Alto desempenho
Escrevo estas palavras com uma estranha sensação de que a última vez que o fiz aqui, para vocês, foi há uma eternidade atrás. Os dias têm sido tão longos desde a última terça-feira que parece que já passaram umas duas semanas desde aí. Hoje venho com este tema de desempenho e ao mesmo tempo quero também escrever-vos algo do coração, de como vim parar a este caminho de maximizar a minha performance. Algo que até poderão considerar como um desabafo. Como de costume espero não só que apreciem e que, também, retirem algo para vocês.
· Como cheguei a este campo
· O que é o desempenho
· Os pilares da alta performance
Origens
Alto desempenho ou, como é mais comummente conhecido, alta performance, é um tema que surge em áreas especializadas e onde tirar o máximo rendimento daquilo que se faz é essencial à produtividade e resultados. E vai, obviamente, muito além disso. Deixando o seu significado para o ponto seguinte, quero começar por vos contar algo sobre mim e como vim parar a este ramo de eficácia máxima. Desde tenra idade me senti desenquadrado do padrão social normal. Como digo tantas vezes, senti-me sempre “uma peça fora do puzzle”. Aquilo que eu fazia não se enquadrava com o que era suposto. A maneira como eu interagia com os outros não ia de encontro ao que se consideraria a interação normal da minha idade. E cresci durante muito tempo a acreditar que eu não era normal e que algo tinha de estar errado comigo. Entretanto, e acelerando o tempo em pouco menos de uma dezena de anos, ao começar a ter um pouco mais de consciência e a conseguir pesquisar informação para me entender, especialmente a forma como a minha mente parecia funcionar, tão anormalmente, aparentemente. Com nova informação, nova decisão. E consegui, passado todo aquele tempo, deixar finalmente de acreditar que não era normal e passar a acreditar que era simplesmente diferente. Desde aí, foi muito mais fácil aceitar aquilo que me rodeava e aquilo que acontecia.
Ao chegar aos dezassete anos, já com alguma leve dose de desenvolvimento humano entranhado nas veias e alguma compreensão da vida, dentro da capacidade e experiência possível, a escola acabou e estava na hora de arregaçar as mangas e fazer-me à vida. Habituado a não estar nas festas, a manter a minha socialização restrita, virei-me para a única pessoa que sempre esteve presente desde o dia 1: eu próprio. Comecei a questionar-me sobre o que podia fazer para me tornar no melhor que poderia ser. Desde aí até hoje passaram sensivelmente 8 anos e meio. Caramba, ao escrever este número é que caio em mim e entendo há quanto tempo me dedico a ser o meu melhor. Foi não só a melhor decisão que tomei na altura como a melhor decisão que continuo a tomar e a reforçar todos os dias. Foi assim que comecei a abraçar realmente este campo do alto desempenho. Numa altura da vida em que poderia ter escolhido perder-me em tanta coisa como álcool, drogas ou qualquer outro lascivo vício que pode existir, tive a consciência de abraçar o espetro oposto e abraçar o caminho do potencial humano. Para ser o melhor de mim e mostrar a toda a gente o melhor que podem ser também.
O que é desempenho?
Uma palavra muito ouvida em contexto profissional e que se aplica a tantos outros temas também da vida pessoal. O nosso desempenho no trabalho, o desempenho sexual, o desempenho enquanto pai/mãe, desempenho enquanto marido/mulher… é um campo que parece ter a capacidade de nos avaliar no trabalho e de nos julgar na vida pessoal, por assim dizer. E afinal, o que é isto do desempenho? O desempenho está relacionado com a nossa capacidade em executar e cumprir uma determinada tarefa ou objetivo, da forma mais eficaz e efetiva possível, tirando daí o maior rendimento. É uma métrica altamente importante nas empresas de topo, nos desportos de elite e nos top performers das maiores áreas e indústrias que existem. Todos nós desempenhamos a um certo nível, qualquer que seja a função, tarefa ou papel. A parte que não é assim tão boa é que, naturalmente, não temos um desempenho sequer mediano na maior parte das coisas que fazemos. Podemos ter um ou dois talentos naturais e nessas áreas temos um desempenho extraordinariamente acima da média. No resto, é precisamente como disse. No entanto, as boas notícias é que, tudo é treinável. Ou seja, em qualquer tarefa, qualquer papel, qualquer função que é da nossa responsabilidade, podemos treinar um leque de competências associado que nos vai permitir aumentar significativamente o nosso desempenhado em dita coisa. E esta é realmente a parte que mais me fascina no que toca ao nosso desempenho. Com a quantidade de dedicação, empenho, entrega, disciplina, aprendizagem, sacrifício, tempo e ação, podemos tornar-nos em performers acima da média (no mínimo) até top performers do mundo (no máximo).
Pilares da Alta Performance
Todos nós, como terminei na referência, podemos tornar-nos em “grandes desempenhadores” nas nossas áreas ou em qualquer campo que desejemos (a única variável será o tempo que demoramos, porque numa área em que tenhamos as bases consolidadas conseguimos atingir a excelência mais depressa do que numa área integralmente nova). Existem alguns degraus estudados dentro daquilo que se consideram as referências mundiais da alta performance, que todos têm em comum, aspetos esses que se consideram como os pilares da alta performance:
- Produtividade: Alguém que vive em alta performance é alguém extremamente produtivo. Este é o indicador mais visual de que estamos realmente em alta performance, quando estamos a traduzir os nossos esforços, metas e objetivos em algo real para nós. É não só um indicador como um grande guia para quem ambiciona ser um alto performer, pois é a sede de atingir o objetivo que move e ao mesmo tempo que comprova que estamos a viver em alto desempenho.
- Pessoas: Neste campo, a referência diverge em vários aspetos. Exercer influência positiva, criar relações e demonstrar empatia, entusiasmo de forma a encorajar outros. Influência positiva é precisamente o facto de inspirarmos quem nos rodeia quer pelas nossas palavras quer pelas nossas ações. Alta performance é algo que é muito para nós e vai sempre dar-nos mais a nós próprios do que a qualquer outra pessoa. No entanto, as nossas ações acabam sempre, de alguma forma, a inspirar, motivar ou causar impacto noutros. E isso é o melhor side effect que que provém daqui. No que toca a criar relações, expandir a nossa network, a nossa rede de contactos é algo cada vez mais essencial, quer seja simplesmente porque conhecer pessoas e as suas histórias é algo para lá de incrível e também porque, com as pessoas que conhecemos podemos, muitas vezes, alavancar os nossos horizontes, pessoais e profissionais, criando relações de ganho mútuo. Relativamente a desenvolver empatia e entusiasmo de forma a encorajar outros, tem simplesmente que ver com o trabalhar das nossas capacidades sociais. Deste lado fala-vos uma pessoa que continua, apesar de tudo, a considerar-se maioritariamente um lobo solitário e que ainda assim, reconheço o quão importante, benéfico e positivo é nós termos estas interações e sermos bons no que toca ao campo social. Empatia e entusiasmo são capacidades muito poderosas neste âmbito porque a primeira reconhece o outro e a segunda dá-lhe alento para ser quem é. E serve para dar origem ao tal encorajamento, que acaba por ser um reforço positivo e ao mesmo tempo uma forma de dar ainda mais poder à pessoa ou pessoas que temos perante nós. Afinal de contas, todos nós apreciamos mais um ambiente quando existe um entusiasta empático que encoraja toda a gente.
- Psicologia: A forma como estamos a nível de mentalidade, sobretudo. O quão saudável mantemos a nossa mente, a nível de valores, conteúdo consumido, e, acima de tudo, congruência com a nossa verdade. É um campo extremamente importante. Aquele de que tanto fala, onde podemos encaixar o mindset, que é provavelmente a palavra mais famosa nos dias que correm para referir aquilo que é o conjunto das nossas crenças, valores e identidade própria.
- Fisiologia: A forma como estamos por fora. O cuidado que temos com o nosso corpo. A atividade física, o nível da nossa alimentação e do nosso descanso. São mais um conjunto de simples atividades que têm muito que ver com o nosso alto desempenho. Tudo começa em nós e se não tratamos devidamente do nosso corpo não podemos esperar dar o nosso melhor se não estivermos no nosso melhor (estas palavras aplicam-se a este campo e ao anterior, em especial).
- Presença: O conjunto da nossa vitalidade geral, corpo, mente e espírito. Em que nível estamos, no momento presente, no que respeita a cada um destes campos. Esta autoanálise permite aumentar o nosso patamar de consciência e gerar tranquilidade e sobretudo plenitude, de forma a elevar a nossa performance a novos níveis.
- Propósito: É um tema muito cliché e quase obrigatório no mundo do desenvolvimento pessoal, ter o nosso propósito resumido a uma frase ou conjunto de frases. No entanto, para cada área da vida, podemos ter diferentes propósitos e com novas fases de vida, o propósito pode sofrer alterações. Ainda assim, é bom mantermos algo em mente de forma a aguçar o nosso foco. Afinal de contas, fazer algo por uma razão tem uma sustentação diferente de fazer algo por razão nenhuma. Assim, é bom termos um (ou vários) propósitos presentes na nossa vida e revê-los sempre que sentimos mudanças a ocorrer na nossa vida, pois isso pode dar origem a que o propósito se altere também.
Estes pilares não têm uma ordem de importância. Todos eles, em conjunto, formam a pedra basilar daquilo que é o alto desempenho. Dentro de cada um destes pilares temos, claro, temas como a disciplina e a resiliência (psicologia), os “comos” estão todos na produtividade, na atividade que fazemos. E por aí em diante. Com a quantidade de senso comum mínima e a vossa brilhante inteligência, as questões que vos surjam sobre coisas importantes que aqui não referenciei, vocês conseguem inserir num dos pilares. Até podem usar a vossa intuição (esta é uma capacidade que se divide entre a psicologia e a presença, já que a intuição é algo do momento).
Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.
Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.