva).

É sobre aquilo que é o significado que atribuímos a estes aspetos e, sobretudo, a importância e as crenças que associamos a estes termos, por influências de quem nos rodeia.

  • Definir educação e formação
  • As fases da vida, a criação de crenças e imagens mentais
  • A proatividade como motor de crescimento
  • Conclusões
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Educação é o conjunto de normas pedagógicas relacionadas com o desenvolvimento geral do corpo e do espírito; conhecimento e prática dos usos considerados corretos socialmente.

Formação é o ato de se formar; é um conjunto de valores ou qualidades morais resultantes da educação.

No que toca à minha perspetiva, aquilo que quero deixar claro, dentro do que acredito e do que quero aqui partilhar com vocês, é o seguinte: vamos assumir a educação como aquilo a que somos obrigados e com o que assimilamos durante a nossa infância e crescimento. Quanto a formação, é o ato voluntário e ativo em que procuramos adquirir conhecimento com alguém que é mais experiente do que nós, num determinado campo, onde ambicionamos ser melhores.

A escola é algo que faz parte da nossa vida desde tenra idade. Isto faz com que aquilo que nos transmitem lá seja transportado por nós ao longo do tempo. Entre os três e os seis anos, a nossa mente é uma esponja de informação. Nessa idade, a nossa capacidade seletiva é 0. Para aquilo que observamos, fazemos e aprendemos. Todos os estímulos são válidos, numa tenra idade. O que faz com que a nossa educação infantil seja de extrema importância. A normativa educacional escolar é algo muito mecânico, que pouco ou nada se tem alterado nos últimos três quartos de século. Sei que é uma temporalidade abismal para a evolução a que estamos acostumados hoje em dia. Infelizmente, é a realidade. No entanto, não me interpretem mal. A maioria daquilo que se faz nos infantários é útil. Pintar, desenhar, estimular o convívio, treinar palavras, praticar atividade física. Maioritariamente, são atos que nos incentivam a explorar as nossas capacidades primárias e funções triviais. Eu tive o privilégio de ter uma excelente educadora de infância, que teve a paciência e discernimento suficiente para lidar com a minha introversão e falta de capacidades sociais e comunicativas (que caminho longo e bonito percorri desde aí).

Onde certas metodologias e práticas me começam a fazer alguma “comichão mental” é efetivamente a partir do ensino primário. A minha experiência pessoal, de meios pequenos, de “terrinha rural”, era tudo ao molho, numa sala apenas, do 1º ao 4º ano. Sensivelmente quatro a cinco alunos por ano. Uma mesa para cada ano. E assim se fazia. Acredito que foi muito devido a este facto que hoje tenho a inteligência que tenho. Por ter aproveitado esta diversidade de estímulos da melhor forma. Como miúdo interessado que era, estava sempre atento a toda a informação transmitida em sala. Ou seja, durante o meu primeiro e segundo ano, eu aprendia ao mesmo tempo a matéria do terceiro e quarto. Aliás, lembro-me inclusive de ajudar alunos dos anos à frente do meu com as avaliações. Já aí tinha uma necessidade de contribuição sem ter noção. Tendo em conta que o ciclo foi mais do mesmo e o secundário, com menos discrepância, e ainda assim, diferenças notórias, o que concluo hoje, ao olhar para trás?

O que vejo, e que qualquer pessoa consegue ver facilmente, é que o sistema de educação está desenhado para nos colocar a todos ao mesmo nível. Quem sobressai acima da média, não é estimulado a isso. Tem de se forçar a si próprio a fazê-lo. Quem sobressai abaixo, por outro lado, é punido e forçado, de certa forma, a igualar o padrão mínimo. O que é que isto nos diz e incute no subconsciente da mente? Que ser melhor destaca-te, mas não te recompensa. Cria-se a imagem do que tem a mania que é inteligente. Que ser mau te dá toda a atenção do mundo. Cria-se a imagem do reconhecido, que tem de ser ajudado. Que ser mediano é a norma. E quem está na norma é mais um dentro do esperado. Cria-se a imagem do padrão. Do que se deve aspirar a ser.

Poucas sociedades têm presentes no seu sistema educacional uma cultura de excelência. Porque a excelência, para quem está a crescer sem uma noção do que é performance, produtividade, eficácia e outros termos semelhantes, não é algo que crie uma imagem estimuladora. Isto, porque associamos o período da escola à descoberta. E é aqui que entra o erro do processo normal. Qual a imagem que trazemos associada a estudar, a ter boas notas, a fazer o que é necessário? É a coisa chata e aborrecida. É a obrigação. É o que somos forçados a fazer. Então, ao começar a idade da puberdade, da descoberta do corpo, das novas hormonas que começam a invadir o sistema, estudar é uma das últimas coisas na lista. E quem o faz, é condenado, porque não está a fazer o que a maioria faz. Porque está fora da normalidade. E assim se gera o ciclo de condenar o excelente, idolatrar a normalidade e beneficiar a mediocridade.

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Portanto, que crenças o processo educacional de 15 anos (assumindo três anos de infantário, quatro de ensino primário, cinco de ensino básico e três de ensino secundário) cria?

  • Estudar é aborrecido
  • Estudar é chato
  • Quem estuda é marrão
  • Quem estuda não é fixe
  • Quem tem boas notas não tem vida
  • Estudar é “queimar neurónios”
  • Ser o/a bad boy/girl é que é
  • Se não me chatear com isto e fizer o mínimo, passo

Estas crenças desenvolvem algumas imagens mentais que, mesmo com o passar do tempo, continuam presentes e se refletem nas nossas ações ao longo da vida. Agora que já expus alguns dos pontos críticos e que mais me preocupam dentro do sistema educacional, nem tudo é tão mau como isso. E vou abordar esses argumentos nos parágrafos seguintes.

Entrando agora dentro do mundo das formações, aqui chegamos à parte onde a vontade própria desempenha um papel importante. Onde a disciplina, a motivação, a determinação, a resiliência começam a entrar em jogo.

Por vezes, dentro das empresas onde trabalhamos, podemos ser forçados a participar em determinadas formações (o que vem reforçar aquelas tais crenças quanto à obrigação relativa ao estudo).

Agora, porque é tão importante nos formarmos, em qualquer que seja a área? A alavanca que o crescimento nos dá é inigualável perante qualquer coisa. Aqueles que se resumem à educação escolar, mais tarde ou mais cedo vão sentir-se forçados a passar por novos processos de formação, para obterem novo conhecimento ou reciclarem o antigo (porque a prática é também necessária para manter o que aprendemos). No outro espectro, aqueles que se expõem de forma diária ao treino das habilidades adquiridas e de forma recorrente a nova informação e formação, vão estar sempre num patamar mais à frente da restante sociedade, que não se expõe de forma voluntária a estas práticas.

Esta é a simplicidade daquilo que é a proatividade como motor de crescimento.

Para fechar este tópico, formação implica o uso do nosso tempo livre. Implica o nosso investimento financeiro. Implica investimento da nossa energia. Implica sacrifícios por vezes inexplicáveis. Dá um trabalho monstruoso. O resultado? As pessoas maravilhosas que conhecemos no processo, que de uma forma ou de outra, se estão a aventurar da mesma forma que nós. A satisfação de alcançar aquilo a que nos propomos. O superar de desafios. O ultrapassar do processo e atingir algum nível de felicidade, paz e plenitude. Vivendo a vida a desafiar os nossos limites. Afinal de contas, o facto da vida ser única, deve significar que não merece ser desperdiçada a não experimentarmos coisas novas.

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Concluíndo, de forma a unir um pouco os dois tópicos e a deixar algumas perguntas, o que podemos retirar daqui?

O sistema educacional é importante. Tem aspetos que entregam valor e são benéficos. Ainda assim, deve à sociedade o acompanhamento da evolução que temos visto em áreas como a saúde, a tecnologia, o trabalho e outras. A incorporação das aprendizagens ao nível emocional seria uma mais valia, para começar. Já a questão de quebrar aquelas crenças que mencionei acima, seria um trabalho mais longo e de mudança, que se pode fazer com incidência mais social do que propriamente no sistema escolar. Um outro aspeto que acredito ser uma mais valia, seria estimular a excelência como prática recompensadora. Para que o processo escolar não “desenhe” apenas operários de uma rede e também desenvolva indivíduos independentes, que preferem atacar o mercado de trabalho por conta própria. Parecendo uma antítese, ao estimular isso, haveria menos questões quanto ao “fruto proíbido ser o mais apetecido” de empreender e existiria um maior esclarecimento nesse campo. Essa clareza permite que, ao terminar o percurso escolar, as decisões quanto às funções a desempenhar no mercado de trabalho e de contributo para a sociedade seriam muito mais assertivas e decididas.

Se as escolas criam excelentes profissionais? Com toda a certeza. Infelizmente, porque essas pessoas se expõem às circunstâncias críticas é que o conseguem, não necessariamente por serem estimuladas a isso.

Dou-vos dois exemplos de grandes amigos meus, de longa data, do secundário. Um deles sempre se expôs a críticas por estudar demasiado. Ingressou no IST (Instuto Superior Técnico) em Lisboa, no curso de Engenharia Informática. Hoje em dia, praticamente doutorado na área, com um trabalho remoto associado às famosas e atuais redes blockchain. Já deu uma boa volta a vários países europeus e tem um percurso excepcional que continua a cimentar, a nível profissional.

Outro percurso, um amigo meu que era até alguém que se destacava nos grupos sociais e se mantinha num nível de desempenho acima da média nas disciplinas. No final do secundário, ingressou num curso de Medicina Nuclear. Após alguns passos nessa área, ele entendeu que o caminho dele não era por ali. Mudou de curso. Para jornalismo. Hoje em dia, desempenha um papel de elevada importância dentro de um dos organismos deportivos mais importantes do país. Está a criar uma rede forte de bons contactos e a dar passos sólidos rumo a uma carreira soberba.

Foi a escola que os colocou neste patamar? Discutível. A contribuição é inegável, claro. Agora, se me perguntarem como é que eles atingiram estes níveis, a minha resposta é paixão. Ambos são extremamente apaixonados pelas suas áreas, um pela evolução tecnológica e o outro pela propagação de informação desportiva de qualidade.

Em última instância, educação contribui para o nosso carácter e define, em parte, quem nos tornamos. Formação tolda e molda quem somos e corrige aquilo que acreditamos carregar que não nos é benéfico. E por último, aquilo que acredito que nos guia é a nossa paixão. Aquilo que amamos fazer. Qual acreditamos ser o nosso maior contributo para a sociedade? O que fazemos de forma tão natural que não exige esforço concentrado e naturalmente fazemos de forma excepcional?

Isso sim, é o que define a nossa direção e onde vamos buscar força para continuar. Aquilo que amamos. A nossa paixão. O amor é efetivamente a energia mais forte do mundo. Aprender a aplicá-lo para lá das relações, neste tipo de esforços, é onde reside um dos maiores obstáculos humanos na busca pela tão aclamada felicidade.

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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