Amigo ou inimigo?

A força e a fraqueza que os nosssos dispositivos nos dão

Daniel Covas
4 min readMay 16, 2024

Curioso como, esta semana escrevo duas publicações. E as duas provêm, como inspiração, do mesmo sítio: o ginásio. A de terça-feira, mais inspiradora e empoderadora. A de hoje, mais crítica e reflexiva. Quase como em modo de aviso e precaução. Torna-se muito interessante, no mesmo ambiente, apenas com dois dias de diferença, entender aspetos humanos tão diferentes. Num primeiro dia, um insight poderoso que surge, internamente, através de um estímulo auditivo (o vídeo que estava a escutar). Ontem, fruto da observação enquanto esperava que as máquinas ficassem vagas, aparece uma reflexão, mesmo ali.

Smartphones, smartwatches, smart TV’s, tablets e afins

Os “smart devices” ou traduzindo, os “dispositivos inteligentes”, vieram para revolucionar por completo não só a sociedade e a forma como acedemos a informação, a forma como interagimos e também, mais do que isso, a nossa própria forma de viver as nossas rotinas diárias. Já não precisamos de um despertador para acordar, porque o telemóvel tem um alarme. Já não precisamos de um relógio, porque podemos ver as horas no telemóvel. Já quase não precisamos de uma televisão, porque consumimos o conteúdo de vídeos e séries através do telemóvel e do tablet. O smartwatch que nos permite ter monitorização constante dos nossos dados de saúde (atividade física, batimentos cardíacos, nível de stress e nível de oxigenação) que nos permite receber notificações das apps e também chamadas. Começa aqui a surgir um padrão: a maioria das coisas que fazemos atualmente incluem o uso diário e regular de um dispositivo tecnológico.

Benefício vs prejuízo

Com base no nível de uso que damos aos nossos aparelhos, podemos efetivamente usá-los e aproveitar os seus benefícios ou entrar num uso excessivo e colher os prejuízos que daí advêm. É verdade que são dispositivos inteligentes, aqueles que hoje temos ao nosso dispor, quer seja no bolso quer seja no conforto do nosso lar. Desde os telemóveis até às lâmpadas de casa, passando por uma variedade de outros aparelhos, conseguimos ter tanta coisa conectada nos dias que correm. Isso facilita a vida quotidiana e poupa algum tempo nas tarefas diárias. Robôs de cozinha com receitas incorporadas poupam tempo na confeção de refeições. Luzes inteligentes, persianas inteligentes, tudo conectado a um assistente como a Alexa ou outro tornam muita coisa mais fácil, é certo.

Usados em excesso, este tipo de facilidades tornam-nos complacentes, se não nos mantivermos conscientes do seu uso. É cada vez mais fácil ficar escravo de aparelhos e estímulos, porque as coisas são criadas com esse intuito, fazendo-nos depender delas. E mais, ao usar isso em piloto automático, como parte da rotina, começamos a perder, aos poucos, traços como a nossa ambição, a vontade, a garra, a determinação. Porque nos habituamos a que exista algo para além de nós que faça as coisas. Só precisamos de carregar num botão. Só precisamos de configurar os horários. Só precisamos de dar uma ajuda ou um empurrão e o resto do trabalho é feito por nós. Isso, é muito prejudicial quando se usa de forma inconsciente: atingimos o nível de problemas do primeiro mundo, em que ficamos frustrados, chateados, tristes, zangados e/ou aborrecidos quando não temos bateria num dispositivo. Quando um desses aparelhos deixa de funcionar devidamente ou corretamente. Porque existe certamente uma alternativa para atingir o mesmo resultado: alternativa essa que não nos agrada porque exige que façamos tudo nós mesmos.

Considerações finais — Amigo ou Inimigo?

Para não abusar da escrita e fechar, não é minha intenção que levam esta crítica demasiado a sério. Lembrem-se que os excessos são prejudiciais. Isto foi uma mensagem, um lembrete, para vocês e para mim, do quão importante é estarmos atentos e conscientes das facilidades que a tecnologia nos aparelhos que usamos diariamente nos proporcionam. De forma a reconhecer, agradeceer, valorizar e apreciar isso, usando-as como uma vantagem e de forma útil e ponderada.

Voltando à história inicial, o que me fez chegar a esta reflexão foi uma observação durante o meu treino de ontem. Onde uma rapariga que estava na prensa (a máquina que eu queria usar) usou a “pausa” entre sets para estar no telemóvel. Mensagens, notificações, redes sociais, não sei aquilo que a estimulou e prendeu ao ecrã. Fui adiantand o meu treino com outros exercícios e percebi que ela foi ali, escrava do smartphone durante 10 a 15 minutos. Em momentos assim, simples, os nossos dispositivos tornam-se os nossos maiores inimigos. Mais do que o vício do scroll e de responder às notificações, é o efeito mental.

O exercício produz dopamina de forma natural, para nos estimular a reconhecer a importância que aquela prática tem para nós, a nível de saúde e bem-estar. Os estímulos tecnológicos do telemovel produzem dopamina de forma artificial, numa quantidade bem superior, o que nos desregula internamente, ao nível da produção deste neurotransmissor. O tipo de ligação mental que produzimos com estas pequenas ações, que nos parecem tão inofensivas, têm uma repercussão bem maior do que imaginamos.

Os teus dispositivos inteligentes foram teus amigos ou teus inimigos hoje?

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Daniel Covas
Daniel Covas

Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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