Aceitação

Daniel Covas
6 min readDec 12, 2022

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Estamos de volta, para mais uma semana. E hoje começamos com mais um tópico que não é suficientemente valorizado. E que tendencialmente a sua falta nos arrasta, nesta sociedade de movimentação stressante e incessante busca da perfeição. Passamos a vida a correr atrás de um ideal, com a culpa dividida entre o passado, a gerar frustração, e o futuro, a gerar ansiedade. E deixamo-nos viver nesse cocktail de emoções e descargas hormonais, sem parar, um segundo que seja, para olhar para aquilo que somos neste momento. E aceitar isso.

· Onde se perdeu a aceitação?

· Importância da aceitação própria

· Importância da aceitação alheia

Onde se perdeu a aceitação?

Gostava de ter uma resposta objetiva a esta pergunta. Não tenho. Acredito que se foi perdendo. Como a maior parte das coisas que tomamos como garantidas na nossa vida, assumimos que a sua existência é impossível de cessar, independentemente das nossas ações. E é assim que se perde. Tudo aquilo para onde não direcionamos a nossa atenção, tende a findar. E a aceitação caiu nesse buraco sem fundo que é o esquecimento. A evolução e a exposição vieram contribuir em grande parte e ainda mais para tudo isto. A objetificação e materialização daquilo que é a imagem corporal (que é um dos principais aspetos da nossas aceitação) tem sido tão mundanamente desrespeitada. Criaram-se padrões de um nível insustentável a longo prazo. E tudo isto começa, obviamente, a mexer com as pessoas ao nível psicológico. Começam a surgir as perguntas de: “Porque não sou assim?”; “Porque não consigo atingir o nível X ou Y, como aquela pessoas que vi na TV/Instagram/Facebook/TikTok?”

Assim, não só se vai a nossa aceitação a nível físico, como também começa a cair por terra tudo o resto. A nossa parte mental, espiritual, psicológica, tudo desvanece. E perde-se realmente a aceitação. Por nós próprios e pelos outros. E começamos a viver num estado de desrespeito, por perdermos precisamente essa aceitação. Porque quem não se aceita a si próprio na totalidade não consegue aceitar ninguém à sua volta. Então, o que podemos fazer?

Importância da aceitação própria

A nossa maior capacidade, enquanto seres evolutivos, é a adaptação. E aqui, neste caso em específico, o que temos de fazer é saber parar de olhar à volta. Como em praticamente tudo o que é importante na nossa vida, olhar para dentro de nós normalmente dá-nos sempre mais respostas (ainda que sejam desconfortáveis) do que a olhar à volta. Como terminei no ponto acima, quem não se aceita a si próprio não aceita mais ninguém. Daí a importância da aceitação própria. Que tem de ser, claro, o primeiro passo. Há que aceitar quem somos. Aceitar aquilo em que acreditamos. Aceitar a forma como somos. Aceitar o nosso corpo. Aceitar a nossa mente. Aceitar o nosso ser na totalidade. Muito importante, isso não significa simplesmente parar no tempo, agora aceito quem sou, está tudo certo. NÃO!

Aceitar quem somos é apenas o primeiro passo para uma brilhante jornada. Aceitação é a nossa forma de gratidão pelo ser que somos. A partir daí, podemos aceitar o corpo que temos e desejar que fique melhor. Treinamos para isso. Podemos aceitar a mente que temos e desejar que seja ainda melhor. Treinamos para isso. Podemos aceitar aquilo em que acreditamos e ainda assim desejar acreditar em coisas novas. Treinamos para isso. Podemos aceitar quem somos e a forma como somos e ainda assim desejar ser diferentes. Treinamos para isso.

O ponto onde estamos pode não ser o ponto onde desejamos estar. E, estando lá, temos de o aceitar. Caso contrário, nunca o vamos conseguir deixar. É um pouco como lutar contra um elástico. Estamos presos e, em vez de o cortar, estamos a correr na direção oposta a ele. Mais tarde ou mais cedo, voltamos ao ponto inicial. E dói. Por isso, começa pela aceitação. Escolhe cortar esse elástico. A partir daí, és livre de correr na direção que quiseres. O próximo passo, vai ser para a publicação de sexta-feira.

Photo by Katie Moum on Unsplash

Importância da aceitação alheia

Claro que, não estalamos os dedos e nos aceitamos de um dia para o outro. Requer prática. Intenção. Determinação. Foco. Disciplina. E vamos assumir que já alcançámos um nível de aceitação connosco que nos deixa leves o suficiente para viver a nossa vida sem preocupações externas. Agora, temos de aprender a aceitar a aceitação dos outros. Sim, é precisamente isto. Enquanto seres sociais, temos de entender que a interação humana faz parte de nós.

Eu aceito-me. Isso não significa que vou ignorar as pessoas à minha volta. Significa que, independentemente do que elas escolham fazer, eu vou em primeiro lugar respeitar (porque todo o ser humano vê o mundo de uma maneira própria) e depois entender se devo ou não aceitar aquele comportamento. E aceitar não tem a ver com dar uma opinião ou julgar. Tem simplesmente a ver com o enquadramento de um comportamento naquilo que é a minha perspectiva da vida. Não podemos tolerar aceitar comportamentos de outrém que nos influencem de uma forma menos positiva. Porque a minha ação perante alguém só vai até onde o outro me permitir. Existe uma liberdade coletiva e uma individual. E a palavra de ordem para a manutenção da liberdade individual é, no mínimo, respeito.

Agora, tudo aquilo que alguém faz que não nos influencie, bem, cabe-nos aceitar isso da mesma forma que nos aceitamos a nós. Pondo de lado os medos, os receios, os julgamentos, as opiniões (sobretudo as opiniões). Porque cada um que arrisca aceitar-se, neste mundo de cobardia coletiva, é uma dádiva que faz refletir o poder próprio da sua alma, para iluminar um mundo que talvez não esteja totalmente preparado para o receber. No entanto, quando nós queremos algo, cabe-nos a nós tomar a iniciativa de atingir isso. A aceitação hoje em dia é um ato de coragem própria. E um ato de iluminação social.

Porque mesmo que muitos possam não entender, os poucos que reconhecerem vão sentir que ainda existe esperança na humanidade. E isso é o mais importante perante tudo aquilo que a aceitação alheia é e que nos pode trazer. Temos de esquecer a ideia de que somos todos iguais. Não somos. Temos sim todos os mesmos recursos disponíveis, dentro de um mesmo meio. E todos somos diferentes. Porque cada um de nós tem algo único a oferecer às pessoas que o rodeiam e ao mundo.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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