Amor
A base de tudo o que somos
Estamos neste tempo natalício. Nesta época, quadra, período. Não tinha este tema agendado, é verdade. Foi-me sabiamente sugerido pela melhor pessoa que chegou à minha vida nos últimos tempos. Em honra a ela, vou dar o melhor de mim para vos escrever da forma mais pura sobre o sentimento mais genuíno que existe para qualquer ser que habita no mundo.
Definição
Como se define um sentimento? Como se pode, na realidade, definir algo que se sente?
Diz o dicionário que é o sentimento que induz aproximação ou proteção pela pessoa pela que sentimos afeição ou atração. Afinidade forte por outra pessoa.
Eu pessoalmente acredito que as palavras não chegam para definir os sentimentos. Pelo menos, na sua totalidade. Porque o que se sente, não se explica. Sim, é binário desta forma, especialmente quando é real. Especialmente, quando é amor.
Aquilo que é a definição de um sentimento é uma relativização geral daquilo que podemos observar que ele provoca ou dá. No entanto, um sentimento é muito mais que isso: é uma presença. É uma atenção nos pequenos detalhes. É uma subtil mudança de comportamento. É um pormenor que se torna diferente. É um acumular de pequenas coisas irrelevantes que, quando adicionadas, tornam tudo muito diferente, muito especial e muito único.
O amor
Há formas de amar que são diferentes. Sentimos amor por diferentes pessoas com diferentes intensidades e de diferentes formas. Amizade é amor, num estado mais simples e menos profundo. Relações familiares são amor, simplesmente num patamar diferente daquele a que estamos acostumados como o “amor tradicional”, que normalmente associamos aos casais. Podemos sentir amor pelo nossos pais, avós, irmãos, filhos, parceiros, amigos e até por desconhecidos. Pode existir amor em todos estes casos, sim. E em todos eles, é um amor diferente.
Este sentimento das borboletas na barriga. Da exasperação. Da vontade constante e contínua de estar ao lado de alguém que amamos. É aquela parte que realmente sentimos e associamos totalmente ao amor. O sentimento de pertença a uma presença. No entanto, sabemos que o amor é mais que isso.
Existe um vídeo que eu adoro de um autor e empresário que admiro muito (Simon Sinek) que já coloquei, acredito, numa publicação nos últimos meses. Vou deixar novamente aqui, basta clicar. A pergunta que inicia este vídeo é: “Tu amas a tua mulher?”, “então prova-me”. Como se prova que amamos alguém?
Em primeiro, não. O nosso amor não tem de ser provado. E se assistirem ao vídeo, apesar deste desafio inicial, o objetivo é chegar a uma conclusão, não a uma prova.
O amor não tem de ser provado, porque, tal como qualquer outro sentimento puro, genuíno e verdadeiro ou qualquer outra coisa na vida, no momento em que deixa de ser nutrido e demonstrado, desaparece. Aquilo que acontece é que temos de continuar a criar maneiras, ao longo do tempo, que permitam manter o amor presente, em qualquer que seja a relação e interação. O amor não é permanente. Ele oscila entre o que nós damos, o que nós recebemos e a nossa perceção e disponibilidade para dar, perante o que somos e aquilo que recebemos. Porque muitas vezes, nós damos o amor consoante o amor que recebemos.
Dar e receber
O amor, como qualquer outro sentimento, serve-se e é servido. Funciona num canal dual: entregar e colher. Retrofeedback. Estamos a falar de algo em que uma parte influencia a outra. A quantidade e a qualidade daquilo que damos vai afetar aquilo que recebemos. Por sua vez, essa parte que recebemos vai influenciar que dermos numa próxima ocasião. É um ciclo que nunca acaba. A interação vai sempre existir desta forma. Não podemos dar 10 e esperar receber 20. O que quero dizer é que tudo começa no dar. E na famosa afirmação de “Dá sem olhar ao que recebes”. No entanto, receber é o feedback que se obtém perante aquilo que se dá.
Reflexão e Conclusão — Amar sem condição
Tudo isto é verdade. Tudo começa no que damos. Especialmente no amor. Isso não significa que não vamos olhar ao que recebemos. Porque para darmos, precisamos da nossa energia. Sobretudo, de preservá-la. De forma a presevar e proteger aquilo que é a nossa energia, temos de entender se estamos a ser alimentados ou sugados em cada interação. Daí ser importante estar atento ao que recebemos. Agora, na perspetiva de dar, que é onde tudo começa (em nós), temos de dar a partir de uma posição de não criação de expetativas do que vamos receber e sim avaliar o que recebemos após isso acontecer. Sem antecipar acontecimentos, mantendo o estado de presença quando damos e tirando as devidas conclusões quando recebemos algo de volta.
Amar sem condições é precisamente sobre isso: simplesmente dar. Dar sem julgamento. Dar sem inveja. Dar sem certezas. Dar sem contar com nada. Dar, de forma a ter tudo.
A complexidade das relações humanas nasce precisamente a partir da complicação da dicotomia entre dar e receber. Estamos na posição de desconfiança constatemente, à espera de receber, para saber em que medida devemos dar. Vivemos constamente da necessidade de ter a certeza num lugar onde apenas conviver com a inceterza nos vai possibilitar sair vencedores. Quando saímos magoados porque demos demais, temos de saber que o “problema” não é nosso. Podemos não ser compatíveis com a pessoa em questão. Ela pode estar numa fase de indisposição para nos dar na mesma medida em que recebeu, vai ficar a sentir-se em dívida e vai afastar-nos, inconscientemente. Fechar-nos só nos vai fazer mal a nós próprios. Só nos vai privar a nós. Uma das maiores lições que aprendi nos últimos dois anos foi mesmo essa: se te desiludem por teres dado tudo de ti, dá ainda mais de ti na próxima vez. Cada pessoa que cruza o nosso caminho: que decida não gostar de nós pelo que somos e que nos decida amar grandemente exatamente por sermos totalmente quem devemos ser.
Para chegar ao amor que tenho vivido ultimamente, foi exatamente assim que aconteceu. Eu dei tudo de mim, simplesmente porque isso é quem eu sou. Do outro lado, recebi muito mais do que alguma vez podia ter imaginado. Desde esse dia, continuei a dar, incondicional e indefinidamente, a cada dia, cada momento, cada oportunidade. Aprendo com cada pequena interação. Com cada conversa e em cada detalhe. Amor não é apenas um sentimento. Amor é a base da interação na vida. A única coisa que faz com que possamos realmente usufruir de todas as pessoas à nossa volta. O tempo que investimos e a vontade que temos em estar na presença de alguém é uma das maiores formas de demonstrar amor por alguém. Isso é o que mais tenho trabalhado por fazer acontecer: desenvolver estratégias e formas criativas para amar à distância, quando estamos longe. E para amar de perto, quando estamos juntos.
Como alguém acabou de me dizer, não importa o que nos vejam fazer. O amor não tem forma. Apenas se demonstra. Apenas se reflete. Apenas é. Quando apenas somos, quando apenas existimos, quando apenas estamos presentes, sem pensar em nada, estamos em plenitude. Em harmonia. Estamos, no final de contas, em amor.
O amor cura tudo!
Já amaste alguém hoje (por exemplo, a ti próprio/a)?