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Daniel Covas
6 min readDec 13, 2022

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Claro que a próxima publicação que ia aqui deixar, seria precisamente o follow up ao desafio do fim de semana que passou. Uma experiência que aprecio desde o ano passado e que continuarei a fazer, anualmente. Mais do que correr, do que ser um desafio físico e também mental, é toda uma lição de vida ao longo de 48 horas.

· A jornada física e mental

· A lição do desafio

Jornada Física e Mental

Correr 6,5km, a cada 4 horas, durante 48 horas. É relativamente simples de compreender. E as regras são apenas e só essas. Desconstruindo os números, percebemos que são 12 corridas, perfazendo um total de 78km ao longo de um fim de semana. Isto é a teoria. Na prática, às 4 da manhã deste sábado, dia 5 de março, eu estava a iniciar a primeira corrida. Comecei por fazer uma gestão de ritmo para que a corrida durasse sensivelmente 40 minutos. De forma a que, ao terminar, entre os alongamentos e o banho, totalizasse uma hora. O que ia representar 3 horas de descanso entre corridas. Para comer, descansar e fazer o que quer que seja.

Começar de madrugada é duro. Temos de enfrentar o frio. O escuro. Superar a vontade de ficar parado, simplesmente. A segunda corrida iniciou às 8 da manhã. Já tinha claridade e continuava a ter o frio e o vento a enfrentar. O joelho esquerdo começou, desde muito cedo, a dar sinais de que não estava a gostar muito da atividade. Ignorei-o no início e continuei. A terceira e quarta corridas são sempre as mais agradáveis, por serem durante o dia (às 12h e 16h, respetivamente). Com a quinta corrida, volta a cair a noite. Começa às 20h. A quinta corrida corresponde ao momento do início de domingo, à meia-noite. A sexta corresponde a metade do desafio. Por esta altura, leva-se uma distância acumulada de 39km corridos num período de 24h. Com 39km em falta nas 24h restantes. A deprivação de sono começa a pesar. E afetou-me, fazendo com que saltasse a corrida das 8 da manhã. Voltei ao ataque às 12h de domingo, com 36h de desafio. Uma corrida bastante desafiante, superada entre momentos a andar e momentos a correr. Vontade de desistir. E num certo momento disse que, custasse o que custasse, ia terminar aquela corrida. E foi o que aconteceu. Algures entre a quarta e quinta corrida, o joelho direito uniu-se ao esquerdo na manifestação da paragem deste desafio. Eu continuei a batalhar contra eles. No entanto, mais um ano, eles levaram a melhor sobre mim. Afinal, sem joelhos não consigo correr. A nível geral, concluí sete corridas, com um total de 45,5km corridos.

Mentalmente, aquilo que correu na minha mente foi toda uma montanha russa de pensamentos e emoções. Comecei com um bom ritmo, o que reforçou a crença de completar o desafio. Naquele momento, a dor do joelho era bastante tolerável. Ao longo das corridas, com o cansaço a acumular, essa crença começou a sofrer alguns golpes, aliada ao seu mais forte combatente, a dor no joelho. A alimentação contribuía para não me sentir propriamente debilitado a nível físico e equilibrava o cansaço. No entanto, mais uma vez, era o joelho quem fazia a balança pender para o lado de abandonar o desafio, mais uma vez. Comecei a pensar na extensão possível do que podia acontecer. A cada corrida, a cada passo, o joelho fazia-se sentir na sua total angústia, nas últimas corridas até em especial na parte de trás da perna. O que significa que, cada vez que existia um movimento de flexão ou extensão da perna, cada passo, por exemplo, gerava uma sensação de dor. Na minha mente, havia uma batalha constante a cada passo, a cada segundo, entre parar e continuar. Até que, ao terminar aquela sétima corrida, decidi entregar a vitória do desafio à dor e manter a minha vitória sentimental de superação e a vitória conjunta de mais uma doação bem conseguida em prol do trabalho de mais uma associação.

Lição a retirar

De cada desafio, de cada jornada, de cada acontecimento da nossa vida, temos sempre algo a retirar. Quando nos propomos a desafios que saem fora da norma, e vou mais uma vez abordar esta experiência a nível físico, aquilo que vivemos ao longo do processo dá-nos algo e tira-nos algo. Tudo o que nos faz crescer, tem um custo. Tudo na vida o tem. Neste caso, o custo inicial de um desafio é a nossa decisão em fazer parte, em participar. Paguei esse preço ao me levantar no sábado às 02:30 da manhã.

Depois, à medida que o desafio se desenrola, os custos aumentam. Temos de sacrificar um bom descanso. Temos de sacrificar o nosso corpo na medida em que vamos colocar um volume de exercício superior ao normal, num espaço de tempo concentrado. Temos de ter as nossas refeições preparadas de forma a poupar o nosso tempo para repousar. E quanto mais avançamos no desafio, mais difícil se torna, maiores os custos e sacrifícios.

Photo by Zhifei Zhou on Unsplash

Claro que, existem benefícios. Quando os sabemos ver e valorizar, sobretudo. Um desafio é sobre a nossa entrega inicial, sem qualquer garantia de resultado no final. É sobre a nossa fé e uma promessa de que, quando chegarmos ao outro lado, as coisas vão estar diferentes. Não melhores, não piores. Diferentes. Quando, mais um ano, me propus a isto e decidi treinar e fazer uma doação à Associação Salvador, eu não sabia como ia correr o desafio. Não sabia quais as condições em que o ia realizar. Não sabia se alguém ia estar disposto a contribuir para a doação para esta associação. E ainda assim, agarrei-me ao que estava no meu controlo. Treinar, planear alimentação, promover a doação. Aos poucos, as coisas começaram a surgir. Comecei a correr, os treinos começaram a dar frutos. Chegaram as primeiras doações. Até ao momento do desafio. E, ao terminá-lo, com toda a entrega, sem pensar em mais nada, para além de dar o melhor de mim, inspirar e impactar, surgiram os olhares atentos de quem me acompanha. As mensagens de quem se importa. A força de quem me valoriza. E, chegado ao final, retiro a lição. Uma lição de superação, por ter corrido mais de 40km com apenas um joelho saudável. Uma lição de organização, por ter conseguido alimentar-me da melhor forma, alongar, descansar e fazer o que tinha a fazer durante os períodos entre corridas. Uma lição de humanidade, por saber que continuo a ter pessoas ao meu lado e à minha volta que me apoiam, valorizam, suportam e contribuem para um mundo melhor, não só com palavras e também com ações.

É isto. De cada vez que nos propomos a algo, que fazemos algo, que nos acontece algo, do outro lado, independentemente do resultado, temos uma ou mais lições para retirar. Aprendizagens que nos permitem ser melhores e fazer diferente no futuro. Este tipo de desafio dá-nos isso. Coloca a vida em perspetiva e leva-nos para um local, a nível mental, onde não existe nada para além de nós e da nossa vontade de superação própria.

Quero deixar-vos o final deste post com aquilo que será o final de todos os posts daqui para a frente, ao longo do ano, para vos lembrar continuamente: Tu és o que tu quiseres ser. Só tu és tu, e esse é o teu super-poder. Cabe-te a ti guardá-lo ou usá-lo.

Gladiadores, este ano promete o mesmo que qualquer outro antes dele e o mesmo que qualquer outro depois: absolutamente nada. Não é o ano, não é o mês, não é a semana, não é o dia, não é a hora, não é o minuto, não é o segundo que define a nossa vida. Somos nós. É cada um de vocês. Vou manter esta linha de pensamento nos posts ao longo do ano e continuar a criar e a entregar-vos conteúdo para que, de alguma forma, vocês consigam pegar nisto e alterar algo. O vosso estado. A vossa condição. As vossas circunstâncias. O mundo atual dá-nos oportunidades a todos os níveis para sermos muito bons em praticamente tudo. E estimula-nos, ao mesmo tempo, a querer tudo “para ontem” e de mão beijada. Um paradoxo contra o qual temos de lutar diariamente. O que se constrói rápido perde-se mais depressa. O que se constrói a um ritmo firme não só vale a pena como também tem uma base para durar gerações. Um legado desenvolve-se assim. Deixem cá algo que possa viver depois da vossa vida e que carregue a vossa essência por gerações e gerações.

Eu vs EU. Que ganhe o melhor. Vão vencer!

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Daniel Covas
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Written by Daniel Covas

Mental Coach, Behaviour Analyst, Digital Strategist. Beat the Mind Founder. https://www.instagram.com/danny_covas/

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