Amizade

Daniel Covas
4 min readDec 9, 2022

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Um tema de que gosto tanto. Sinto-o tão banalizado. Como a maior parte das coisas hoje em dia. Não que tenha perdido o valor, muito pelo contrário. Acredito que todos concordem quando digo que uma amizade é sempre algo que nos fortalece, de alguma ou várias formas. Chamo-lhe banal, porque como quase tudo, no stress do dia-a-dia dos tempos que correm, tornou-se algo ridículo. O nosso uso de palavras é um perjúrio para tudo aquilo que devia ser considerado como importante e valioso. Porque arranjamos sempre uma forma de parecer só mais uma coisa enquanto a temos na mão e dói quando a perdemos.

Começando pelo cliché, sou pessoa de poucos amigos. Mantenho o meu círculo pequeno. E vocês por aí a pensar “que novidade, fazemos todos isso. Aprendemos com a vida a confiar em muito poucos”. Eu sei, comecei com o básico e geral porque sei que todos olhamos para estes aspetos da mesma forma, dada a fase onde estamos na nossa própria vida. Amizade é um laço que se cria, como tudo, com base em algo. Valores semelhantes, gostos similares, uma primeira impressão fascinante. Várias coisas podem despoletar o início de uma amizade. E, como qualquer outra coisa, na vida tudo é fácil de conquistar, é em manter que está o verdadeiro desafio e onde reside todo o trabalho.

Agora que já temos esclarecidos alguns princípios gerais sobre como nos sentimos quanto a este tópico e como se começa uma amizade, há algo primordial em que pode residir alguma diferença: a definição. Definir amizade é por si só uma tarefa hercúlea. Porque afinal, o que percebe o dicionário sobre a forma como eu olho para as pessoas, como me relaciono com elas e que tipo de coisas faço e construo na sua companhia? Pois, absolutamente nada. E as definições generalistas do dicionário são sempre conteúdo sem tempero, tão seco e tão em bruto… é tão melhor, no que toca a tudo aquilo que sentimos, sermos nós próprios a escrever, pela nossa tinta e no nosso próprio papel mental, o significado das palavras. Porque na realidade até, a maior parte daquilo que sentimos nem tem palavras que sirvam como descrição. Amizade para mim é uma dessas palavras. É um misto de tanta coisa. Uma criação única, uma oportunidade de experiência e criação. Algo tão puramente mágico.

Voltando ao cliché, conto os meus amigos pelos dedos das mãos. Não porque seja algo que digo da boca para fora, mas porque tenho em elevada consideração quem está presente para mim em qualquer situação e circunstância. Tomemos o exemplo clássico de tanta boa gente que diz precisamente o mesmo. E que o método comum de abordar um estranho é chamá-lo “amigo, desculpe”; “amigo, venha cá”. Claro, é uma força de expressão. E certamente as atitudes dessas pessoas com estranhos e amigos são completamente diferentes. No entanto, as palavras para os aclamar são precisamente as mesmas. Ainda que devemos acreditar mais em ações do que em palavras, quando estas estão desalinhadas existe uma falha. Se acreditar nas palavras e as atitudes não as comprovam, desconfio das palavras. Se acreditar nas atitudes e as palavras não as corroboram, desconfio das atitudes. Não me cabe a mim julgar quem quer que seja, mas tenho de deixar aqui este importante reparo.

Porque o que desafia uma amizade é a sua manutenção. Ela não se perde pela falta de coisas novas, mas pelo descuido das coisas que a sustentavam. As pequenas conversas, as mensagens ocasionais, as perguntas, por mais normais, clássicas, redundantes, relutantes e óbvias. Um gesto, um carinho, uma expressão. Todo o conjunto de inocuidades que isoladas não têm valor e em conjunto são inestimáveis.

Para concluir, a amizade é a fundação base da nossa vida social. Aquilo que nos mantém sãos e comunicativos fora do contexto puramente pessoal. Temos de continuar a combater este cancro do século XXI, que é o stress, e a amizade é uma das soluções para isso. Para que aconteça, porém, temos de a valorizar na medida das pessoas que temos na vida. Que mais uma vez, como em tudo aquilo que mais é cliché, acredito que estamos em acordo unânime quando digo que as pessoas que temos perto, aquelas que consideramos os reais e verdadeiros amigos, são as melhores e mais especiais pessoas, que merecem ser tratadas precisamente com essa dose e medida de carinho e apreço da nossa parte.

Desafiem-se hoje e conectem-se às pessoas que vos são mais especiais. Quem sabe onde eles ou vocês vão estar amanhã?

Vençam essa simples batalha e sejam um gladiador com um exército a apoiá-lo!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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