A coisa mais corajosa que já fiz foi…

Frases para contemplar

Daniel Covas
6 min readApr 25, 2024

Foi há uns meses atrás, em Elvas, numa espécie de sala de aula, que me entregaram um papelinho com a frase que estou a usar como título para esta publicação. Para trazer algo novo, algo diferente.

Um contributo, mais do que enquanto reflexão, enquanto desafio. Para te colocar numa posição de poder, ainda que a partir de um estado de desconforto. Isto pelo facto de eu saber que na atualidade, sentirmo-nos corajosos ou poderosos, é algo tão fora da norma que parece ser mais motivo de julgamento alheio do que orgulho próprio. Desvalorizamos o nosso poder pessoal em prol de uma harmonia social desmotivadora e de manutenção, que procura a estabilidade e a certeza ao invés do progresso e da inovação.

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Coragem

Falamos de coragem como um sentimento. Um valor. Até a comparamos a um músculo. Coragem é tanta coisa e pode ser observada e testemunhada de tantas formas. Pesquisei no dicionário e acredito que o que lá está escrito não faz jus, nem de perto, ao que esta palavra realmente significa. O dicionário é tão técnico (e necessário de assim o ser, para manter as coisas objetivas e académicas). Porém, tem a característica menos boa de retirar o poder que muitas expressões e vocábulos possuem, ao descrevê-los de tal forma. É por isso, precisamente, que não vou ousar transcrever o que li. Vou deixar aqui o que me vem à mente como um exemplo (entre tantos outros que podem encaixar) de definição de coragem:

O ato de fazer o que acreditamos verdadeiramente ser a melhor coisa que temos a fazer, para lá de tudo aquilo que consideramos que possa ser um entrave, de forma a obter o resultado desejado.

Claro que existem duas variantes daquilo que é a coragem: a diferença entre a identidade e o comportamento, como é comum surgir neste tipo de cenários. O que quero dizer é que, por vezes, sentimos ou acreditamos que somos corajosos (identidade). Outras vezes, realizamos atos de coragem (comportamento). Ações corajosas potenciam a crença na nossa identidade de corajoso/corajosa. Uma coisa alimenta a outra. Acreditar que somos corajosos aumenta a chance de que o nosso próximo comportamento seja de coragem. Usa a tua identidade que valoriza a coragem aliada a comportamentos corajosos para veres este valor crescer na tua vida.

Probabilidade, possibilidade e execução

Quantas vezes procuramos a certeza do resultado muito antes de trabalharmos a capacidade e habilidade que nos permite executar a ação e/ou série de ações que nos vão levar lá? E depois não entendemos a importância de terminar uma coisa antes de a começar. Temos uma complexidade dentro que acaba a ser demasiado complexa até para nós próprios de a compreender. É por isso que é tão importante a descontrução, desmistificação e o autoconhecimento. É cliché? Pois, que seja. Isso não o impede de ser verdade. Estes três conceitos que mencionei simplificam a forma como encaramos as coisas na nossa vida. Seja a tomada de decisão, o abraçar de um novo caminho pessoal ou profissional ou até a forma como lidamos com os outros. Isto porque nos permite entender que nós não somos o centro do mundo, somos só a peça fundamental da nossa própria vida. Da mesma forma que cada outra pessoa com que nos cruzamos é a peça fulcral da sua. Paradoxal novamente, eu sei. Como podemos ser o fundamento do nosso mundo sem ser o centro dele? Bem, de forma simples e sucinta, o que está cheio, transborda. Quero com isto dizer que, ao nos trabalharmos e preenchermos em primeiro lugar, a partir do nosso interior e de quem somos, chegamos a um ponto em que, ainda que sejamos a nossa prioridade, acabamos a dar aquilo que nos encheu, porque já não cabe em nós.

Arrepio-me só de escrever estas palavras. Porque partilhar foi, durante tanto tempo, um ato doloroso, aprisionante e sofrível para mim. Até perceber e integrar no meu ser que, mais do que vulnerabilidade ser uma das maiores forças humanas, é só a palavra que dá nome à nossa realidade pessoal interna. Quando mostramos verdadeiramente quem somos, com tudo o que isso acarreta — os altos e baixos, todas as experiências que temos acumuladas, para lá de serem ou não positivas, damos espaço, através de um ato de coragem, de transbordar aquilo que somos. Que não é uma verdade universal, é “SÓ” um ato inspirador. Um ato vulnerável. Um ato de coragem.

Este ponto tem um título nada a ver com isto. Eu sei. Ou então tem tudo a ver. Os termos “probabilidade” e “possibilidade”, apesar de várias vezes utilizados em contextos sememlhantes e quase como sinónimos, são termos que remetem para definições diferentes, especialmente dentro do mundo da matemática. Possibilidade está relacionada com o binário de “existe ou não existe”. Probabilidade, por outro lado, parte do pressuposto de que um acontecimento tem uma determinada probabilidade de acontecer. Consideremos então uma ação baseada em coragem para explorar o que são estes termos.

  • Quando surge a possiblidade de agir perante uma determinada situação, posso agir com coragem ou sem coragem. Isto é possibilidade.
  • No caso de agir com coragem, a probabilidade de obter o resultado desejável é maior do que agindo sem coragem.

Ambos os cenários, seja o de possibilidade seja o de probabilidade, têm um pressuposto comum: execução. Nada acontece se nada acontecer. É caso para dizer que, por muito que desejemos alguma coisa, é preciso realizar uma determinada ação para obter isso. Portanto, quando surgir a possibilidade de agir com coragem, agarra-a e usa-a a teu favor. Queres aumentar a probabilidade de ver a tua coragem recompensada? Foca-te em melhorar a capacidade e habilidade aliada à ação que decidiste realizar.

E quando errares (sim, porque vais errar), lembra-te que tu não és o erro. Tu não és errado. Tu não estás errado, porque também não é um estado de ser. O erro é uma discrepância entre o resultado esperado e o resultado obtido. Não passa disso. O erro é uma experiência. E se tudo tiver de começar com um “erro”, que assim seja. Porque quando se tem consciência que o erro é só um resultado desalinhado, esse resultado não permanece como um erro durante muito tempo. Durante tanto tempo da minha vida fiz isso a mim próprio. Achei que era um erro. E esse foi o meu erro.

…ser eu próprio!

Esta foi a forma como completei a frase que deu título a esta publicação, no dia que descrevi na introdução. Ser eu próprio: assumir os valores que realmente valorizo. Assumir as crenças em que realmente acredito. Confiar em mim e nas capacidades e habilidades que possuo. Confiar profundamente nas pessoas que tenho à minha volta. Alinhar o meu propósito com a minha missão e trabalhar para tornar isso realidade. Essa acredito que é, não só a coisa mais corajosa que fiz como é a decisão mais corajosa que eu tomo diariamente.

Não existe uma forma certa de completar a frase do título. Esta é a minha. Eu acredito que ter esperança na humanidade e ser um positivista neste mundo é cada vez mais um ato de coragem. Confiar e acreditar no potencial alheio, mesmo correndo o risco do julgamento e do descrédito de poder possuir segundas intenções (sendo elas puramente especulativas e imaginárias), é um ato de coragem. Aclamar ao melhor que temos dentro, enquanto indíviduo e enquanto comunidade, é um ato de coragem. No final do dia, todos temos algum tipo de sentimento de que podemos ser mais do que somos. E é real, em qualquer fase da vida. Podemos, normalmente, ser mais do que já somos. Esse mais, porém, é subjetivo, porque depende intrinsecamente daquilo que valorizamos e acreditamos mais, que pode mudar com o tempo e a nossa experiência de vida. O que nos separa de ser esse mais, por pouco ou muito que esse mais seja, pode ser apenas uma atitude corajosa. Uma decisão corajosa. Uma conversa corajosa. Uma ação corajosa. O renascer de um espírito corajoso, pode mesmo ser o teu mais. Hoje termino como comecei, deixando-te um desafio na forma desta pergunta:

Qual foi a coisa mais corajosa que já fizeste até hoje?

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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