Aplicar

Daniel Covas
8 min readDec 14, 2022

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Para este final de semana (sendo esta a primeira publicação oficial ao sábado), decidi seguir o rumo da última publicação no meu Instagram, sobre a importância da aprendizagem. O poder de fazer e aplicar sobre aquilo que aprendemos. Não me surge melhor e mais simples frase para resumir este princípio do que o famoso slogan da Nike, no que toca a aplicar algo: “Just do It.” (que, traduzido para o nosso belo português, significa “Apenas Faz.”).

· O poder de fazer

· A importância da experiência

Poder de fazer

Muitas coisas, muitos termos, conceitos e até temas se vão repetir ao longo do tempo. E provavelmente até, com o seu inevitável passar, vão aparecer contradições entre algumas publicações minhas aqui. Porque, por exemplo, pode haver algo que aprendo no dia de hoje, que vou colocar em prática e que pode fazer mais sentido para mim, perante a minha experiência e isso pode invalidar aquilo em que acreditava ontem. O processo de evolução resume-se um pouco (e não só) a isto: aprender, desaprender e reaprender. Esse é o poder de praticar, fazer e ganhar a experiência. Chegamos a novas conclusões e muitas vezes até ficamos a pensar porque fazíamos uma coisa de uma certa forma quando aquela que acabámos de descobrir é tão melhor. Isto é sinal de evolução. Significa que estamos a fazer o melhor que temos com os recursos disponíveis num determinado momento. Agora, regressamos ao início.

A parte de aprendizagem começa pela decisão. Pelo querer e pela vontade de enfrentar o desconhecido, apesar do medo. E só isto já é algo relativamente complexo, per si. É não só uma decisão altamente desconfortável como também significa que vamos ter de ficar muito mais vulneráveis perante o mundo para estarmos dispostos a aprender algo novo para transformar aquilo que são os nossos hábitos e rotinas de forma a alterar o que vai ser a nossa vida futura. Na essência, é isto. Quando nos inserimos nesse panorama e arrancamos com tal processo, no início, é todo um brilhantismo. Parece que descobrimos um “novo mundo”. E acaba por ser um pouco assim. O mundo do desenvolvimento humano é como um mundo paralelo que cada vez mais, com o tempo, se está a internalizar na sociedade, devido à sua real importância e extrema necessidade.

Mais uma vez, no início, como estamos a olhar para algo totalmente novo, ficamos absolutamente maravilhados. E à medida que começamos a focar-nos em algo específico, torna-se um pouco mais aborrecido e menos deslumbrante, por se tornar um pouco um processo repetitivo. No entanto, essa fase repetitiva é como, na melhor analogia possível, instalar um software ou programa novo no nosso computador. Neste caso, estamos a falar de instalar um novo hábito ou uma nova capacidade na nossa mente. E é nesta fase que muitos tendem a “cancelar” a instalação. Porque está a demorar (bem, aprender algo novo significa desaprender algo velho primeiro, por isso é que demora. Aprender algo novo é rápido, desfazermo-nos do velho hábito é que dá verdadeiramente trabalho), ou porque não é aquilo que esperavam que fosse (normalmente, quando se fala em evolução, falamos no quão melhores nos tornamos, o quão incrível é o processo, que vale a pena. Nunca lhe tiramos o glamour e isso cria uma expetativa irrealista a quem observa). Isto porque, quando não partilhamos a parte que dói do processo de crescimento (que é onde está o verdadeiro crescimento) estamos a montar uma imagem mental para quem nos observa. E quando esse alguém ganha a coragem de tomar a decisão de evolução, ele espera que aconteça aquilo que viu, não espera o impacto da realidade do crescimento, que tem como uma das pedras basilares obstáculos.

Photo by Mason Kimbarovsky on Unsplash

Aqui sim, aparece a importância de fazer. Podemos inspirar-nos em quem quisermos, seguir o mentor A, B e C, saber todas as frases e todos os discursos de cor. Conhecer as suas histórias incríveis de superação. E atenção, isto é importante, é uma mais valia. Eu próprio amo esta parte. Agora, a realidade, é que nada bate a experiência. Nada bate o fazer. Porque mentalmente, quando ouvimos certas palavras ou começamos a seguir certa linha de pensamento, pode fazer todo o sentido na nossa mente e não fazer sentido nenhum para nós na prática. Por muito que o processo de tentativa e erro hoje em dia se possa evitar, com os mentores certos, ele é imbatível. Porque é até nós fazermos realmente algo, tomarmos e tornarmos uma ação em realidade que percebermos não só o seu impacto como também a sua influência em quem nós somos e quem nós queremos ser. E aqui não entra a variável de gostar ou não, entra em jogo o facto de ser ou não algo que nos vai levar à vida que queremos. E aqui chegamos a um paradoxo a abordar na próxima semana: “Se não sabemos como nos sentimos até experimentarmos uma ação, como sabemos verdadeiramente o que queremos que seja a nossa vida antes de experimentar vivê-la?”

A importância da experiência

Partindo agora aqui da introdução a este ponto que fiz um pouco acima, vamos debruçar o nosso foco sobre o processo tentativa erro e abordar um exemplo prático em concreto, de forma a entendermos da melhor forma a mecânica da evolução. Vou contar-vos a história de como aprendi a jogar futebol.

Na altura, não percebia nada sobre evolução, sobre comportamento humano, hábitos, rotinas, repetição, aprendizagem — era apenas uma criança. Inocente e ingénuo. Devia ter uns cinco anos, no máximo. Na altura, como se costuma dizer, não tinha “toque de bola”. Um dia, decidi que ia aprender a jogar (já era decidido e comprometido desde aqui, é curioso. Aprendemos muito a olhar para trás, com aquilo que sabemos hoje e entendemos como funciona o que fizemos, sem saber, na altura). Todos os dias, após sair da escola, “desligava” do mundo na garagem do meu avô. Até à hora de jantar, só existia eu e a bola. E comecei a dar toques. Lembro-me de não conseguir mais de três sem a bola cair ao chão. E voltava a repetir. Dois, a bola caia. Outra vez. Três, a bola caia. Um, a bola caia. E eu continuava a insistir. Passado algumas semanas, cinco toques já eram consistentes e em uma ou duas ocasiões chegava ao primeiro belo número redondo: 10. Que felicidade. Depois, comecei a vir para a rua. No quintal, comecei a treinar passes e remates, contra a parede e contra o portão da garagem. Dia após dia, a capacidade continuava a desenvolver-se até que, um dia se tornou em algo realmente “automático”. Como se fosse natural.

Hoje olho para trás e, nessas pequenas coisas, percebo o poder da obsessão no que toca a aprender. Lembro-me também, mais tarde, no que toca a ilusionismo com cartas, de passar quatro a cinco horas, dia sim dia sim, em frente do computador. Youtube aberto, eu, e o baralho de cartas e o meu tapete, a praticar. Lento. Menos lento. Bom movimento. Rápido. Mais rápido. Impercetível. E, um dia, tornou-se natural.

Estes dois exemplos até são coisas que gosto de fazer. No espetro oposto, posso também dar o exemplo de coisas que não gosto de fazer e se tornaram um hábito, contribuindo para a minha saúde e para a minha qualidade de vida. Duches frios e acordar cedo. Acordar bem cedo é um ato momentaneamente doloroso. Ainda que o seja apenas por alguns segundos. Eu adoro o silêncio da manhã (da madrugada até). Sou apaixonado por tudo aquilo que consigo fazer bem cedo e me cria espaço para fazer o que mais gosto ao longo do restante dia. Agora aquele momento em que o despertador toca e são 04h30; 05h00; 06h00; 07h00 (dependendo da hora a que me deito, por qualquer tarefa que me possa surgir, hoje em dia prezo muito o meu descanso e essas são normalmente as horas a que acordo, muito raramente mais tarde do que isso. Ainda assim, pode acontecer algumas vezes) e tenho de me levantar… Na maior parte das vezes, a vontade é perto de 0. No entanto, a disciplina é perto de 100 e habitualmente a disciplina ganha. Eventualmente torna-se um hábito. No entanto, o hábito não invalida o desconforto. Simplesmente, ao tornar-se um hábito, aprendemos a lidar com esse desconforto de formas mais sábias.

Photo by Brett Jordan on Unsplash

Duche frio. Precisamente a mesma coisa. Será que eu gosto mesmo de um duche frio? Não. O que eu gosto mesmo é dos benefícios que o duche frio me dá. Estes hábitos, ao contrário daqueles que apreciamos fazer, mesmo com as dificuldades que surgem ao longo do processo, possuem um nível acrescido de desafio pelo extremo desconforto em que somos colocados. Porque, por mais que adoremos os benefícios (e até podemos, com o tempo, adorar a atividade em si), agora aquele momento inicial em que o pensamento surge de “lá vou eu fazer isto outra vez” e começamos a imaginar os arrepios da água fria, o quão mais confortável é se a deixarmos aquecer… Tudo isso vem do nosso conforto e comodismo dos velhos hábitos. Se nós realmente tivermos o nosso apreço conectado com o processo e não com a atividade ou os resultados, passamos a encarar aquilo que fazemos com outra perspetiva. E começamos a responder à questão: “Porque é que fazes isso?” com algo como “Pelo benefício que obtenho. Pela paz que sinto. Pela evolução que alcanço”. Em vez de simplesmente dizermos “Eu faço X porque gosto e não faço Y porque não gosto”. Experiência acima de tudo. Encontra o que faz sentido e que está alinhado com aquilo que mais queres e desejas. Não ter, mas ser.

Ter, é resultado.

Fazer, é processo.

Ser, é identidade.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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